15 - Saindo do Oculto

            Era meio da semana, Tom tinha ficado para ajudar Catherine, seus outros dois profissionais da noite estavam ausentes, ele viu um homem loiro dos olhos claros entrando segurando um pequeno buquê de rosas olhando ao redor, Tom o encarou e perguntou:

- Está procurando por alguém?

- É o gerente! – disse animado – Eu estou procurando Catherine.

- Cat – Tom a chamou olhando para baixo do balcão.

- Oi... – ela disse sem jeito ficando totalmente de pé.

            Tom ficou sério e se retirou, Catherine ficou sem jeito e André estendeu o pequeno buquê, surpresa ela aceitou, olhou para o bilhete que estava escrito “Me desculpe”, sorrindo ela disse:

- Eu desculpo você, mas eu desculparia mais se fossem girassóis.

- Eu acho que nada perde para as rosas vermelhas, são clássicas... Mas você...

- Eu sou única – ela interrompeu sorrindo – Foi muito legal você ter feito isso e não precisava de tanto... E eu não tenho mais pausa...

- Tudo bem, vai ser aniversário de Louise sábado, por favor, me diz que você vai!

- Eu vou recebi o convite, te vejo sábado – e lhe deu um beijo no rosto.

- Até mais.

            E assim que André saiu, o chateado Tom se aproximou e elogiou:

- Bonitas rosas.

- São...

- Aproveitando que a biblioteca está vazia, podemos conversar?

- Claro.

- Eu sei que iniciamos algumas coisas, não tenho que te pedir nenhum tipo de satisfação sobre quem era aquela cara, enfim, só quero terminar, antes que tudo piore e você também vive me colocando de lado.. Não quero sofrer.

- Entendo o seu lado eu faria a mesma coisa, mas o André é o namorado da garota desaparecida que todos acham que está morta – ela contou apontando para o jornal que tinha a foto de Clarice desaparecida – Eu não estou em um momento muito bom da minha vida e mesmo que eu não te deva satisfação quero que saiba que não estou te

colocando de lado para ficar com outras pessoas e eu realmente gosto de você... Não quero que você sofra... Vamos manter nosso profissional... – ela sussurrou com os olhos marejados percebendo que tinha alunos entrando.

            Tom se sentiu um idiota e voltaram a trabalhar. Quando fecharam a biblioteca, ele parou em sua frente e disse:

- Eu não deveria ter tido ciúmes, não quero terminar de verdade, podemos começar de novo?

- Não podemos, não quero ficar com alguém que pensa que posso ficar outras pessoas... Será melhor para nós dois – ela disse saindo apressada.

- Estamos de cabeça quente, vamos deixar para conversarmos outra hora.

- Ok.

            O clima entre Tom e Cstherine ficou tenso, ele tentava puxar assunto, mas ela não lhe dava tanta liberdade, estava fazendo de propósito para saber se valia ou não valia dar outra chance para Tom.

            No final de semana, Catherine em sua casa fechada a sua solidão refletia sobre sua vida enquanto tentava achar algo de Clarice, ao anoitecer o hacker saiu do seu silencio e mandou uma mensagem:

- “Vá nesse endereço o mais rápido possível”.

            Ela se arrumou, foi básica e chegou ao endereço, outra mensagem chegou em seu celular:

- “Estou de capuz”.

            Catherine ficou muito surpresa, apressou os passos, estava curiosa para saber quem era o homem que sempre conversava, sentou ao seu lado e ele pediu lhe entregando um drink:

- Seja discreta Catherine.

- Então você é Natanael.

- Fez sua pesquisa para saber quem sou.

- Fiz... Estava na dúvida se era você ou outros dois...

- Quem eram os outros?

- Jamais vou te contar – ela respondeu rindo – Mas, o que fazemos aqui?

            Em guardanapo ele respondeu, escreveu em letras bem minúsculas com sua caneta preta “Estamos aqui para ouvir os dois homens que estão atrás de você”, cuidadosa Catherine reparou que estava Denis o irmão mais velho de Roberta e um homem que tinha a idade próxima, eles sussurravam e Natanael ficava fazendo leitura labial deles, Catherine reparou sua habilidade e achou impressionante, gentilmente Natanael se aproximou e sussurrou:

- Vamos disfarçar, me fale sobre seu dia.

- Certo... Não tenho muito o que dizer, eu fiquei trabalhando com você... Bem... Em paralelo – ela pensou que ele não estava prestando atenção já que estava ocupado entendo a conversa dos dois homens, decidiu desabafar – O cara que estou saindo, ele teve um crise de ciúmes e acabei terminando, não pelo ciúmes, quero dizer, não quero

estar com alguém sente ciúmes só porque eu ganhei um buquê de um amigo, ainda mais que era um pedido de desculpas, não posso iniciar uma relação com uma pessoa que não confie em mim... Mas, ele é tão legal, gentil, amigo e o principal... Engraçado! É bom ouvir suas piadas, sua presença, no meio de toda a minha vida bagunçada... Acho que quero voltar.

- Não volte! – ele interrompeu.

- Você está me escutando? – ela sussurrou surpresa ficando corada.

            Ele assentiu, Catherine sentiu sua vergonha passar ao ouvir o que Denis dizia:

- Sinto saudades de Clara todas as vezes que vejo essa chave – ele pegou a chave da mão do seu amigo.

- Pare de pensar nela, sabe que é só encrenca sem contar que ela sumiu.

- Vá se ferrar.

- Bom esse canto está limpo, pode voltar para a parte dos fundos do bar tranquilo.

- Excelente, sabia que podia trabalhar com você.

- Eu vou nessa cara, você vem?

- Eu vou tomar mais alguns drinks.

            Enquanto Denis tomava alguns drinks, Natanael pensava em ir embora, mas uma pessoa que ele conhecia entrou e ele não podia deixar ser visto, impulsivo, segurou o rosto de Catherine, a puxou com força o suficiente para a tirar do banco, ela perguntaria qual era o problema dele, mas seus lábios se encontraram em um beijo, Natanael a beijou como se fosse fazer sexo ali mesmo, enquanto ela tentava acompanhar sua excitação e

ficava com vergonha ao mesmo tempo. Ela perdeu o ar mais rápido, levemente tocou em seu peito, pode sentir as batidas do coração acelerado, ele a soltou devagar, segurou sua cintura para que ela não saísse da sua frente, ao olhar para os olhos cor-de-mel de Catherine, ver suas bochechas coradas, foi que percebeu que a pegou como uma boneca, sem jeito ele sussurrou:

- Olhe discretamente para trás e veja se tem uma moça negra, de cabelos bem cacheados, perto da

porta.

            Catherine discretamente olhou, a mulher, por sinal, muito bonita, estava indo embora com um pacote na mão, voltou a olhar para Natanael e sussurrou:

- Ela acabou de sair.

- Eu só não podia ser visto, me desculpe.

- Namorada?

- Não é só você que tem uma vida complicada.

- Certo... – ela reparou que Denis foi ao banheiro e aproveitou para perguntar – Você quer aquelas chaves?

- Quero – ele respondeu com dificuldade de a encarar nos olhos de novo.

- Eu vou pegá-las para você – ela disse se olhando em seu espelho de mão, retocou o batom e abriu dois botões de sua camisa deixando um pouco a mostra seu sutiã preto, Natanael ficou surpreso, logo desviou o olhar, ela reparou e por isso saiu do banco antes de dizer qualquer coisa constrangedora.

            Fingindo estar distraída Catherine mexendo no celular, trombou em Denis, ele derrubou o celular, chave e sua carteira, ela fingiu cair e jogou sua blusa por cima da chave, Denis teria ficado irritado, mas ao ver a bela mulher se calou, se abaixou e perguntou:

- Você está legal?

- Estou, pegue suas coisas – ela respondeu o entregando tudo.

            Ele pegou rápido e colocou tudo no bolso, queria a ajudar se levantar, ela o deixou ajudar, com um sorriso de canto ele perguntou:

- Posso te pagar alguma coisa como desculpa.

- Seria ótimo, mas estou acompanhada.

- Não sabia que namorava.

- Eu não namoro, mas talvez outra hora você podia me pagar algo.

- Me passa seu número – ele pediu pegando o celular apressado.

            Ela segurou o celular dele, digitou seu número e ele perguntou:

- Nome?

- Cat, apenas Cat.

- Gostei... – ele disse sorrindo e a seguiu com o olhar até que ela disfarçasse ir ao banheiro.

            Cinco minutos depois ela voltou, chegou por trás de Natanael e sussurrou perto da sua orelha:

- Pague a conta e vamos!

            Natanael se arrepiou dos pés à cabeça, não teve resposta, somente reagiu indo direto ao caixa, reparou que ela arrumava os botões da camisa, depois de pegar o troco perguntou:

- O que vamos fazer?

- Ir para o lugar das chaves – ela respondeu discretamente mostrando a chave.

- O que você fez? Pareceu que estava flertando ele.

- Eu vi muitos shows de mágica, sei criar uma ilusão – ela respondeu orgulhosa de si o seguindo – Troquei as chaves, joguei minha blusa por cima da chave dele, enquanto ele olhava para meus seios, quando entreguei a chave ele nem checou se estava certa.

- Espere... Isso pode ser perigoso, suas chaves...

- Não – ela o interrompeu – As chaves não eram minhas, pelo visto foi pego pela ilusão também – ela riu – O barman enquanto eu estava desabotoando a camisa, ele ficou olhando, foi o tempo necessário para eu pegar as chaves do balcão.

- Nada como um bom improviso, vamos para o meu carro e descobrir se achamos algo de Clarice.

- Ok – ela disse reparando que ele estava constrangido.

            Eles foram até o Volkswagen Tarek da cor azul, ela ficou um pouco maravilhada e surpresa pelo carro, disfarçou ao entrar, o silencio foi constrangedor por um tempo enquanto Natanael dirigia, Catherine ligou o rádio baixo e começou a cantar olhando para a janela.

            Natanael estacionou com certadistância do bar, os dois andaram a pé, a área era bem escura, instintivamente Catherine segurou seu braço, ele deixou, mas ficou um pouco mais tímido, mesmo entendendo que ela estava com medo, discreta sem fazer barulho ela entregou a chave para ele. Natanael segurou a chave, a colocou na fechadura, ele abriu a velha porta, a trancou do lado de dentro ao se certificar que não havia ninguém

no lugar, Catherine o viu acender uma lanterna de chaveiro e perguntou:

- O que devemos procurar?

- Qualquer coisa que ligue a Clarice.

            Os dois reviraram todo o lugar, encontraram drogas, cigarros, charutos, bebidas, alguns recibos de compras, baratas e ratos, mas nada que levasse Clarice, até Natanael ter chutado um objeto pequeno, ele olhou para o chão e pode ver o pendrive cor de rosa, o reconheceu e disse:

- É de Clara.

- Shh... Tem alguém lá fora – ela sussurrou atenta.

            Ele tampou sua boca, a empurrou para dentro de um armário e o fechou.

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