Capítulo 03

Então Maya mostrou a Tomás o vídeo que ele havia divulgado, desta vez sem o desfalque em seu rosto. De fato, Maya tinha muitos amigos, incluindo alguns que não ficaram satisfeitos em ver uma mulher sendo humilhada daquela maneira.

— Só me entristece pensar no tempo que minha amiga dedicou a ajudar você a melhorar suas notas, porque agora elas não terão mais valor. Vamos aguardar a reação do reitor quando ele assistir ao vídeo completo. Tenho certeza de que nem você, nem seus amigos terão motivos para rir.

Nesse momento, Tomás avançou em direção a Maya, porém, ela não estava sozinha. Depois que todos testemunharam aquela cena, muitos ficaram comovidos com a atitude de Maya, e como ela era bem conhecida em todos os prédios da universidade, recebeu proteção.

— E tem mais uma coisa, vocês duas, Larissa e Marisa, certo? Como mulheres, como puderam compactuar com tudo isso e ainda achar graça? Larissa, como é possível estar com um homem que filmou ter relações sexuais com outra garota apenas para ganhar uma aposta? São mulheres como vocês que nos fazem lutar diariamente para mostrar nosso valor. Vocês não valorizam o sexo feminino e são uma vergonha para todas nós, mulheres.

Assim que a Maya terminou de falar, o reitor e o professor de direito se aproximaram do grupo para verificar o que estava acontecendo.

— Aqui, reitor, este é o vídeo que esse grupo fez circular entre nós alunos. Claro, no vídeo que todos recebemos, o rosto estava oculto por um efeito de desfoque. No entanto, depois de alguns contatos com amigos na área de TI, eles conseguiram remover o efeito que escondia o rosto do rapaz. Além disso, obtiveram o endereço de IP da pessoa que fez a divulgação, confirmando que se trata de Tomás Werneck e seus amigos.

— Onde está a aluna envolvida nesse vídeo? — Perguntou o professor de direito.

Eu ainda estava petrificada diante de tudo isso, quando Maya se aproximou de mim e sacudiu meu ombro.

— Chloe, amiga, vem comigo. Vamos fazer esses idiotas pagarem pelo que fizeram a você. Ninguém vai mexer com minha melhor amiga e sair impune disso tudo. Só confie em mim e deixe para se sentir mal quando estivermos sozinhas. Agora você precisa ser forte e mostrar a mulher empoderada que você é, aluna com notas excelentes e cursando dois cursos diferentes, algo que muito poucos conseguem. — Em seguida, ela me arrastou até o grupo. — Aqui está ela, professor. Chloe Rodrigues.

— Bem, os envolvidos, por favor, nos acompanhem até a sala da reitoria, e aos demais aqui presentes, excluam esse vídeo. Se você o divulgar, também enfrentará consequências criminais. Peço a todos que espalhem essa notícia para que mais alunos não sejam punidos. É vergonhoso o que foi feito com essa aluna, e todas as medidas cabíveis pela universidade serão tomadas, inclusive o fornecimento de apoio jurídico a ela. Por favor, acompanhem-me.

Aquele foi o ano mais conturbado da minha vida. Como todos éramos maiores de idade, não foi necessária a presença de nossos responsáveis, mas aqueles que quisessem ser acompanhados por algum advogado tiveram permissão para fazê-lo. Por fim, de acordo com as normas da universidade, todos os alunos envolvidos e acusados daquele crime foram expulsos por ato indisciplinar, com exceção de mim, que era a vítima. Minha mãe, como advogada, entrou com um processo contra todos os envolvidos e, graças ao conhecimento que ela possuía, obteve uma generosa indenização, especialmente de Tomás, alguns meses após o ocorrido.

Recebi muito apoio dos meus pais, inclusive minha mãe havia perguntado se eu desejava mudar de universidade. No entanto, como a própria Maya mencionou, meu único erro foi confiar na pessoa errada. Eu não havia cometido nenhum ato vergonhoso.

Éramos um casal e decidimos dar um passo além, o que era perfeitamente normal entre jovens adultos. Portanto, quem deveria se sentir envergonhado era ele, pelo que fez, não eu. Além disso, não foi apenas a Maya que abraçou essa causa. Várias outras garotas me deram apoio durante aqueles dias conturbados. Recebi mensagens de apoio até mesmo de pessoas que eu nem conhecia dentro da universidade.

Tenho que confessar que chorei várias noites no ombro de Maya, que sempre fazia questão de me dizer que eu não tinha culpa de nada, que meu único erro foi criar expectativas altas para um cara totalmente escroto. Com todo o apoio que estava recebendo, consegui concluir minhas duas faculdades, e estava orgulhosa de mim mesma por não ter desistido.

Sou grata a Maya e aos meus pais por não terem me abandonado. Tudo transcorreu em sigilo jurídico, e minha mãe garantiu que nada poderia ser divulgado em prol do meu futuro. Depois de conseguir me formar, estabeleci novos objetivos e coloquei minha cabeça no lugar. Naquele momento, decidi seguir em frente e parar de me lamentar por uma história ruim. Apesar de tudo, essa experiência me ensinou e me fez crescer como mulher.