Sorvete

...Vamos nos acostumar a viver na estranheza, na esquisitice, protegendo-nos como podemos de atos, fatos e idéias bizzaros....

...— Lya Luft....

   MOR FOI ACORDADA PELA LUZ DO SOL QUE ATRAVESSAVA SUA JANELA ABERTA.

Contragosto fez um gesto para levantar a cabeça, mas acabou desistindo quando sentiu a forte dor. Olhou para o lado, notando várias roupas espalhadas pelo quarto, logo direcionando um olhar rápido para o seu corpo. Sua boca se abriu de surpresa quando olhou para de baixo do lençol e se viu nua.

— Só pode-

— Mamãe! — a porta foi aberta e uma menininha correu até ela, pulando em cima da cama.

— Mas o quê? Quem te trouxe? — Mor se forçou a levantar e da um abraço na menor e um beijo na testa.

— O Jimin! Papai quase não deixou, mas eu chorei — sorriu, orgulhosa de si mesma.

— Eh, eu não sei o que dizer sobre isso — Mor estava confusa. Como ele sabia onde Eize morava?

— Ele tinha perguntado onde eu morava na última vez que eu vir aqui. Disse que me levaria pra tomar sorvete com a senhora sempre que tivessem um tempo livre — a menina estava tão feliz que era quase impossível não sorrir junto com ela.

Ah, aí estava a sua resposta.

   Os olhinhos dela brilhavam de felicidade e Mor se viu triste. Era para ela ter dito aquilo para filha, em vez disso, Jimin fez o seu trabalho. Não sabia se ficava irritada ou agradecida. Porém ela não podia evitar o sentimento de que era uma péssima mãe.

— Me desculpa, mamãe promete que vai te recompensar — abraçou a pequena com força nos braços, sentindo as mãozinhas da menor se fechar ao redor dela.

— Aceito chocolate — sussurrou no ouvido de sua mãe.

— Por que está sussurrando? — Mor imitou a filha.

— Porque eu disse pro Jimin que gostava de morango.

— E por que você disse isso?

— Porque ele gosta de morango.

   Mor soltou uma gargalhada, apertando-a ainda mais contra si, enquanto Eize tentava se afastar para respirar.

— Mamãe você tá me sufocando!!

...[...]...

   O clima estava estranho entre Mor e Jimin, os dois andavam lado a lado com Mor segurando a mão de Eize. A pequena tagarelava coisas aleatórias, mesmo a outra tentando prestar atenção, não conseguia. Park era o único que se comunicava com a pequena, fazendo-a rir. Logo pararam em uma praça, se sentaram em um banco e Eize se apressou correndo para brincar com as outras crianças.

   A tensão era palpável entre eles, um silêncio desconfortável que foi quebrado primeiro pela menor:

— Desculpa se eu fiz algo de errado ontem, eu não me lembro de muita coisa, mas acordei nua e...

— Você não fez nada de errado — interrompeu ela, ainda com os olhos concentrados na pequena que agora subia em cima de uma daquelas casinhas de madeira e descia no escorregador.

— Tem certeza? Eu geralmente não bebo ao ponto de não saber o que eu fiz, não sei o que há comigo — se lamentou, estava enjoada desde de manhã mas não queria estragar o dia de sua filha, mesmo querendo desesperadamente uma cama e dormir por vários dias.

— Você mesma tirou sua roupa ontem, dizendo que estava com calor. Depois que te dei banho, lhe botei na cama — informa, indiferente.

— V-Você me viu pelada?!? — Mor sentiu seu rosto ficar vermelho.

   Por que diabos estava agindo assim? Nunca foi uma mulher tímida e agora ficava corada facilmente como uma garota de quinze anos e isso era mais vergonhoso do que pensava. Porém mais vergonhoso que corar é saber que alguém está completamente alheio a você, Park a respondia como se fosse obrigado a lhe da uma resposta e isso estava deixando-a desconfortável.

— Não se preocupe, eu não olhei e mesmo se tivesse, não tem nada aí que eu já não tenha visto — ele se inclina pra trás no banco, bocejando.

— Ah... — murchou. — Estou me sentindo em "A garota no trem", embora isso não seja uma comparação muito boa — tentou alivar, sorrindo sem graça.

— Sim — ele não riu, permaneceu impassível, suas mãos cruzas acima do peito, focado em qualquer coisa que não seja no rosto da mulher ao seu lado.

   Voltaram ao silêncio. Mor se remexeu no seu banco, balançando as pernas, ansiosa. Se ela não fez nada, por que o clima entre ambos estava tão estranho?

— Só vamos esquecer o que quer que tenha rolado ontem — suspirou.

— Tem certeza que não lembra de nada do que houve? — Jimin olhou para ela, os olhos brilhando em esperança ou talvez tenha sido sua imaginação querendo lhe pregar peças.

— O que aconteceu que você não quer me contar? — Mor semicerrou os olhos pra ele.

   Park fez menção de abri a boca, indo dizer algo porém desistiu quando viu Eize sentada na calçada, sozinha. Quando se deu por si os pais das outras crianças já estavam levando seus filhos embora, então ele percebeu que logo logo iria escurecer. Ele se levantou de onde estava sentado e gritou:

— Ei, pequena! Venha cá, quer mais sorvete? — Eize levantou o rosto e sorriu para ele, fazendo um gesto positivo com os polegares. Ele riu da sua forma de resposta, vendo-a se levantar e limpar seu vestido com as mãos.

Ele voltou seu olhar para Mor.

— Não aconteceu nada, eu só queria ter certeza — Eize correu para os braços de Jimin que a colocou no colo. — Agora vamos alimentar essa fofurinha aqui.

   A pequena sorriu. Mor ficou tão encantada com aquela visão deles dois que decidiu que não faria mais perguntas e só aproveitaria o resto do fim do dia ao lado deles. Embora em nenhum momento ele tenha se dirigido pra ela novamente, apenas Eize tentava aproximar os dois mas ele sempre tinha uma resposta simples e divertida para não fazer o que ela queria, enquanto Mor apenas observava tudo e brincava com ela quando Jimin se afastava para comprar mais alguma coisa para as duas.

  Contudo, o fato de que estava se esquecendo de algo importante ainda há incomodava. Só esperava que isso não afetasse o seu futuro, mesmo que de alguma forma tenha afetado Park e a sua postura geralmente relaxada e brincalhona.

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