Você não mudou

DAS UTOPIAS

...Se as coisas são inatingíveis... ora!...

...Não é motivo para não querê-las......

...Que tristes os caminhos, se não fora...

...A presença distante das estrelas!...

...— Mario Quintana....

— VOCÊ NÃO PODE FICAR ME CHAMANDO TODOS OS DIAS PARA A SUA CASA porque não sabe o que fazer da sua vida — Louis revirou os olhos, jogando sua bolsa em cima do sofá.

— Não é minha casa — Mor estava jogada no tapete felpudo no chão.

   Louis tirou o casaco e o colocou atrás da porta. Já fazia quatro semanas desde que Jimin viajou e que Mor ignorava suas ligações. Pra quem era acostumada a fazer isso, ela não estava se sentindo bem com sua consciência, então ligava todos os dias para Louis pedindo para a mesma lhe fazer companhia.

— Sem dramas, isso não combina com você — Louis se jogou no sofá.

— Porque nunca tive motivos para tal, mas agora tenho — choramingou.

— Você não tem. Entrou nisso sabendo das consequências — retrucou. — Já está na hora de você parar de ignorar as ligações dele.

— Eu não estou...

— Está sim, eu vi no seu registro de chamada.

Mor olhou para ela, surpresa.

— Você mexeu no meu celular!

— Não deveria ficar surpresa, eu basicamente mexo em tudo — deu de ombros.

  Mor suspirou, sabendo que brigar com ela não levaria a nada.

— Eu tô com medo, Lou. Por que sinto que vou me machucar?

— Eu já disse, que se alguém tem que ficar preocupado, esse alguém é ele — Bocejou. — Pelo amor de deus, você é tipo uma... bomba ambulante? Acho que é isso, não sei, enfim, não importa! O que importa é, você foi machucada demais por aquele idiota e até agora não se mostrou pronta para um relacionamento.

— Não sei se algum dia vou está pronta — murmurou. — Você tem cigarro? — levantou um pouco o corpo, olhando para amiga que lhe jogou uma carteira com o isqueiro, acendendo quase que imediatamente. — Oh, muito melhor.

— Enfim, o que eu quero dizer... — continuou. — É que você afasta as pessoas antes que fique sério demais. Sério demais para você, porque geralmente os homens já estão apegados.

Mor encolheu os ombros.

— Sempre fui muito sincera sobre isso, nunca os dei falsas esperanças.

— Eu sei, mas aposto que alguns achavam que iria mudar sua maneira de pensar — Louis sorriu para ela, tentando aliviar a conversa.

— Louis... — hesitou. — Eu sou assim tão fodida? — Perguntou baixinho.

   A amiga abriu e fechou a boca várias vezes, não sabia como responder aquela pergunta. Geralmente a menor não era tão sensível sobre essas coisas, então isso provava o quanto ela realmente estava apaixonada pelo Park. Só não sabia se ficava feliz ou preocupada. Mor por mais sensível que fosse e na maioria das vezes, absurdamente grossa, havia uma grande lista sobre homens que ela já tinha partido o coração de uma maneira horrivelmente fria. Não sabia como aquela mulher tinha se tornado essa coisinha... sentimental, era quase como se ela tivesse ainda mais diminuído na altura e ficasse absurdamente fofa.

— Você passou tanto tempo... brincando — disse, cautelosa. — Que talvez já não saiba como demostrar seus sentimentos. Quando eu digo que você vai machucar ele, digo sobre o que você tá fazendo agora. Ele tem te ligados à dias e você não atende.

   Mor sentiu seu coração afundar no peito, era sempre assim. Quando tentava fazer a coisa certa, sempre já é tarde demais para cair fora, então sempre alguém saia machucado nessa história, mas dessa vez seria ela. Assim como quando deixou o seu ex marido ou de quando tentou não machucar os sentimentos de um homem que ela havia considerado o seu amigo, mas ele havia se apaixonado por ela.

   Na cabeça de Louis tudo isso parecia ser simples de se resolver, contudo Mor não fazia ideia de como lidar com isso. Estava com medo de se magoar, mas já estava magoada, não pelas atitudes dele e sim com as dela que não conseguia se decidir sobre o que realmente queria ou o que sentia. Sempre foi racional, entretanto seus sentimentos estavam a flor da pele e nem se ela quisesse seu cérebro iria conseguir dá uma solução. 

— Mor, não acho que quando você gosta realmente de alguém, você trata como está tratando agora — Louis olhou tristemente para amiga.

  Mor assentiu com a cabeça, sem dizer nada acendeu outro cigarro.

...[...]...

   Já fazia horas desde que a sua amiga havia ido embora, alegando que hoje sairia pra jantar com Robert e que voltaria outro dia para saber como ela estava. Desde que sua amiga sairá, ela ficou sentada no chão, com as costas encostadas no sofá, com um copo de uísque na mão e na outra o cigarro. Não chegava ser um vício, contudo nas condições que se encontrava agora, seria quase impossível aguentar todo esse peso sóbria.

   Ter que lidar com o fato de ser fudida psicologicamente não era fácil, sabia que deveria procurar um profissional. Todavia, procuraria para quê? Não tinha intenção de afirmar laços com ninguém, o mundo desse homem com o qual morava não a pertencia e parecia mais uma penitência que uma dádiva.

   Ouviu duas batidas na porta antes da mesma se abrir. Uma Eize sonolenta entrou cambaleando e foi até a sua mãe. Mor apagou o cigarro, logo abraçando a menina e tomando cuidado para seu copo não caí no chão. Aquela pequena garota era o único motivo pelo qual ela lutava todos os dias, o motivo pelo qual valia a pena levantar da cama e só o fato de a ter alí com ela naquele dia enchia o seu coração de felicidade, embora esteja se sentindo envergonhada por ela ter lhe pego nessa condição precária.

— Oi meu amor, tudo bem? — passou a mão livre para tirar a franja da menor do rosto, que fazia um esforço para manter os olhos abertos.

— Eu... Tô — bocejou e esfregou os olhos.

— Vá para o quarto, daqui a pouco estou indo ver você, ok? Eu amo você — beijou a testa da pequena, que saiu caminhando até seu quarto, abrindo a porta.

   Mor pegou outro cigarro e acendeu, sabendo que ela precisaria de mais do que bebida para aguentar a presença de quem estava alí.

— Oi, Dean — sorriu maliciosamente para ele, enquanto levava o copo aos lábios, bebendo todo o conteúdo.

   Dean, o seu ex, se aproximou.

— Você não mudou nada.

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