Mentiras

...Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite....

...— Clarice Lispector....

5:00

   ESTAVA CHOVENDO FORTE. JANELAS FECHADAS, GOTAS DE ÁGUA BATENDO-SE CONTRA O VIDRO COMO SE FOSSEM PEDRAS.

Cortinas abertas e olhos mais abertos ainda. Estava sem sono, não sabia o porquê, sentia uma melancolia grande, como se todos os seus problemas do passado a tivessem atormentando agora, como se todos os comentários negativos que ela tivesse lido depois que começou esse negócio de noiva falsa à atingisse agora. Crise. Depois de todos esses anos, a crise veio agora.

   A festa pareceu esgotar tudo dela.

   Precisava procurar fazer algo, não queria chorar, não queria sentir pena de si mesmo. Não queria pensar em sequer concordar sobre qualquer coisa negativa que dizem sobre ela. Por que topou fazer isso em primeiro lugar? No começo foi a ideia de querer atingir a irmã mais nova e porque já não aguentava a pressão da sua família para que encontrasse alguém, mas e agora? O que a incentiva continuar com isso?

   Jogou os cobertores que cobria o seu corpo para o lado. Ao botar seus pés no chão, gemeu baixinho, sentindo o mesmo gelado contra sua pele. Levantou-se, decidindo que iria conhecer outros cômodos da casa que ainda não tinha visto. Passou por diversos corredores, olhando os quadros na parede até que parou no último, achando uma sala aberta. Entrou, olhando para todos os lados, até que sua visão se prendeu no piano.

   Se aproximou com passos hesitantes. Sentando-se na cadeira de frente, a mesma suspirou, triste. Passou as mãos pelo teclado e encostou sua cabeça contra a madeira branca. Apertou na primeira tecla, testando o som. Depois começou com uma melodia simples, sentindo seu corpo relaxar, até que notou que estava tocando If The World Was Ending de JP Saxe e Julia Michaels.

   A tristeza não passou, contudo o piano a distraía, enquanto ela tentava acertar as notas. Fechou os olhos, ainda tocando e encostou sua cabeça no piano de calda branca novamente. Cantou a parte do refrão, se sentindo ainda mais melancólica por causa da letra.

   Alguém iria até ela ou ela teria alguém para ir? Não sabia responder isso. Não de forma romântica, já que parecia que nada dava certo para ela quando se tratava de assuntos que envolvia o coração.

   Desistiu de encontrar alguém que a entendesse e que gostasse da companhia de sua menina, é por isso que passava tanto tempo em companhia de homens que só queriam sexo.

Parou, respirando fundo, olhando para as teclas.

— Você é boa, nunca que eu iria imaginar você tocando piano e... cantando, mesmo que tenha sido só uma pequena parte — Jimin estava na porta encostado com braços cruzados.

Mor reprimiu um gritinho de susto quando o viu alí, optando só por arregalar os olhos, mas logo se recompôs.

— Desculpa se eu o acordei, eu não conseguir dormir — Mor encolheu os ombros.

— Não precisa se desculpar — Jimin parecia analisar a garota. — Com quem você aprendeu?

— O quê?

— A tocar.

— Ah — ela se levantou e se sentou no chão gelado, se encostando na parede. — Eu só sei tocar essa música, insistir que meu amigo me ensinasse ao menos essa.

Park se aproximou, sentando-se ao lado dela. Mor evitou olhar para ele, sabia que o mesmo estava injustamente atraente demais com seus cabelos bagunçados e a calça moletom, vestido com uma camisa preta simples.

— E por que insistiu nessa?

Mor deu uma risadinha.

— Eu estava passando por uma decepção amorosa.

— Com o babaca do seu ex, no caso — Park revirou os olhos, irônico.

— Ah, você o conheceu, né? — olhou para baixo, deprimida. — Ele nem sempre foi assim. Era realmente uma boa pessoa ou talvez eu só tivesse sido cega demais para perceber.

— Quanto tempo ficou com ele?

— Seis, sete anos, não sei — fez uma careta.

— E por que não estão mais juntos? Tirando o fato de ele ser escroto pra caralho.

A menor riu.

— Descobri algo que te deixa puto e que te faz falar palavrão! Incrível.

Park também riu.

— Diga logo, não enrole

Mor fez uma expressão de desgosto.

— Eu não sei. Simplesmente acordei um dia decidindo que eu merecia mais — deu de ombros. — Como eu disse, ele era maravilhoso, mas não me tratava do jeito que eu queria e... ele me deixava constantemente triste.

Jimin se sentiu mal imediatamente por tocar no assunto quando viu a expressão triste da menor, como se aquela garota que o insultava todos os dias nunca existiu. Se aproximou, passando suas mãos sobre o ombro dela.

— Desculpa, não queria tocar em um assunto delicado — Park a apertou contra seu corpo.

— Está tudo bem, não é como se fosse surpresa o fato de ele ter enjoado de mim e tivesse se aquecendo na cama de sua prima — a voz dela ficou embargada, deixando claro o quanto aquele assunto ainda a afetava.

— O quê?! — Jimin olhou para ela, se sentindo ainda pior. Quem traí a mulher com a própria prima?

Mor se afastou dele, logo se levantando.

— Eu vou tentar dormir, Eize vai acordar daqui a pouco e vai querer brincar — avisou, envergonhada.

Jimin murchou.

— Oh... tudo bem... eh

— Boa noite — caminhou até a porta.

— Espera! — Park a chamou e ela parou de caminhar, sem olhar para trás, esperando. O mesmo se levantou, se aproximando — Eu preciso fazer isso de novo antes de viajar.

— Você precisa fazer o quê...

   Jimin a puxou, abaixando um pouco o seu corpo para poder aproximar seus lábios. Mor hesitou, surpresa. Não demorou muito para se recompor e retribuir o beijo, sentindo seu corpo esquentar e seu coração doer de tanta felicidade. Não sabia que havia esperado por isso até o ter alí, mas o que isso significava pra eles?

Se separaram, ofegantes.

— Uau... — a menor dava passos para trás, surpresa. — Isso... isso foi... incrível, mas eu preciso ir — apontou para trás e quase saiu correndo, se não fosse pela mão de Park que a segurou.

Jimin sorriu para ela, seus olhos sumindo em seu rosto fofo.

— Eu queria fazer isso desde o momento que ti vi, ainda mais hoje ao observar você conversando com outro — ele a beija novamente, um pouco mais demorado que o anterior e se separam de novo. — Você ainda vai estar aqui quando eu voltar, certo?

— Claro, eu não vou para lugar algum — concordou, saindo as pressas e sentindo seu coração querer sair pela boca.

  Merda, ela precisava acabar com esse contrato.

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