Hoje

A manhã é cinzenta como todas as manhãs de dezembro, provavelmente teremos neve hoje de novo, o frio é delicioso e mantém meu corpo em alerta. Lucy continua dormindo tranquilamente na cama, agarrada aos edredons, enquanto isso eu já me levantei, fiz um treino bem pesado pra gastar toda a energia que acumulei nas horas em que essa garota dormiu em cima de mim, fui ao Wallmart e comprei algumas roupas pra ela, afinal, não posso levá-la à Charles vestida em uma das minhas blusas de frio.

Tomo um banho bem quente e deixo a água expurgar todos os pensamentos e sentimentos que adquiri desde ontem. Hoje, finalmente tudo isso acaba. No closet visto um terno preto de alfaiataria, camisa social da mesma cor e sapatos Oxford Wholecut. Penduro o paletó no cabideiro até a hora de sair. Prendo o cabelo num coque improvisado e pronto. Hora de acordar a bela adormecida.

-Lucy, acorde. -Chamo baixo, para não assustá-la, mas ela nem se mexe. -Lucy, hora de acordar. -Chamo um pouco mais alto dessa vez e ela se agita um pouco, mas não acorda. Droga. -Moça! Acorde! -Falo alto e dessa vez ela abre os olhos assustada. -Desculpe, eu não quis assustar você, mas chamei outras vezes e você nem se mexeu.

-Eu não quero acordar, quero dormir pra sempre. -Ela murmura e se esconde debaixo dos edredons.

-Não temos tempo pra isso, menina. Levante-se. -Puxo os edredons apenas para revelar suas pernas e uma bunda nua virada pra cima, porra! -Trouxe umas coisas pra você, estão numa sacola no armário do banheiro. Faça sua higiene e me encontre na cozinha para o café da manhã. -Viro de costas enquanto falo, sem distrações por hoje, pelo amor de Deus.

Lucy se levanta relutante e caminha em direção ao banheiro do quarto. Além das roupas, comprei também lingerie, um par de sapatilhas, que espero muito que estejam no tamanho certo, escova de dente e de cabelo, gilette, desodorante, hidratante corporal, coisas de mulher. Ela precisará estar no mínimo apresentável se for realmente leiloada.

Na cozinha, preparo o café da manhã, ovos, bacon e panquecas com mel, um café forte e quente pra fechar com chave de ouro. Coloco todos os alimentos sobre a mesa e poucos minutos depois Lucy chega na cozinha, vestindo calça jeans escura e justa, uma camiseta preta simples e sapatilhas pretas, roupas do Walmart não são muito glamourosas, mas mesmo assim ela está linda.

-Tem secador na primeira gaveta do armário, no banheiro. -Digo ao perceber seus cabelos enxarcados. -Vai acabar ficando doente.

-Posso secar depois do café? Estou faminta. -Lucy se senta e começa a comer algumas tiras de bacon. -Quanta comida, mais alguém vem para o café da manhã?

-Não, é tudo pra mim. -Murmuro entre uma garfada e outra.

-Você come tudo isso? -Ela me olha espantada.

-Geralmente eu como mais, mas hoje estou com pressa.

-Entendi. -Ela encara os dedos e se levanta. -Eu acho que não estou com fome, vou subir pra secar o cabelo.

-Você deveria comer. -A menina provavelmente fazia péssimas refeições naquela jaula.

-Não, você está com pressa. Vou agilizar as coisas pro seu dia correr sem nenhum atraso.

-Lucy... -O que eu posso dizer? Eu quero realmente me livrar dela. -Você vai ficar bem, tenho certeza.

-Mas eu não tenho. Com licença. -Ela se vira e sai correndo.

Quanto drama para uma manhã de quarta-feira, que inferno! Eu não vou ficar adulando essa menina, não dá. Eu fiz o que pude, tratei bem, dei até carinho, deixei dormir comigo, alimentei... Eu não posso fazer mais nada! Se Charles me visse agora diria que estou amolecendo e riria de mim. Eu deveria mesmo era subir naquele quarto e mostrar para aquela garota quem está no comando aqui.

Depois de terminar meu café da manhã num silêncio reconfortante, decido finalmente subir e ver como está a garota. Quando chego a porta está trancada, é sério que ela acha que pode me afastar dentro da minha própria casa? Digito meu código secreto no painel ao lado da maçaneta e a porta destranca automaticamente, essa casa foi pensada inteiramente para mim.

-Eu sei que o quarto é seu, mas pode me deixar em paz?

-Se queria paz, porque não foi para o quarto que designei à você ontem?

-Porque eu não lembro onde é, porra! -Ela se levanta da cama e grita comigo. Audaciosa, confesso.

-Você deveria tomar cuidado com a forma como fala comigo. -Me aproximo alguns passos, parando pouco mais de um metro de distância.

-Ah, é? E você vai fazer o quê? Eu não tenho nada a perder mesmo. -Lucy se aproxima eliminando qualquer espaço que havia entre nós. Seus olhos verdes desafiando os meus.

-Não vou cair no seu jogo, garota. Você pode até me desafiar, mas eu nunca encostaria o dedo em alguém que não fui contratado para matar. -Mantenho o contato olho no olho e deixo cada palavra soar fria e ameaçadora. -Não vou te machucar, mas você tem brincando comigo desde que chegou aqui ontem e em respeito à tudo o que você passou e vai passar, eu tenho sido muito paciente e até bondoso, espero no mínimo que você retribua.

-Tem razão! -Ela sussurra e fica na ponta dos pés, chegando perto demais do meu rosto. -Eu vou retribuir. -Dito isso, ela me beija.

Merda! Como posso resistir a isso? As mãos pequenas circulam minha nuca, me puxando para mais perto, minhas mãos automaticamente apertam os quadris da garota, colando o corpo dela ao meu, nossos lábios se devoram e por mais gostoso que seja, eu sinto que não deveria estar fazendo isso... Mas que se foda! Eu vou comer essa garota até estar plenamente satisfeito, eu fui desafiado por ela várias vezes, mesmo assim continuei atendendo à seus pedidos e me deixando levar pelas idéias e melancolias dela, minha vez de receber algo em troca.