17 - Manter o profissionalismo

            Natanael não conseguiu dormir direito, quando o sol bateu na janela rápido acordou, reconheceu que não era seu quarto, não tinha sido um sonho com Catherine, foi real, sentiu seu braço dormir pelo peso dela ainda dormindo na mesma posição que deitou, tentou esquecer o formigamento do seu braço olhando para o belo corpo de Catherine, não conseguia a ver com tanta clareza, por causa de sua miopia e se lembrava de cada detalhe que se iniciou na porta e acabou na cama. Quase uma hora depois ela se mexeu, ficou de costas para ele, livrando

finalmente seu braço.

            Devagar ele sentou na cama, pegou seus óculos que estava sobre o criado-mudo e seus olhos, agora com a visão nítida, puderam percorrer por todo o corpo de Catherine, por ela estar dormindo profundamente, algo além do desejo chamou atenção de Natanael, as tatuagens dela, da perna direita que iniciava no tornozelo e terminava perto da bunda, depois as duas pequenas tatuagens no braço, pareciam ter significados, ele ficou curioso para descobrir e por um bom tempo ficou a analisando.

            Até que finalmente ela acordou, se espreguiçou devagar ficando de barriga para cima, Natanael ficou corado por ver seus volumosos seios, depois que ela coçou os olhos reparou que as bochechas dele estavam bem avermelhadas, manhosa ela ficou de joelhos perguntando:

- Qual é a temperatura de hoje?

- É... Estou sentindo calor – ele demorou um pouco para responder.

- Bom dia – ela desejou virando de costas puxando o lençol.

- Bom... – ele não conseguiu terminar de desejar\, ela foi para o corredor em direção ao banheiro.

            Sem saber direto o que fazer ele vestiu a cueca, arrumando suas roupas, foi impedido de colocar as calças,

Catherine escovando os dentes perguntou:

- Não é melhor tomar um banho?

            Natanael assentiu, estava com tanta timidez e insegurança que não sabia como dizer algo para a bela Catherine enrolada no lençol. Sem jeito ele pegou suas roupas e as levou no banheiro, quando ele estava prestes a fechar a porta e pensava em trancar, ela mandou em voz alta:

- Não tranque\, preciso terminar de escovar os dentes!

            Catherine calçou os chinelos, ficou olhando para cama, brevemente se lembrou da noite anterior, segurando seu celular e ainda escovando os dentes foi para o banheiro, Natanael virou de costas no minúsculo box, Catherine achando engraçado pediu:

- Me dá seu dedo.

- Eu sou novo demais para me casar.

- Agora você faz piadas – ela disse abrindo o box – O indicador engraçadinho.

            Natanael também ficou surpreso consigo mesmo pela piada, geralmente ele não tinha senso de humor, estendeu seu indicador, ela colocou pasta de dente, virou de costas, colocou o lençol dentro do cesto de roupas sujas, nua entrou no box perguntando:

- Tem lugar para mim?

            Ele engasgou, estava inacreditável com a naturalidade dela e ao mesmo tempo envergonhado por ficar excitado, Catherine rindo pegou o sabonete e disse:

- É só um banho não quero te matar.

- Eu... Não... Esquece... – ele gaguejou tirando rapidamente o sabão do corpo.

- Ótimo o chuveiro só meu – Catherine brincou entrando totalmente no chuveiro.

- Posso pegar essa toalha.

- Não\, tem toalhas limpas no balcão – ela apontou para o balcão que ficava abaixo do lavatório.

            Ele pegou a toalha, ficou de costas e a ouviu perguntar:

- Você está bem?

- Estou sim – ele respondeu vestindo rapidamente suas roupas.

- Não vai perguntar se estou bem?

- Você me parece bem – ele respondeu tentando evitar de olhar para ela.

- Eu dormi bem\, gosto de dormir acompanhada\, morar sozinha não é tão bom as vezes\, não tem ninguém para conversar ou abraçar quando a luz acabar\, ou alguém para fazer silêncio junto... Acho que estou bem mais do que nos outros dias – ela contava lavando os cabelos.

- Hmm... Eu... Vou te esperar lá fora – ele decidiu e saiu como alguém que corre do bicho papão.

            Catherine demorou mais no banho, ficou desconfortável com todo o silencio e timidez de Natanael, milhares de perguntas se passaram em sua cabeça, imaginou que ele já teria ido embora de mansinho e ela só saiu do banheiro quando estava bem arrumada, com os cabelos já secados do secador, maquiada, perfumada e usando apenas chinelo.

            Natanael a olhou dos pés à cabeça, com muita atenção e indiscreto, as bochechas avermelhadas agora eram de Catherine e sem jeito ela disse:

- Eu pensei que você... Não estaria me esperando aqui...

- Era melhor eu ter ficado no sofá – ele comentou virando de costas indo em direção a sala.

- Fique onde quiser – ela percebeu que ele não entendeu que pensava que a tinha deixado sozinha.

            Catherine vestiu um vestido simples e largo, amarrou o cabelo, rápida arrumou a cama e perguntou:

- Está tão faminto quanto eu?

- Estou com fome – ele respondeu não entendendo se era um trocadilho malicioso.

- Ótimo\, come ovos mexidos?

- Não.

- Cereal?

- Cereal é ótimo.

- Com leite?

- Não\, sem leite\, assim vira mingau\, não gosto!

- Sim.

- E para beber?

- Leite gelado com Toddy está bom – ele tinha visto o achocolatado no armário.

- Ok...

            Ela cuidou do café deles, em silêncio eles comeram, ele estava tão sem jeito que somente olhava para pote que ela tinha colocado cereal, enquanto ela se distraia com vídeos de beleza no celular, quando ela finalmente terminou de comer, fez a pergunta que o colocou na parede:

- Não vai falar nada sobre o que aconteceu ontem?

- Eu não ia... – ele respondeu largando a colher sentindo seu coração disparar – Mas já que você é cheia de perguntas de manhã\, foi incrível o que aconteceu.

- Incrível... – ela repetiu pensativa – Ontem não me respondeu o que eu sou para você.

- Sua memória é incrível também\, você é como uma funcionária.

- Que sexy\, temos um caso aqui de chefe e funcionária.

- Você já tem isso com o supervisor da biblioteca.

- Nossa... Piadas e agora sarcasmo\, o que vai fazer em seguida? Dançar? Cantar?

- A noite foi incrível\, você é incrível\, mas não podemos fazer isso de novo.

- Não podemos? Achei que era novo demais para casar\, já é casado?

- Você tem talento para deixar as pessoas desconfortáveis\, deveria ser policial – ele comentou puxando a gola da camisa – Não sou casado\, não podemos fazer isso de novo\, porque precisamos achar Clarice\, não podemos nos distrair\, ficamos mais de dez horas sem mexer nos arquivos\, isso significa que não temos um progresso.

- Tão determinado a achar ela... Sua melhor amiga? Amor proibido? O que ela era sua?

- Isso é o que chamam de ciúmes? Tem ciúme por eu querer tanto achá-la?

- Eu nunca sinto ciúme – mentiu\, pela primeira vez\, ela sentiu o que ela odiava que sentissem dela – Só que Natanael... Eu estudei você... Amigo muito distante de Clarice pelo que parece... Então deve a amar e mantiveram segredos juntos.

- Basta! – ele bateu na mesa – Ela é uma mulher desaparecida e como todas as mulheres que desaparecerem\, precisam ser salvas\, encontradas e justiçadas! Eu pago você para ser meu braço direito nessa investigação e não quero achar outra pessoa!

- Eu deveria ter deixado você ir embora ontem à noite se eu soubesse que me trataria como um caso qualquer!

- Eu não disse isso!

- Não preciso de palavras claras para entender que dessa vez o consolo fui eu!

- Não Catherine... Cat – ele amansou a voz – Agora eu entendo porque seu ex te chama de Catlove\, você é incrível\, um amor\, gata... Mas eu não posso me distrair\, talvez depois que acharmos Clarice.

- Eu não sou distração\, não sou sua funcionária\, não sou sua Catlove e não vou te esperar quando acharmos Clarice! – ela disse ficando de pé empurrando a cadeira – Você me paga para fazer coisas ilegais\, porque sabe que não existe uma pessoa tão ferrada quanto eu nesse mundo para te ajudar e sou uma suspeita de qualquer jeito\, acho melhor você sair!

- Eu sou melhor com coisas não humanas Catherine\, sou fechado demais para relações tão intensas como você merece\, entretanto\, gosto muito da franqueza\, nada disso foi mentira\, foi uma das coisas mais reais que vivi e eu não quis magoar você – ele disse se distanciando notando o olhar tristonho de Catherine.

- Vamos ser como antes\, você longe me dando ordens\, será melhor... – ela disse o seguindo.

            Em silencio eles foram até a porta, não se despediram, mas sentiram o mesmo aperto no peito por essa discussão.

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