Café

...Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego....

...— Guimarães Rosa....

   DUAS SEMANAS SE PASSOU DESDE QUE MOR SE MUDARÁ PARA A MANSÃO DE JIMIN.

Nada havia ocorrido de interessante para os dois, além de terem que fazer frequentemente entrevista juntos, falando sobre o namoro que virou de repente noivado. Era estressante, cansativo, chato e entediante. Quando chegavam em casa, Mor o ignorava completamente, raramente trocava palavras. Só quando ela queria assistir um filme que ele lhe fazia companhia e conversavam por horas, mas tirando isso, no dia seguinte, eram dois desconhecidos morando na mesma casa.

— Acho que nunca vou me acostumar de ter que me deparar com isso todas as manhãs — Park fingiu está assustado quando entrou na cozinha e se deparou com uma jovem de cabelos bagunçados, cara de quem não dormia direito há dias e camisola de bolinhas.

— Cala boca, seu verme — gemeu. — Eu não durmo bem há dias, sua agenda é uma merda, você é um merda. Famosos não dorme, não?

   Ela levou a xícara de café até os lábios. A mesma reclamava todos os dias sobre isso com Park, ele já até havia decorado as falas dela. E todo dia, na mesma hora, ele se perguntava se alguma vez na vida ela já tinha acordado de bom humor. Na altura do campeonato, ele nem se incomodava mais com os insultos que ela dizia pra ele 24hrs.

— São nove horas da manhã — Ele revirou os olhos.

— Se eu não trabalho não é nove horas, é de madrugada — resmungou, se havia algo em que odiava era ter que acordar cedo denecessariamente por algo trival, mesmo nos últimos anos tendo que fazer justamente isso por conta da sua carreira de aeromoça.

   Park ficou em silêncio, tomando seu café, observando um ponto aleatório na parede. Era estranho se sentir confortável com ela alí, talvez ele esteja sentindo isso porque passava tempo demais sozinho naquela enorme casa.

— Ei — Mor chamou sua atenção, fazendo-o erguer os olhos para ela. — Me responde uma coisa.

— Sim.

— Você... não fez isso tudo só por causa de marketing, não foi? — Perguntou, hesitante. — Eu lembro de você ter me dito que sua relação com seus pais não era boa, mas sei lá, não imaginava algo tão intenso — no momento que as palavras sai de seus lábios, ela se arrepende de as ter dito.

   Mesmo não tendo nada a ver com ela, ainda se sentia incomodada, imagina como ele deve se sentir já que era quem passava por tudo isso em silêncio e ainda ter que responder perguntas íntimas para uma até então desconhecida. Entretanto, Mor o havia avisado sobre isso, sobre ser indiscreta e sincera.

   Na noite passada, os dois teriam ido para uma festa em que os pais dele planejaram. Mor observou tudo, o comportamento deles e como eles pareciam julgar o filho em tudo que fazia, mas eles estavam felizes que Park iria se casar. E isso era nojento. Era nítido que Jimin queria fazer de tudo para agradar os pais e Mor sentiu seu coração afundar, porque eles não pareciam notar. No fim da noite, ao longe, Mor viu Nein chorar discretamente perto do corredor onde ficava os banheiros.

— Você não sente fome? — Ele estava nitidamente incomodado, dava pra perceber que queria mudar de assunto.

— O quê?

— Você, sempre toma apenas café puro e não come nada — ele vai até a geladeira com um copo de vidro na mão e o enchendo de suco de laranja.

— Se queria que eu cozinhasse para você era só falar, chefe — deu um sorrisinho, Jimin também riu, hesitante.

   A mesma levantou, antes que ele falasse algo e cozinhou para ele. Os dois ficaram no silêncio absoluto e depois não conversaram mais pelo resto do dia. Ela não o julgava por não querer desabafar, a mesma também não havia contado nada sobre si mesmo, não deveria cobrar algo que nem ela fazia e nem sabia se um dia contaria. Não que fosse algo realmente sério, mas sentia vergonha de si mesmo toda vez que se lembrava do que aguentará no passado apenas para continuar ao lado de alguém.

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