Arrumo umas pantufas velhas para Lucy e entrego uma das minhas calças de moletom para ela vestir. Não acredito que estou fazendo isso... Está um frio do Alaska, são mais de uma da manhã e estou levando a garota para dar uma volta no condomínio. Até que ponto a compaixão pode levar um ser humano? Eu não sei, nunca havia sentido compaixão antes...
Abro a porta meio incerto, mas para onde ela poderia fugir? Posso facilmente soltar meus cães e em segundos eles a encontrariam... Caminhamos pela calçada durante alguns minutos, chegando até as demais casas do condomínio. Lucy olha tudo ao redor com olhos perdidos e sem vida, os braços cruzados e ombros caídos. Pobre menina...
-Sabe, eu já entendi que minha vida está chegando ao fim. Nunca me deixarão viva depois de tudo que meu pai fez... Eu só queria me sentir normal de novo, pelo menos uma vez, antes de morrer.
Permaneço em silêncio, porque não sei o que responder. Posso sugerir à Charles que leiloe a menina, mas isso não é garantia de uma vida feliz.
-Eu tinha uma namorado, na faculdade. -Ela começa a dizer. -O nome dele era Joseph. Eu era completamente apaixonada por ele... Também tinha uma melhor amiga, Hanna, éramos como metades da laranja. Até meu pai era bom, na maioria das vezes, mas o dinheiro sempre foi mais importante pra ele. Fiquei quase quatro anos naquela jaula, no começo meu pai sempre me alimentava, me deixava tomar banho e trocar de roupa, depois parece que ele foi se esquecendo, se habituando a me ver como um nada, a me dar só o necessário pra não morrer de fome... E agora, que finalmente alguém me tirou de lá, serei morta por consequência dos erros daquele desgraçado! -Ela para de andar e cobre o rosto com as mãos, chorando e soluçando copiosamente.
-Não chore, moça. Talvez tenha um jeito de você continuar viva. Só não posso garantir que seja uma boa ideia. -Digo sem pensar, na tentativa de fazê-la parar de chorar.
-Como? -Olhos verdes inchados e molhados me encaram.
-Talvez eles possam vender você como esposa para algum integrante da máfia, só membros importantes podem comprar uma esposa...
-E ir de uma jaula para outra? Não, obrigada. Eu prefiro a morte, não terei garantia nenhuma em um casamento forçado.
-É o único jeito. -Dou de ombros.
-Obrigada por tentar me ajudar, mas eu não quero me casar com um homem que muito provavelmente vai me maltratar.
-É a única hipótese. Mas se não é uma opção, acho bom continuar se despedindo da vida. -Murmuro irritado, às vezes eu não queria ser tão ríspido, mas é inevitável.
Lucy não responde, apenas continua caminhando e eu já estou impaciente e louco pra voltar pra dentro da minha casa, deitar na minha cama e dormir tranquilamente, mas decidi deixar a menina se despedir desse plano do jeito que ela preferir. Depois do que parecem horas, mas que não deve ter durado mais que 40 minutos, Lucy decide voltar, motivada pelo frio intenso e início de uma nevasca. Quando chegamos em frente a minha casa ela para.
-Sua casa é muito bonita, bem afastada, segura... Eu gosto.
-Obrigado.
-Você não é de falar muito, não é?
-Eu gosto do silêncio. Vamos entrar? -Estendo a mão em direção a porta, direcionando a menina.
-Tyler? -Ela chama assim que entramos.
-O que foi, Lucy?
-Posso te pedir uma coisa?
-Menina, me deixa ir dormir. -Digo exasperado, ela não cansa? Mas quando olho para seus olhos tristes, me arrependo. -Pede, o que você quer?
-Você pode me dar um abraço?
-Que tipo de pedido é esse? -Quando foi a última vez que abracei alguém? Mais especificamente uma mulher, sem a intenção de levá-la pra cama? -Eu não sou o tipo de cara que abraça, Lucy. Eu sou o tipo que mata, o vilão.
-Bem, eu já estou praticamente morta, não é? Eu só queria sentir o calor humano mais uma vez...
Essa situação está insustentável, assim que para de falar, Lucy se aproxima de mim e me abraça, forte, apertado, deitando a cabeça no meu peito e inspirando com força. Fico imóvel, não sei o que fazer, eu gostaria de poder consolá-la, mas sou eu quem vou levar a pobre moça para o abatedouro, oferecer conforto parece hipocrisia demais... Não satisfeita, Lucy pega meus braços e coloca ao redor de seu corpo frágil, me forçando a retribuir. Isso me faz perceber o quanto ela é pequena, o quanto está desprotegida e assustada. Mas, que porra! Eu não posso deixar matarem essa menina, ela ainda tem tanta vida pela frente. Aperto meus braços ao redor dos ombros dela e apoio meu queixo na sua cabeça, inspirando o cheiro de shampoo de seus cabelos recém lavados. Eu não posso garantir que vou protegê-la, isto está longe da minha alçada, mas posso tentar arrumar um bom comprador, um homem que será no mínimo cuidadoso com ela. É isso, o leilão é o único jeito.
Depois de muitos minutos abraçados, Lucy finalmente me solta e sinto minha camiseta molhada pelas lágrimas que ela derramou. Embora tenhamos nos soltado, Lucy ainda continua próxima demais, o que me deixa atordoado e com vontade de abraçá-la de novo. Eu não sou sentimental, mas tudo sobre essa garota mexe comigo, tanto sofrimento e dor me fazem querer protegê-la e eu odeio sentir isso, porque está completamente fora do meu alcance.
-Tyler. -Ela levanta o rosto na minha direção e dá um passo à frente, praticamente colando o corpo ao meu, me forçando a olhar para baixo para encarar seu belo rosto. -Eu vou beijar você! -Antes que eu possa protestar ou sequer pensar em alguma resposta, Lucy fica na ponta dos pés e me beija, segurando firme minha nuca e me puxando para si.
Automaticamente, minhas mãos agarram a cintura fina por cima do roupão grosso e quente, retribuo o beijo desesperado de Lucy, com o mesmo nível de desespero. Eu não sei o que estou fazendo e também não sei porque fico tão à mercê dela, mas esse beijo despertou alguns lados meus que essa menina jamais deveria conhecer...
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Atualizado até capítulo 110
Comments
teti andrade
nossa Lucy é do time do tudo ou nada negócio rápido se piscar perdeu kkkkkk
2025-03-19
11
Adriana Pessanha
Já que tá no inferno abraça o capeta kkkkk
2025-03-27
1
Daisy Conceicao
nossa a Lucy é esperta,já tá conquistando ele pra não morrer
2025-03-24
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