5 - Ruiva

            No dia seguinte, em seu trabalho deu de cara com Tom, se recordou que esqueceu completamente da

mensagem dele, ele ficou corado, desviou o olhar enquanto ela o desejava:

- Boa tarde\, Tom!

- Boa tarde – ele desejou rápido\, desejava sair correndo\, mas seu corpo paralisou esperando algo da parte dela.

- Eu vi sua mensagem\, desculpa não ter respondido\, foi uma correria esse final de semana.

- Entendo\, não precisa se explicar.

- Tá legal... Sua companhia foi ótima na sexta.

- Será que podemos tentar um jantar na sexta?

- Podemos\, isso significa que vou mudar de horário no dia?

- Exatamente\, até depois – ele se despediu agora com um sorriso por finalmente ter conseguido.

- Até – ela acenou indo em direção ao balcão para pegar o avental.

            Era quase o horário da sua folga quando ouviu alguém a elogiar:

- Seu cabelo é bem mais bonito pessoalmente.

- Obrigada – ela disse surpresa reconhecendo que a sua frente era Roberta – Você... Roberta... Oi...

- Oi... Eu não aguento todos falando de você\, vim te conhecer espero que não se importe.

- Ah... – ela disse sem jeito\, olhou para seu relógio – Em 15 minutos eu faço uma pausa\, pode me esperar no sofá?

- Claro – a ruiva disse.

            Ela se sentou no sofá azul, olhou para a mesa, tinha revistas sobre política, o jornal com o anuncio do

desaparecimento da sua amiga e livros aleatórios de literatura, somente André sabia que ela tinha ido até lá, por isso ela o avisou que chegou por mensagem, depois pegou um livro e tentou o ler, mas sua curiosidade estava mesmo em observar Catherine.

            Pontualmente Catherine tirou o avental, fez sinal para Roberta a seguir, as duas sentaram à mesa da cantina, pediram café e um lanche, Catherine estava um pouco com receio por ter ficado bem constrangida quando saiu com o grupo, Roberta parecia diferente, usava roupas sociais como se fosse uma senhora, seu cabelo ruivo, era o que despertava a juventude e sua voz era acolhedora:

- André e Kaio me contaram como foi na pizzaria\, eu sinto muito.

- Tudo bem\, Clarice é importante para vocês e eu sou uma suspeita\, acho que consigo lidar com isso.

- Eu te vejo mais como uma aliada\, se fosse mesmo a culpada a polícia já saberia e chegaria até você\, já que somos pessoas comuns e chegamos até você.

- Gosto mais de aliada do que culpada.

- Qualquer um.

- É...

- Eu não vou te perguntar sobre Clarice\, porque todo mundo já me contou o que você disse e acho que isso vai te deixar desconfortável.

- Vai sim\, mas se quiser...

- Às vezes acho que ela fugiu.

- Por que ela teria fugido?

- Acho que ela cansou um pouco do mesmo\, os nossos finais de semanas juntos e o namoro com André.

- Por que acha que ela cansou?

- Ela conhece o grupo há muito tempo\, o que tinha de novo era a sua faculdade de medicina\, mas a profissão foi escolhida pelos pais\, seu pai é dentista e a mãe nutricionista\, mas o sonho dos dois eram ser médicos\, acho que a influenciaram.

- Como era a sua amizade com ela?

- Nossa amizade teve muitas fases\, na escola éramos populares\, quero dizer isso só foi no primeiro ano\, porque no segundo consegui emprego com a família do Kaio\, lá eu comecei a perceber que a vida era mais que a beleza\, eu deixei um pouco de lado de participar de tudo da escola\, nesse tempo ela já ficava com André e alguns outros caras\, ela era indecisa como todo adolescente\, mas todas as vezes que um deles quebrava seu coração ela chorava para mim... Fazíamos bastante festas de pijama\, já que Louise não podia dormir fora\, era só nós duas nas noite de sexta\, no último ano ela decidiu que aceitaria o pedido de namoro com André... A faculdade chegou\, ela e Louise pegavam carona com Kaio\, eu meio que virei secretária dos três\, arrumava as apresentações de power point e imprimia os trabalhos da faculdade\, acabei me aproximei mais de André e Peterson\, enquanto eles estudavam\, nós gastávamos nosso tempo no bar... E ela sumiu.

- Ainda sim\, você não disse exatamente como era sua amizade com ela...

- Não éramos tão intimas como ela e Louise\, nem tão afetuosas como ela e Iasmin\, bem... Nós éramos amigas\, fazíamos compras e ela me dizia que me vestia igual a mãe dela só que em um corpo bonito – riu por lembrar – Nós comíamos coisas gordas longe de todos\, era como se nem sempre ela precisasse vestir uma máscara de “mulher perfeita” comigo.

- Ninguém é perfeito.

- Você me parece perfeita – comentou Roberta com um sorriso que pareceu um flerte.

- Não sou...

- Me fale um defeito.

- Posso falar vários\, fiz terapia dos 15 aos 18 anos por causa da separação dos meus pais e pude me conhecer bem – contou humorada – Meu pai te falaria uma lista de defeitos o que ele teria dificuldade seria para te falar uma qualidade.

- Que intensa\, me conta só um.

- Eu sou desregrada com sono\, troco o dia pela noite\, durmo bem melhor quando é cedo.

- Não me parece um defeito\, mas aceito.

- Eu estou gostando bastante de conversar com você\, mas preciso voltar.

- Tudo bem\, não quero que fique encrencada por minha culpa.

            Elas se levantaram juntas, estendeu a mão para trocar cumprimentos, sorriram e seguiram para caminhos opostos. Não demorou muito para ela chegar em casa e assim que trancou a porta, o telefone tocou:

- Olá meu novo melhor amigo.

- Não se cansa de piadas?

- Não me canso\, aposto que sabe quem veio me visitar.

- Sim\, Roberta\, eu vi as conversas dela com André\, agora desembucha!

- Ela me falou sobre a amizade dela com Clarice\, elas pareciam bem próximas\, mas ao mesmo tempo ela pareceu se sentir chateada por não ser a preferida\, Roberta destacou que Clarice podia tirar a máscara de mulher perfeita quando elas ficavam sozinhas.

- Ela elogiou seu cabelo.

- Sim\, ela contou isso para alguém que você está vigiando?

- Ah sim\, quero saber se isso te pareceu um flerte.

- Não\, isso não\, mas dizer que eu pareço perfeita pareceu.

- Assim temos certeza que o Poema Alaranjadas Mechas vermelhas é para ela.

- E temos a certeza que Clarice teve um momento homossexual\, me deu até vontade de ler o poema.

- Então leia.

- Me lembro o que me chamou atenção\, foram as alaranjadas mechas vermelhas\, era o primeiro dia de aula e eu já tinha feito algumas escolhas\, uma delas foi te escolher para meu grupo de abelhas\, por mim de início você fez coisas amplas\, mas tinha um amigo que te ocupava\, era um novo emprego que eu não concordava\, te queria como parte das minhas abelhas\, foi quando entendi que você era uma ovelha negra\, entendi que perto de você podia ser que eu queria\, pior que isso foi entender o que você queria\, em uma noite fria\, tua boca avermelhada\, estava toda fogosa\, me encheu de chamas\, você quebrou minhas regras\, tirou sua rainha do trono e eu me tornei uma das suas escravas.

- O que você acha de perigoso nesse poema?

- A parte que ela aceitou fazer coisas amplas para Clarice\, depois o amigo que a ocupava\, acredito que seja Kaio\, acho que Clarice não gostou de sair do controle de sua seguidora abelha\, então para assumir o controle deixou ser domada\, alguma coisa elas tiveram.

- Me pareceu que Roberta virou o jogo e aprisionou Clarice.

- Pode ser... Será que Kaio e Roberta tramaram contra Clarice?

- Acho que não\, que tal você focar nos mistérios?

- Que tal você desligar para eu focar? – ela perguntou exausta.

            E ele realmente desligou, ela voltou a focar nos arquivos, mas acabou adormecendo e acordou bem perto de ir para o trabalho, chegou em cima da hora e trombou com Tom na entrada, ele a encarou e perguntou:

- Você está bem?

- Eu dormi tarde\, não tive tempo nem de comer\, desculpe pelo atraso.

- São só 7 minutos – ela aceitou dando um largo sorriso – E come alguma coisa\, não quero te encontrar desmaiada no meio dos livros.

- Está bem.

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