Segurança

Lucy corre as mãos por meus braços e peito, circulando alguns desenhos das tatuagens, olhando atentamente para cada uma delas e me causando arrepios prazerosos.

-Essa caveira é enorme. Eu gosto. -Ela desenha por cima da caveira no meu abdômen. -Devia ser crime alguém ser tão bonito.

-Eu concordo. Você é linda e isso têm sido uma distração pra mim. Mas você está doente e eu não vou fazer nada com você nesta situação.

Entro no meu quarto e vou direto para o banheiro, preciso de um banho frio, essa menina vai me deixar louco. E pelo que disse, ela não vai me deixar em paz. Se isso é o que ela quer, é o que ela terá, mas não enquanto ainda está doente, não com aqueles pontos no pescoço. Não sou maluco, embora queira muito comer aquela bocëtinha... Só preciso manter a cabeça no lugar, a de cima e a de baixo.

Saio do banho e me sento na cama ao lado de Lucy, que está sentada com as pernas cruzadas, olhando ao redor com uma expressão sem graça.

-O que foi? -Pergunto mais pra puxar assunto. Preciso esclarecer tudo entre nós.

-Nada, só estou assimilando tudo. Eu estive presa por anos da minha vida, depois fui resgatada, operada e vendida. Não posso nem reclamar porque se não estivesse aqui, estaria morta. Mas você me faz bem Tyler, seu abraço, seu beijo, não sei porque, mas faz. E eu não terei isso também... Acho que é só carência. Aos poucos vai passando.

-Ouça Lucy, eu não queria que você pensasse que por ter sido comprada como esposa, teria a obrigação de føder comigo. Eu não queria que você ficasse desconfortável ou que fizesse apenas pra me agradar. Achei que dizendo que não tocaria em você, você ficaria feliz, ou pelo menos aliviada.

-É, eu realmente devia me sentir assim. Mas na verdade, eu fiquei triste quando você me disse isso. Imagine só, eu fui liberta e achei que ia morrer, você fez de tudo pra me manter viva, na minha cabeça eu iria me casar com um cara que nunca vi e que poderia ser um monstro, mas então descubro que você quem me comprou... Estou tão confusa, além do mais eu já fødi com você antes, porque não ia querer agora?

-Não é um problema pra mim. -Dou risada e Lucy relaxa um pouco. -A verdade é que você me deixa completamente louco, e eu não estou falando só da sua beleza, mas do seu jeito, sua força... Passei a madrugada toda de pau duro na noite que você dormiu na mesma cama que eu. -Lucy ri. -É sério! Por isso me descontrolei de manhã...

-Desculpa, eu tava com tanto medo que nunca iria conseguir dormir sozinha.

-A questão é a seguinte, pra mim seria maravilhoso ter seu corpo, seu cheiro quando eu quiser, ou quando você quiser. Mas será que conseguimos manter isso, sem nenhum sentimento?

-Por que, sem sentimentos?

-Porque a vida que eu levo é muito perigosa, Lucy. Não quero que você ame alguém que pode morrer a qualquer momento.

-Todo mundo pode morrer a qualquer momento, Tyler. -Ela dá de ombros.

-Mas as chances são muito maiores pra mim. Se eu saio por aquela porta, você pode ter certeza que é com uma lista na mão, com nomes a serem executados. Nem sempre é fácil como foi com seu pai. E eu preciso estar completamente focado no meu trabalho, não posso sentir distração ou medo. E o medo é uma consequência do amor, entende?

-Faz sentido. Eu estou no lucro, sai de um cárcere péssimo, para um cárcere luxuoso onde o carcereiro é um tatuado gostosão. Se tem sentimentos ou não, a mim não importa.

-Ótimo, mas aqui não é um cárcere. É sua casa agora. E você pode sair, mas não pode trabalhar, esposa de mafioso não trabalha, ter uma rotina estabelecida é perigoso demais...

-E o que eu vou fazer? Pilates? -Lucy ri.

-Acho que nesse minuto a única coisa que você deveria fazer é se preocupar com sua saúde. Pavlovic vai mandar uma enfermeira aqui mais tarde, você vai ter que tomar ferro direto na veia, 3 bolsas e por 3 semanas. Depois disso, poderá fazer a atividade física que quiser e se ainda estiver a fim disso aqui, -Aponto para mim mesmo. - aí a gente conversa.

-Eu vou perguntar a enfermeira se sexo está proibido e se ela disser que não, você me paga! -Lucy desafia.

-Eu pago o que você quiser. Mas agora eu vou descer, se você abrir aquela porta de correr do closet, verá que tem uma tv, pode ficar a vontade. E descanse. Vou preparar nosso almoço.

Na cozinha começo a preparar uma refeição decente e nutritiva, quinoa com frango e legumes, algumas omeletes com queijo e faço um suco natural de laranja, cenoura e beterraba. Afinal a menina precisa comer bem pra estar saudável e eu amo a vida saudável, comidas, exercícios físicos e mentais, tudo que possa manter um ser humano bem e forte, física e psicologicamente. Aproveito enquanto as coisas estão no fogo para ligar para Rubens, um dos meus colegas de quartel, servimos juntos no Irã e desde então somos bons amigos.

-Ty! Quanto tempo, irmão! Como você está?

-Estou bem, meu caro e você?

-Prestes a me casar e já ia entrar em contato para te convidar. Quero que seja meu padrinho.

-Pørra, é sério? Parabéns! Estou feliz por você e claro que aceito ser seu padrinho.

-Maravilha! Vou te enviar o convite por e-mail, já que moramos tão longe. -Rubens ri do outro lado da linha.

-Escuta, eu preciso de um dos seus caras.

-Um soldado? Por quê? Achei que se resolvia sozinho... -Ele provoca.

-Eu me resolvo, mas agora tem uma moça na história.

-Tá de brincadeira? Tyler Morgan está namorando?

-Não. Estou casado. -Dou risada e Rubens ri também.

-É sacanagem, não é? -Fico em silêncio por alguns segundos e Rubens me entende. -Caralhø, você não tá brincando. Eu devo dizer o quê? Parabéns?

-Eu sei lá, porra. A história é longa e eu prometo te contar tudo, mas não por telefone. Consegue me arrumar um soldado? A moça vai precisar de um segurança pra quando for sair de casa.

-É claro irmão, um dos melhores e mais discretos. Só que esses custam caro.

-Você sabe que dinheiro não é problema.

-Filho da putä, arrogante. -Rubens ri e depois disso começamos a conversar amenidades.

Depois de desligar me mantenho ocupado na cozinha até que sinto a presença de Lucy, levanto a cabeça e vejo ela parada do outro lado da ilha me observando.

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