O MENOS É MAIS

Sobrevivi a mais uma semana — Pensei enquanto passava pelo portão pegando o caminho para o centro da cidade, lembrei precisar fazer compras, a despensa estava vazia, sem nada para trazer para o almoço, passara o dia comendo bolachas com café, sentia-me grata por isso até; a mulher que trabalha na limpeza deve ter notado que não sair da sala de dessecagem o turno inteiro, enquanto o Elói como sempre, saíra meio-dia para almoçar no restaurante da cidade, avisando que não retornaria após o almoço, pediu que eu fechasse o laboratório após o expediente, justo esse dia que pretendia sair mais cedo para fazer mercado. Estava entretida no que fazia quando ouvi a mulher com timidez bater na porta por volta das 13:30 trazendo "o meu almoço "biscoito de maizena com café e uma maçã.

— Obrigada senhora! Não precisava! — "Aí, graças a deus! Estava faminta" — Pensei recebendo a bandeja que ela oferecia em pé perto da porta. Estranhei por ela ainda está vestida com o seu uniforme azul‐bebê, e uma touca branca escondendo os seus cabelos que estavam sempre presos, mas alguns fios saiam perto da orelha mostrando sua tonalidade branca, o que ela fazia ainda ali eu não fazia ideia se o horário dela era só até as 13:00, decidir não perguntar, o que eu queria mesmo era terminar aquelas anotações e sumi daquele lugar.

— Não vi a senhora ir à copa preparar aqueles negócios que traz sempre para comer, te trouxe um lanche, sinto muito, era só o que tinha –Ela disse como se precisasse se desculpar — Eu estava grata por aquela senhora ter se importado comigo, e entendi que se referia ao macarrão instantâneo que trazia de casa todo os dias que além de ser prático o preparo, tinha vários sabores, não era a melhor refeição do mundo, mas o bastante para suprir as minhas necessidades, sem falar que não sei cozinhar nem tenho grana para comer diariamente em restaurantes, não pretendia viver assim por muito tempo, esperava encontrar logo algum restaurante popular que fizesse entrega de quentinhas por um bom preço, e o mais importante, que a comida estivesse um bom sabor. — Eu chamo-me Maria da Glória! Sou da área da faxina como já deve saber — Ela olhou-me com aqueles olhos pequenos, em tons claros, que expressava delicadeza, assim como ela toda, parecia que se desmancharia a qualquer instante, tinha essa impressão toda a vez que a via, talvez pelo seu ton de pele albina dava essa ideia de fragilidade;

Com voz baixa ela demonstrava acanhamento.

— Ah claro! Prazer, eu sou a Megh Jancastro! — falei após mastigar uma bolacha — Senta aí! — Apontei para uma cadeira do outro lado da mesa. A mulher se recusou, mas continuamos a conversar enquanto devorava devagar uma fileira de bolachas

— A senhora não é daqui de perto não é mesmos? — Ela indagou, balancei a cabeça negando, a boca estava cheia.

— Porque a pergunta? Esta tao na cara assim?— sorri sendo simpática querendo ver se a mulher perdia o medo e relaxasse, não entendi porque elá parecia está tensa, eu era sempre educada cumprimentando com bom dia ou boa tarde sempre que lhe encontrava concentrada fazendo seu trabalho pela empresa. Só não avia tido essa oportunidade de conversarmos ainda.

— Não é isso! É que vejo que não teve tempo de conhecer a cidade ainda.

" O tempo que tive, fui conhecer os bares e os poit s da agitação noturna" — Pensei comigo mesma sorrindo sem graça.

— Quero dizer que você precisa achar um lugar para fazer suas refeições diárias, – Fazendo uma pausa acrescentou escolhendo as palavras com delicadeza — Perdoe ‐me, mais aquilo que você come, não é nada saudável, nem se pode chamar de refeição!

Balançei a cabeça em concordância

Ela tinha razão, então já que ela conhecia a cidade resolvir pedir ajuda.

— A senhora tem algum lugar decente em mente para me indicar?

— Achei que nunca iria perguntar!

Dona Glória sorriu bem mais a vontade, e eu me sentir bem em receber aquele sorriso amigável — Conheço um rapaz, ele não tem um restaurante, mais é um dos melhores criador de pratos que já vi, se você experimentar não vai querer parar.

— Se está dizendo, bom então me passa logo o endereço desse Deus da gastronomia baiana!

— Vou dar-te o contato dele, como falei, ele não tem restaurante, mas pretende abrir logo, logo.

Dei uma folha e caneta para que ela anotasse e perguntei:

— Então ele faz entregas a domicílio? — Para ser sincera não estava botando fé que seria algo assim tão bom, mas decidi arriscar pela boa vontade da senhora, então dobrei o pedaço de papel e guardei no bolso da calça xadrez, assim que ela me entregou.

— Você liga, diz o que prefere comer, diz mais ou menos até quanto pode gastar em cada refeição, então ele faz, e dar um jeito de levar aonde você pedir, rápido assim como piscar de olhos!

Terminei meu "almoço", agradecir e Dona Glória retirou-se indo de volta para o andar de baixo; eu voltei a minha atenção ao computador anotando tudo que via de interessante pelo microscópio durante análise das amostras de tecido sem vida de um polvo gigante do pacifico, (Enteroctopus dofleini) que viera exportado das profundas águas fria do pacifico Norte, era um adulto, o maior entre todas essas espécies, e o que vive mais tempo, pode atingir cerca de três metros e pesar mais de 20 kg.

Aquela tarde enquanto caminhava pelo centro da pintuba (centro de Itacaré, local onde se concentra a maior movimentação) refletia que todas as últimas pesquisas do laboratório, avia algo em comum, eram animais que viviam no mais profundo do oceano, e tinham histérico de vida longa comparado as outras espécies, algumas eram pré- históricas e vivem a mais de 400 milhões de anos.

Desde o começo da semana o Elói pedira-me para colaborar assumindo nas pesquisas do laboratório, alegando que ele precisava se dedicar exclusivamente ao seu projeto, então eu e mais dois funcionários formávamos uma equipe agora responsável por aquela área, não era o que eu queria, mais com certeza era preferível, do que passar horas a fio com as nádegas doendo sentada na cadeira, recebendo ordens daquele palito de churrasco mau‐humorado. — Cheguei naquela conclusão, admirando as roupas pela vitrine das lojas, babando consegui me conter, atravessei a rua parando em uma lanchonete, comi duas fatias de pizza e uma enpadinha de camarão com queijo, para finalizar, um suco de cupuaçú com cacau, ali sim, não poderia resistir, e nem queria.

Para minha alegria não via o Elói com tanta frequência, ele passava a manhã toda trancado em algum lugar secreto daquele lugar, ninguém fazia ideia do que ele aprontava por lá.

Só me restava a pergunta que não me atrevia a acreditar.

— Será que Elói acredita mesmo que existem sereias? Ou algo desse tipo? Para quem ele está trabalhando secretamente?

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Comments

Lyu Lima

Lyu Lima

Delícia 😋

2024-01-26

1

Lyu Lima

Lyu Lima

Não, aí não/Shame/

Bolsa de paetê e calça xadrez ?/Cry/

Blusa eu gosto, mas calça não consigo imaginar 🙈

2024-01-26

1

Lyu Lima

Lyu Lima

Realmente, cuidar da saúde para aguentar o tranco

2024-01-26

1

Ver todos

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