Button

Quando subo de volta ao quarto, Lucy já está dormindo, ao seu lado uma bandeja com algumas cumbucas e um copo, todos vazios. Que bom que ela comeu bem. Não sei se consigo aguardar até amanhã para dizer a ela meu plano e também não sei se ela aceitaria. Porra, estou mesmo considerando comprar uma esposa? E mesmo que eu esteja levando essa ideia a sério, será que terei mais dinheiro que Henry para ganhá-la no leilão? É a única maneira de manter a garota viva e eu não conseguiria dormir em paz se tivesse que matá-la. Não tem jeito, estou num beco sem saída, se Henry comprá-la, será torturada e morta e se não comprá-la eu quem a matarei e isso está fora de cogitação, foi um juramento que fiz a mim mesmo quando saí do exército e aceitei esse emprego, "nunca matar pessoas inocentes".

Me jogo na poltrona e tento descansar um pouco, dormir e esquecer toda essa merda, mas os pensamentos não me deixam em paz. Se eu realmente fizer isso, Lucy precisa ter em mente que eu não preciso e nem quero uma esposa, ela será mais como uma funcionária, pagarei pra ela cuidar da casa, do jardim, cozinhar e coisas do tipo. Ela precisa saber que não vai dormir comigo em nenhum sentido, eu não vou usá-la, não vou forçá-la. Eu posso até ser um assassino frio e cruel, mas acredito em casamento e ele só deve ser feito por amor. Só que nesse caso, será apenas pra poupar a vida da garota.

Lucy se agita um pouco na cama e eu me distraio com o desenho do seu corpo sob os edredons, me lembro do sexo maravilhoso que tivemos ainda nesta manhã, eu poderia me acostumar a tê-la, é tão gostosa... Imagine saudável e em forma? Não! Porra, não! Concentre-se, Tyler, você não quer subjulgá-la ou torná-la uma escrava sexual... Devo estar ficando maluco! Lucy também precisa saber que se eu conseguir comprá-la, toda aquela ladainha de abraços e dormir junto, não vai mais acontecer, aquilo foi por pena, eu tinha certeza que nunca mais a veria, o Tyler de verdade não é assim, nem carinhoso, nem bajulador, apenas educado e cordial... Às vezes.

***

Acordo com um raio de sol batendo bem na minha cara. Ah, eu odeio o sol. E quando foi que eu dormi? Olho para meu relógio de pulso e vejo que são 6:28am, Charles acordará em breve e eu devo estar de prontidão lá em baixo. Caminho até o banheiro do quarto e solto o cabelo, escovo o dente com uma das milhares de escovas disponíveis em cada quarto, lavo o rosto pra despertar e desejo de toda minha alma estar em casa pra poder tomar um banho.

Na cozinha, peço para uma das cozinheiras preparar o café de Lucy e levar pra ela assim que acordar, volto para a sala de estar e aguardo a presença do Capo de pé e impaciente, tem o risco dele não me permitir participar do leilão, esposas atrapalham o trabalho de um Button.

-De pé tão cedo, Tyler? -Charles chega ao cômodo acompanhado de sua esposa.

-Bom dia senhor, senhora! -Cumprimento com um aceno de cabeça.

-Bom dia Ty, querido. Como está a mocinha?

-Dormindo.

-Henry virá às 9:00am para buscá-la, negociei um valor com ele, até que foi um bom negócio. -Charles diz orgulhoso.

-Na verdade, chefe, eu gostaria de participar do leilão. -Porra, falei...

-Como assim, Tyler? Está mesmo interessado nessa garota semi mørta? -Ele parece confuso.

-Não, não estou. Mas sabe que Henry mataria a menina e eu prometi a ela que não seria assim. Eu sempre cumpro minha palavra.

-Ah, meu bem. Ouça pelo menos a proposta de Tyler, tenho certeza que ele nunca deixaria Lucy atrapalhar no seu trabalho. -Judith entra em minha defesa. -Eu acho que Tyler precisa mesmo de uma esposa, ele vive tão sozinho...

-Judith, você sempre se metendo... -Charles beija a face da esposa com carinho. -Por você querida, eu não vou nem ouvir a proposta de Tyler, eu vendo a garota pra ele, se ele estiver disposto a me pagar o mesmo que Henry.

-De quanto estamos falando? -Pergunto, mas estou aliviado, já estava pronto pra fazer uma oferta maior, se fosse possível.

-Henry me ofereceu $350,000,00 pela garota.

-Pode considerar vendida. -Digo, sentindo um alívio maior ainda.

-Ah! Parabéns, Tyler. Agora terei uma amiga pra me fazer companhia quando você vier tratar de negócios com o Charles. -Judith me dá um abraço rápido.

-Vivi pra ver você se casando, amigo. Eu nunca poderia imaginar. -Charles sorri irônico.

-Não se empolguem, estou fazendo isto apenas pra que a menina viva.

-Sim, sim... Continue dizendo isso a si mesmo. -Charles resmunga.

-Bem, logo eu vou subir e ver se ela está melhor, vou vesti-la, penteá-la, maquiá-la... Você levará uma esposa linda, assim como mandam as regras.

-Não se empolgue, meu amor. -Charles resmunga mais uma vez.

-Tarde demais, já estou empolgada. Com licença. -Judith sai praticamente correndo da sala, nos deixando a sós.

-Já tomou café da manhã? -Charles pergunta.

-Não, senhor.

-Então me faça companhia. -Começamos a caminhar em direção à cozinha. -Como te disse ontem, tenho um novo trabalho pra você e esse não é nada fácil.

-Alguma vez te decepcionei?

-Não, mas pra tudo tem uma primeira vez. Quero que você mate um inimigo muito poderoso, a segurança dele é quase intransponível e ele nunca está sozinho, mas é imprescindível que ele morra.

-Entendi, não vejo problema, mande as informações como de costume. Vou começar a estudar o alvo assim que tiver tudo em mãos.

Continuamos conversando enquanto as funcionárias servem a mesa, um café da manhã dos deuses. Charles já está acostumado a me ver comer entre 15 e 20 ovos cozidos pela manhã, faz parte da minha dieta pra manter a forma física, aposto que as cozinheiras odeiam quando venho aqui.

Café da manhã tomado, Charles me convida para ir até a sala onde os hackers estão trabalhando desde ontem para descodificar o pendrive, quando chegamos, um deles está literalmente babando no teclado, adormecido ao lado de umas três xícaras de café.

-Bom dia, crianças. Novidades? -Charles fala alto, acordando o rapaz adormecido com um susto.

-O senhor chegou na hora certa, Capo. Mais alguns segundos e... -Ele faz uma pausa de realmente alguns segundos. -Pronto! Está decodificado.

-E você está esperando o quê? Me diz que tipo de informação tem aí dentro.

-Claro, desculpe. -O rapaz começa a mexer nas teclas e no mouse. -São muitas senhas de acesso a inúmeras contas bancárias espalhadas pelo mundo e as coordenadas para cada banco correspondente. Estamos falando de centenas de milhões de dólares.

-Milhões? Não milhares, milhões? Tem certeza?

-Sim senhor, no mínimo uns seiscentos milhões.

-Porra! Isso é muito mais do que ele me roubou. Muito mais! -Charles sorri de orelha a orelha.

-É muita grana, mas será que o senhor é o único atrás dela? Se tem tanto dinheiro, talvez Lucas White tenha roubado de outros senhores também. Se descobrirem que foi o senhor quem o mandou matar, virão atrás de você. -Alerto Charles, porque é perigoso se envolver com dinheiro sujo, mais sujo do que de costume eu quero dizer.

-Você tem razão, Ty. Preciso reforçar a segurança e vou mandar incendiar a casa de Lucas, não quero ninguém sonhando com um dinheiro que já está em minhas mãos.

-Senhores! -A voz de Judith nos interrompe. -Com licença, preciso do Tyler por um instante.

-Do Tyler? -Charles franze o cenho, mas logo desfaz a expressão. -Ah, sim... A sua esposa deve estar pronta. Está dispensado, quando chegar na sua casa, as informações do seu próximo alvo já estarão disponíveis. -Charles diz se direcionando a mim.

-Sim, senhor. Com sua licença.

Judith me conduz até o saguão e me coloca de frente a escada de madeira que divide os andares, a escada é em espiral e do primeiro ao último degrau têm um tapete de veludo vermelho decorando. Não sei pra quê tanta frescura, eu não estou realmente interessado na menina, só em mantê-la viva.

-Lucy, já pode descer! -Judith grita empolgada.

-Puta, merda! -Murmuro em admiração enquanto Lucy desce as escadas.

-Com licença, crianças. Vocês tem muito o que conversar. -Judith sai e nos deixa a sós.

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