O CHEF

— Mulher, que susto você nos deu!

— Então você também soube? – indaguei, me sentindo mal por não ter, se quer lembrado em avisar para ele que estava bem.— devia ter te ligado hoje pela manhã, me desculpe.

— Todo mundo soube, sabe como é, notícia ruim espalha no vento! E não se preocupe, o importante é que esta aqui.

Suas palavras eram sinceras

— Obrigada Lian, por se importar. – mudei logo de assunto, estava surpresa por ver‐lo fazendo delivery — Você é mesmo surpreendente, em um dia te conheço como guia, em outro um ótimo companheiro de balada, e agora um entregador, o que mais você está escondendo? – sorrir animada

— Então garota...– fez um ar de mistério — também sou a pessoa que preparou todo o alimento que você vai comer hoje!

— Você está falando sério? – falei desacreditada

— Serissimo! E como é seu primeiro pedido, fiz algo especial, sei que depois de experimentar não vai se arrepender, continuará a fazer sempre seu pedido comigo, tenho certeza!

Lian sorriu pretensioso

— Nossa quanta segurança! Gostei de ver, chef, e pelo que andei ouvindo ao respeito do sabor e qualidade, tenho certeza que vou gostar, sou fácil de agradar também! Mas porque não me contou desse seu lado culinário?

— As coisas não andam tão fácil para mim, não tenho um estabelecimento adequado, como a vigilância sanitária exige, mais garanto que é tudo limpinho. O problema mesmo é alguns empresários local que tem medo da concorrência e apelou para a prefeitura, usando métodos obscuros, alguns são tão mesquinhos, e o dinheiro compra a ética e a moral de muitos homens. – completou rapidamente, para afastar pensamentos negativos. — Bom, não sabia se você gostaria de experimentar comida chinesa, muitas pessoas tem preconceito, acredito que sou julgado antes de me conhecerem.

— Posso imaginar o meu amigo, as coisas pode ser muito difícil para imigrantes em todo os lugares.

— Eu sei! Mais não desisti de abrir meu restaurante misto, um dia eu chego lar!

— Claro que sim! – apoiei o otimismo do rapaz, mais iria apoiar ainda mais depois de comer, meu estômago estava reclamando, e o cheiro que já emanava do conteúdo era muito bom, salivei faminta.

— Hoje não tenho clientes, o resort para quem eu presto os meus serviços como guia, me liberou por luto, por isso vir pessoalmente fazer a sua entrega, havia ficado curioso quando reconheci o seu número no pedido que enviou pelo número do WhatsApp para clientes normalmente tenho um ajudante para fazer isso.

— Assim como os outros, não se espantou por eu ter sobrevivido?

— Para dizer a verdade, quis ter certeza que não era coisa da minha mente, ou alguém se passando por você! O que acha de sairmos hoje a noite? Ficarei ansioso para saber como tudo aconteceu, e como sobreviveu, — ele fez questão de enfatizar — mas só se quiser falar sobre.

O Lian não perdia tempo, estava sempre com um convite tentador para diversão.

Agradeci pelo convite, avisei que ligaria mais tarde caso decidisse ir, logo nos despedimos.

Já na cozinha, fiquei boba com o que vi, não era nada do que havia pedido, em vez do arroz, do frango a passarinho, batata frita e salada. Encontrei arroz frito chinês, um suculento pato de Pequim, um dos pratos principais da cultura Chinesa, e o principal, chow Mein, que ainda não havia tido o prazer de experimentar, e no lugar da sobremesa que seria uma salada de frutas, uma porção generosa das famosas tortilhas de ovos.

— Então, o que achou?

Olhei para a Glória que acabará de adentrar, a mulher sorriu ao me ver de boca cheia, comendo desesperada com gula, parecendo que a meses não via comida.

Apontei sem graça para a outra cadeira, para que ela me fizesse companhia, tinha o suficiente para duas.

— Está tudo apetitoso, mas obrigada, minhas refeições são a base de saladas, frutas e leguminosas.

Ela apontou com o dedo para a pia, havia um pote vazio, ela já tinha almoçado todo o conteúdo.

— Ah! Você é vegetariana!

A mulher albina me olhou com aqueles olhos tão azuis e sorriu muito divertida, pela cara de dó que eu fiz, como se fosse um pesar não comer carne de animais. No meu intimo era mesmo um pesar, porque todo aquilo estava muito saboroso.

— Mulher, isso aqui é bom demais! Esperimenta só um – dei uma grande mordida em uma tortinha, e oferecendo a outra.

— Não te falei! – ela balançou a cabeça regeitando o doce — aproveita sua refeição, só vai com calma, a culinaria chinesa é para ser apreciada.

— Tem razão! E que está muito bom mesmo! – minha boca estava ainda cheia — Como pode o mundo não estar apreciando o talento desse homem?

— Concordo, – a mulher começou retirar os resíduos da mesa, percebendo que eu já estava satisfeita, enquanto eu limpava as migalhas que caíram sobre a minha roupa.

— Deixe que eu mesma organizo, minha bagunça! Estar quase na sua hora, pode ir.

— Não se preocupe, termino rapidinho.

Assim ela fez, deixou tudo impecavelmente organizado, depois se despediu, enquanto fiquei ali mesmo aproveitando meus últimos minutos livre, para ver minhas mensagens, e responder as mais urgentes, dentre uma dessas, uma era da Jéssica.

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