Capítulo 16

Quando estávamos todos comendo e já na metade do prato, Miguel elogiou a Maya. Isso foi o suficiente para dar início à conversa da minha amiga. Claro que ela não esperaria até o final do jantar e, como uma boa advogada, precisava ser direta.

— Que bom que você gostou, Miguel. Eu tentei caprichar ao máximo, considerando que você está acostumado a comer pratos preparados por chefs renomados. Pelo que pude perceber, você costuma participar de muitos eventos.

— Sou um homem de negócios, Maya. Então, sim, participo de muitos eventos. Mas nem todos têm uma comida tão deliciosa quanto a que você preparou.

— Obrigada, Miguel! Sabe o que me surpreendeu é que nas fotos desses eventos você não aparece com companhia. Você é solteiro?

Nesse momento, parei de comer e olhei para a Maya, surpresa com a sua franqueza. Miguel parou de comer e me lançou um sorriso. Não fui eu quem fez a pergunta, e eu definitivamente não pretendia responder, mas estava vermelha como o molho de tomate.

— Sim, Maya, sou solteiro! Não tenho más intenções com a Chloe!

Meu olhar foi direcionado a ele. Eu nem sabia que ele tinha alguma intenção com relação a mim. Eu pensava que ele estava apenas sendo gentil. Aquilo me surpreendeu. Seu olhar parecia profundo e eu não consegui sustentá-lo, então voltei minha atenção para o prato. No entanto, a Maya tinha um sorrisinho no rosto. Peguei o vinho e tomei um gole para ajudar a comida a descer.

— Então, isso significa que você tem algum interesse na minha amiga?

Nesse momento, uma tosse terrível me atingiu. Olhei para a minha amiga, incrédula com o que ela estava fazendo. Não consegui ficar à mesa e me levantei. Imediatamente, Miguel se levantou, preocupado comigo. Pedi desculpas e expliquei que precisava ir ao banheiro.

Juro que quando estivéssemos sozinhas, eu mataria a Maya. Como ela me fazia passar por uma situação tão embaraçosa como essa? Sabia que era estranho que todas as noites o Miguel me acompanhasse até em casa depois da academia, e eu já havia ouvido alguns comentários a respeito disso por lá.

Lembro que, na semana em que o Miguel não foi à academia, Rafael se aproximou de mim e me perguntou se eu estava namorando o rapaz do crossfit, ao que eu neguei, pois nada havia acontecido entre mim e o Miguel. Sempre que conversávamos, ele fazia perguntas pessoais, mas eu interpretei isso como mera curiosidade. Apenas uma vez pensei que ele pudesse estar interessado e que iria me beijar, mas quando isso não aconteceu, decidi não criar expectativas.

Após lavar o meu rosto, voltei para a sala, onde tanto o Miguel quanto a Maya me olhavam.

— Você está se sentindo melhor, Chloe? — Miguel perguntou, preocupado.

— Sim, Miguel, obrigada!

— Me desculpe, amiga, não quis me intrometer na sua vida. Apenas fiquei curiosa, não tive a intenção de te constranger. Estamos em um jantar entre amigos, então vou deixar os meus interrogatórios de lado.

— É bom ouvir isso de você, Maya!

Minha amiga me olhou e parecia segurar o riso. Não sei que tipo de conversa ela teve com o Miguel enquanto estava no banheiro, mas tenho a sensação de que ele lhe disse algo. A Maya não desistiria tão rapidamente de suas intenções, mas eu optei por ignorar aquilo. Não queria saber quais eram as intenções do Miguel, pois não queria me iludir ou me decepcionar.

Mesmo sem querer, eu já pensava com muita frequência no Miguel e ansiava por ir à academia apenas para encontrá-lo depois. O Miguel estava ocupando uma posição importante na minha vida sem que eu percebesse, e quando finalmente percebi, fiquei ainda mais chateada comigo mesma.

Depois de terminarmos o jantar, decidimos assistir a um filme e saborear a sobremesa que a Maya também tinha preparado, o que me surpreendeu, já que minha amiga geralmente fazia isso apenas em ocasiões especiais. Assim, a Maya se sentou em uma ponta do sofá, enquanto eu me sentei no meio e o Miguel na outra ponta.

Enquanto o filme continuava, senti um leve roçar na minha mão, e quando olhei, era o Miguel fazendo pequenos círculos com o dedo nela. Eu olhei para ele, mas ele continuou olhando para a TV. Esses sinais estavam apenas confundindo ainda mais minha mente. Eu não conseguia entender o que ele realmente desejava. Em um momento ele parecia interessado, e no próximo agia como um simples amigo.

Quando demos por encerrada nossa noite, o Miguel agradeceu a Maya pelo jantar, e eu o acompanhei até a portaria. Chegando ao seu carro, ele se virou para mim, olhou nos meus olhos e segurou minha mão.

Ele se aproximou um pouco mais e mais uma vez pegou uma mecha do meu cabelo, prendendo-a atrás da minha orelha. Nossos olhares se cruzaram e, dessa vez, eu sustentei o olhar, não estava disposta a fugir. Então ele se aproximou ainda mais, e quando imaginei que ele me beijaria, mais uma vez ele levou seus lábios até a lateral do meu rosto e me beijou ali.

Mais uma vez, minha vontade de beijar o Miguel foi frustrada. Eu não tomaria a iniciativa a menos que tivesse total certeza de que era isso que ele queria, mas os sinais dele me confundiam e isso estava me deixando irritada. Ele se despediu e partiu.