4 - Ruiva

  Assim que entraram no carro, Kaio perguntou:

- Música ou sem música?

- Bom o carro é seu...

- Vamos sem música – ele disse percebendo que seria difícil puxar assunto – Gosta de música?

- Sim, só não acho que é o momento de escutar.

- Eu concordo.

- Não faz sentindo me levar, na volta você vai voltar sozinho, se o objetivo é não estar sozinho – ela comentou um pouco nervosa.

- Deveria ter opinado isso antes e eu sei me cuidar.

- Eu não estou preocupada, se é o que está pensando.

- Não está preocupada?

- Não, acho que nada pode acontecer com vocês, Clarice desapareceu, mas não significa que todos serão sequestrados, ou significa?

- Fazemos isso para acalmar Iasmin e Louise que estão muito assustadas, tentamos contribuir para nenhum outro surtar.

- Vocês até parecem uma família.

- Nós somos e amamos Clarice.

- Vocês me encheram de perguntas de como foi a primeira vez que a vi, pode me contar como a conheceu?

- Eu a conheci quando Roberta conseguiu emprego no escritório da minha família, eu tinha 18 anos na época e elas 16, nos tornamos inseparáveis.

- Conheceu Roberta perto desse tempo também?

- Ah não... Roberta eu conheço desde a infância, nós éramos vizinhos, depois meus pais se mudaram, mas eu continuei na mesma escola, ela mudou de escola porque os pais não podiam mais pagar, só que mantemos o contato e ela foi trabalhar na parte de administração.

- Que legal ter uma amizade que dure assim tanto tempo.

- É sim...

- Vira nessa esquina e estaremos no meu apartamento – ela indicou querendo mais informações.

- Será que sua família se importa se eu usar o banheiro? Acabei me esquecendo de ir na pizzaria.

- Eu moro sozinha – ela respondeu tirando o cinto.

            Os dois subiram as escadas, era um prédio sem elevador, simples, mas confortável, ao entrarem, ela explicou:

- A última porta é a do banheiro.

            O telefone tocou, ela se arrepiou toda e atendeu:

- Alô?

- Imaginei que chegaria esse horário – respondeu o hacker com a voz que a assustava.

- Eu estou com visita pode me dar 15 minutos? – ela perguntou reparando que Kaio tinha acabado de se apoiar no sofá.

            O hacker não respondeu, desligou, ela colocou telefone no gancho e Kaio comentou:

- É bonito seu apartamento.

- Obrigada.

- Ficará bem sozinha?

- Eu fico bem sozinha há muito tempo – ela respondeu humorada.

- Uma outra hora eu gostaria de saber disso, é justo já que te falei sobre a minha amizade com as meninas.

- Sim... Bom, pode me avisar quando chegar em sua casa? – ela perguntou abrindo a porta, literalmente o expulsando.

- Vou avisar Catherine, tchau.

- Tchau.

  Assim que ela se sentou perto do telefone, cruzou a perna o telefone tocou e ela atendeu comentando:

- Estou começando a pensar que tem câmeras no meu apartamento.

- Não acho que seja necessário.

- Tem outro meio de nos comunicarmos, eu acho que vou ter pesadelos com a sua voz.

- Por enquanto não vejo outro meio, me conte tudo que aconteceu na pizzaria.

- Eu fui extremamente culpada pelo desaparecimento da sua amiga, a irmã dela foi arrogante, Louise quase não abriu a boca, Kaio tentou amenizar, Peterson me encarou por muito tempo, parecia estar conspirando contra mim e quando falava fazia isso parecer real, ele levantou algumas hipóteses sobre eu ter desaparecido com Clarice por causa dos arquivos, outra foi que eu poderia estar a ajudando fugir por causa dos arquivos, que eu podia ter armado e matado Clarice e a verdadeira hipótese que eu literalmente cai de balão nessa maluquice... André... Ele estava bem sensível e ficar falando a todo momento que a namorada dele esta provavelmente morta, o fez desabar...

- Quem estava em sua casa?

- Kaio me trouxe, ele precisou ir ao banheiro e eu dei um jeito dele sair.

- O que conversaram no caminho?

- Eu perguntei como ele conheceu Clarice, ele me contou que foi quando Roberta conseguiu o emprego.

- E o que ele contou te Clarice?

- Não muito, ela era amiga de Roberta, foi assim que se conheceram e se tornavam inseparáveis, ele disse que o grupo é como uma família e que todos amavam Clarice.

- De fato, todos amavam Clarice... Quem te parecia suspeito?

- Para ser bem sincera nenhum, mas acho que Louise pelo silencio e Kaio por tentar amenizar e estar ao lado de todo mundo, meio em cima do muro.

- Louise era o cachorrinho de estimação de Clarice, deve ter perdido a voz ao ter perdido a dona, Kaio ele é bem-humorado, estranhamente pouco sei de suas outras emoções, ele é como uma máscara de sorriso.

- Então ele se torna nosso principal suspeito? Ele me disse que vai mandar mensagem para avisar que chegou.

- Se aproxime dele.

- Vou tentar enquanto analiso outros arquivos.

- Não, antes quero que faça outra coisa, enviei em seu e-mail – e desligou.

  De imediato ela abriu o e-mail, era um pedido para entender os poemas que Clarice tinha feito. O primeiro poema que leu foi:

                                                                        Advogado do Diabo

                                                                       O conheci ainda jovem

                                                      Parecia ser inocente, mas tempo vai-e-vem

                                                 Nem todos os dias se tem sol, muitos dias chovem

                                                                             Se tornou homem

                                                       O sorriso do seu rosto se desfaz e você vem

                                                       Vem me encontrar como o advogado do diabo

                                                                            Espia quem vem

                                                                    Tem medo que te privem

                                                Tem medo que saibam o que se tornou e te levem

                                                 Ah meu amigo, não posso deixar que te arquivem

O silencio dura por muito tempo, mas minhas memorias sobrevivem

Naquele instante no grupo, a mensagem no grupo notificou:

📱- Pessoal estou em casa, já deixei Catherine no AP dela - avisou Kaio.

📱- Ele é um bom motorista, todo mundo, tá legal? – perguntou Catherine.

📱- Até parece que você se importa – respondeu Iasmin.

📱- Esse é o jeito de Iasmin dizer que acabei de levar todos para suas casas e acabei de sair do carro – avisou Peterson.

📱- Acho que já tem gente chateada o suficiente Iasmin, para de chatear a garota – mandou André.

📱- Aff – mandou Iasmin.

📱- Boa noite – desejou Louise e mandou uma foto pronta para dormir, estava usando um pijama de princesas, um tanto quanto infantil.       

  Catherine pensou em chamar Kaio, mas pensou que poderia ser suspeita demais em puxar assunto, para sua surpresa André no particular a chamou:

📱- Oi.

📱- Está melhor?

📱- Estou e você? Quero que seja sincera, não precisa dizer que está só por educação.

📱- Eu não me sinto ótima, nem triste, um pouco constrangida confesso.

📱- Iasmin mudou muito com o desaparecimento da irmã, ela nunca foi tão grossa como está sendo agora.

📱- Tudo bem, mudando um pouco de assunto, conhece algum advogado?

📱- Só o Kaio, está pensando nos processar por assedio?

📱- Não hahahaha isso foi engraçado, eu tenho algumas dividas.

📱- Fale com ele depois, acho que pode te ajudar.

📱- Espero que sim, ele já ajudou alguns de vocês?

📱- Não, o caso da Clarice está com o pai dele e bem Kaio ajuda Roberta manter o emprego.

📱- Ele já pegou algum caso?

📱- Me parece insegura em pensar que ele pode ser seu advogado, mas para te adiantar, ele cuida de processos trabalhistas, acho que foram poucos.

📱- Legal.

📱- Só vim me desculpar pelo horrível jantar e te desejar boa noite.

📱- Boa noite André.

             Outra ligação

- Esqueci de te contar, eu consigo ver as mensagens do grupo todo, no particular também, agora que você faz parte do grupo posso ver suas conversas.

- Espero que minhas fotos não sejam vendidas em sites pornográficos – ela brincou.

- Não estou interessado em seus nudes.

- Já que não tenho privacidade e de verdade acho que tem alguma câmera em casa, o que você quer?Por que me ligou?

- Te liguei para saber, por que ficou falando de advogado.

- O poema, se refere ao Kaio...

- Possível, penso nisso por causa da parte que Clarice fala sobre o sorriso, mas a família toda dele é de advogados, a mãe é juiza, pai advogado criminalista, irmão mais velho advogado civil, irmã do meio advogada do fórum trabalhista e agora ele.

- Mas ela diz que o conheceu jovem... E depois fala, agora homem... Ele ainda tinha 17 anos, beirava aos 18 ao conhece-la.

- Hm... Possível, são dois anos de diferença, Roberta entrou na empresa no mês de janeiro, ele faz aniversário em abril, beirava os 18... Sabia que tinha escolhido a pessoa certa, quero dizer Clarice te escolheu para mim...

- Ao menos me diz seu nome.

- Se eu dissesse, saiba que não ia encontrar quase nenhuma relação minha e Clarice.

- Não sei... Eu diria o mesmo sobre mim, mas todos vocês me acharam graças a um trabalho.

- O que achou dos outros poemas?

- Não os li.

- Vou te deixar fazer seu trabalho.

  Ela leu 14 poemas e tentou os relacionar com as pessoas:

1.      O advogado do diabo – Kaio

2.      Língua solta – citava sobre uma possível melhor amiga – associou a Louise

3.      Cabelos grandes – Peterson

4.      Alaranjadas mechas – Roberta

5.      A raposa na pele de cordeiro – Iasmin

6.      O pra sempre, sempre acaba – André

7.      Santidade não existe – mãe de Louise

8.      Quando eu te conheci – novo amor?

9.      Inteligência sobre humana – hacker

10.  Violência?

11.  Meu passado?

12.  O que tem no escuro?

13.  Pouco tempo?

14.  Eu vou morrer?

Catherine tinha acabado de conseguir dormir às 10h00, o seu telefone barulhento a acordou, o puxou do gancho se jogou no sofá e ouviu o hacker:

- E como vai o andamento da interpretação dos poemas?

- Eu gosto de como Clarice acha que sua inteligência é sobre-humana a ponto de pensar que talvez você não sabia se relacionar direito com as pessoas, somente com maquinas... Ela fala com certo carinho... Vocês tiveram algo?

- Minha vida não te desrespeita, mas sabia que foi isso que a fez te procurar para desvendar aqueles arquivos.

- Nossa relação está muito ruim, mas pelo que entendi sabe que não sou culpada pela morte ou desaparecimento dela, certo?

- Tenho 90% de certeza.

- Isso até quase soou como elogio, estou com muito sono senhor da perfeita inteligência.

- Me mande sua evolução.

- Eu acho tenho a sensação que se soubermos das quatorzes pessoas que são pertencentes aos poemas vamos desvendar mais coisas.

- Sim, tem uma criptonização que precisa de quatorze dados.

- Eu vou te deixar em paz – e desligou.

  Ela colocou o telefone no gancho, se jogou no sofá e adormeceu do jeito que ficou, somente acordou quando seu corpo todo doeu.

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