Tormenta

-O que foi isso? -Digo ofegante, depois do beijo mais demorado da minha vida e o mais delicioso também.

-Desculpe, eu só queria lembrar como era... -Ela se encolhe e abaixa a cabeça, visivelmente envergonhada.

-Escute, não sinta vergonha. Foi só... Inesperado. -Busco os olhos dela com os meus. -Eu sinto muito, de verdade. Eu nunca precisei sentir pena ou remorso, todos os meus alvos carregam culpa, mas você é inocente e isso me desarma. Também não queria que tudo isso acontecesse. Eu gostaria de verdade que alguém tivesse ido resgatar você, que alguém pudesse libertar você, moça. Mas, infelizmente foi o contrário e eu sou o vilão da história.

-A culpa não é sua. Só meu pai é culpado nessa história, se ele não fosse tão ganancioso...

-Se quiser, posso dar a ideia do leilão. Pagariam por você e o Capo nunca recusa dinheiro.

-Eu tenho medo. Tenho de medo de voltar a viver em uma jaula, presa, de alguém não me dar o básico de afeto e compaixão que um ser humano merece. Eu seria apenas uma mercadoria, descartável...

-Como eu disse, é o único jeito. -Me afasto da garota e caminho até o fim do hall de entrada. -Eu vou dormir, seu quarto você já sabe onde é.

Subo às escadas em direção ao segundo andar, onde ficam todos os quartos, o meu é o último e também o maior, com móveis escuros, banheiro e closet. Eu só quero descansar e esquecer toda essa merda. Essa garota me trouxe pensamentos e sensações demais, mas amanhã tudo isso acaba, de um jeito ou de outro.

Tomo um banho de chuveiro dentro do banheiro da suite, a banheira não é uma boa na hora da pressa, estou fisicamente exausto por causa da luta com todos aqueles seguranças e mentalmente mais exausto ainda por causa dessa menina. Fecho o chuveiro e enrolo a toalha no quadril, caminho até o closet e pego uma calça de pijama cinza para vestir. Geralmente não durmo com o cabelo molhado, mas hoje vou fugir à regra, me deito de barriga pra cima e fico encarando o teto por longos minutos, minha mente divaga para o momento em que Lucy estava nua no banheiro da mansão, seios medianos e bonitos, com mamilos pequenos e rosados, pele branca e alva, pelos pubianos ruivos como seus cabelos, pernas lindas e finas. Imagino como ela era antes de toda aquela merda, com o corpo bem cuidado, cabelos sedosos, bem arrumada, a personificação de uma deusa...

Ouço barulho de batidas na porta. Céus, o que essa menina quer? Olho de soslaio para o relógio de parede, vejo que já são quase 3 da manhã e eu ainda não consegui dormir e agora além de atormentar meus pensamentos, essa garota vem me atormentar pessoalmente. Me levanto e abro a porta.

-O que foi, Lucy?

-Posso dormir aqui? -Ela joga a cabeça de lado e sorri, golpe baixo.

-Não achou seu quarto confortável?

-Sim, mas estou assustada. E não quero ficar sozinha...

-Porra... -Reviro os olhos e suspiro. -Pode, garota. Entre!

Quando ela passa por mim, reparo que está vestida na minha blusa cacharrel novamente, abandonou o roupão e a calça do pijama que eu havia lhe emprestado.

-Foi uma tentativa de não me sentir tão sozinha, tem seu cheiro nela. -Diz quando me percebe encarando a blusa. -Mas não adiantou, continuei assustada e com medo.

-Certo Lucy, você pode dormir na minha cama, eu fico na poltrona. Só me deixe descansar, okay? O dia foi exaustivo.

-Claro, obrigada. -Ela diz e praticamente corre pra debaixo dos edredons quentinhos.

Me sento na poltrona e observo a dama pequena, encolhida na minha cama. É tão estranho, o único a vir na minha casa eventualmente é o senhor Charles, nunca nenhuma mulher. Não sei o que pensar sobre isso, sobre o beijo, sobre toda essa situação. Por que o maldito Lucas White tinha que ter trancafiado a própria filha? Não era só esconder o pendrive em qualquer outro lugar? Ele era um louco, sádico e maníaco e por sua causa eu estou passando por isso. Amanhã pelo menos, tudo isso acaba e eu nunca mais terei que ver essa menina, espero de verdade que ela encontre um bom marido e seja muito feliz.

-Tyler?

-Por que não está dormindo, Lucy?

-Não consigo. Minha mente está um caos. Posso te fazer mais um pedido?

-Faça. -Céus, que menina insistente.

-Deita comigo?

-Você não é um pouco abusada demais, não? -Reviro os olhos e me levanto, caminho até a cama e me deito ao seu lado.

-Não tenha uma má impressão minha. Em condições normais, eu não sou assim.

-Posso imaginar. Agora vamos dormir.

Lucy se encolhe ainda mais ao meu lado, eu fico imóvel, deitado de barriga pra cima, meu corpo todo ciente da nossa proximidade, ciente da nudez da garota por baixo da blusa que ela usa. Minha mente me trai e me faz lembrar do beijo gostoso que ela me deu, da sensação de suas curvas delicadas em minhas mãos, a ereção só aumenta entre minhas pernas e fica ainda mais claro que essa foi a pior ideia de todas. Estou me deixando levar pela compaixão por essa ruiva, fazendo coisas que eu jamais faria, mas é como ela disse, "em condições normais, eu não sou assim".

-Tyler? -Lucy sussurra.

-Porra, Lucy! Me deixa dormir, pelo amor de Deus. -Murmuro irritado.

-Desculpe.

-Diga logo, o que quer?

-Pode me abraçar mais uma vez?

Me viro de lado e a abraço, ficando afastado apenas da pélvis para baixo, não posso deixar meu corpo me trair, fecho os olhos e inspiro profundamente, me concentrando em qualquer coisa que não seja o corpo quente e delicioso colado ao meu. Eu só quero que essa porra toda acabe logo...

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