Aquele sorriso...

Depois daquela conversa na sala, fiquei super curiosa para saber quem poderia ser esse tal amor platônico que o Henry sentia. Ele era lindo. Cabelos claros, forte, alto e com um sorriso de derrubar qualquer um. Que mulher no planeta não acabaria caindo no seu charme? Não consigo entender. Subi para o quarto, Gaby que eu pensei que estava dormindo, estava muito bem acordada, sentada na cama, com a curiosidade muito bem estampada na sua cara.

— E aí? Rolou alguns beijos pelo menos? — Gaby me perguntou ansiosa. Antes mesmo que eu pudesse fechar a porta.

— Não, ele é apaixonado por outra pessoa. Na verdade, acho que até sugeri ele insistir nela. Acho que não nasci para a arte da paquera. — Tenho que admitir, nem lembro bem como funcionou a minha aproximação de Arthur. Ele chegou em mim? Eu nele? Sei que logo depois que começamos a sair, ele me pediu em namoro e alguns meses depois em casamento.

— Mas você estava querendo ficar com ele, como diabos isso aconteceu? — Gabi me perguntava em total choque.

— Estava. Como não ficar? O homem é perfeito. Já viu aquele sorriso? Ele derruba qualquer pessoa. — Respondi lembrando do seu sorriso e acabei sorrindo. Era definitivamente perfeito. Ali eu tinha certeza que iria me perder.

— E como você está querendo alguém e indica que ela fique com outra pessoa? — Gaby não me compreendia, eu não posso julgar, também não me entendo.

— Eu não acho que queira me envolve com ninguém por enquanto. E ele por ser apaixonado por uma outra pessoa ainda, não me aparece nenhum pouco a pessoa certa para mudar minha ideia de não me envolver com alguém. — Respondi um pouco triste. Não queria me sentir dessa forma, mas era impossível. Acreditava no Arthur, confiava nele, fui terrivelmente enganada, traída e magoada. Eu realmente acreditava em nós. E só de pensar nisso, um nó na garganta se faz e um gosto amargo vem a boca.

— Isso tudo por conta do que Arthur aprontou com você? Vai deixar ele destruir sua vida? Já atrapalhou mais tempo do que deveria. Deveria tirar um aprendizado em tudo isso. Não coloque sua felicidade e futuro nas mãos de ninguém. Só você pode se fazer feliz e guia o dia de amanhã. — Gaby disse parecendo chateada com minha ideia de evitar um relacionamento. Será que ela estava certa? Eu estava dando muito poder ao que Arthur fez?

— Eu acho que concordo com você, mas não posso controlar como me sinto. Me decepcionei com os relacionamentos, não quero mais passar pelo que passei. Isso sem contar que Henry já é apaixonado por alguém. Não podemos simplesmente esquecer esse detalhe. — Não podia botar culpa na minha frustração amorosa, Henry também tinha uma.

— Lembra do livro do Pequeno Príncipe que você ganhou no ensino médio? Tem uma frase bem interessante sobre isso. Uma te espetou. O Pequeno Príncipe diz algo assim: "É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou". Você não pode simplesmente abrir mais dos seus sonhos porque um deles não se realizou. Muito menos perder a fé em todas as orações que já fez ou faz porque uma delas não foi atendida. Não pode abrir não de todo seu esforço porque um deles fracassou miseravelmente. Você não pode descrer de todo amor porque um deles foi infiel e babaca. É loucura jogar fora todas as chances de ser feliz porque uma tentativa não deu complemento errada. Espero mesmo que você não cometa essa loucuras na vida. Lembre, sempre há uma outra chance, outra amizade, outro amor, uma nova força que te fará sentir ainda mais viva. Para todo fim, Lissa, há um recomeço maravilhoso. — Gaby explicou, me deixando em choque. Nem sabia que a minha irmã surtada poderia ser tão profunda.

— Eu sei. Eu entendo tudo isso, mas Gaby, você precisa entender que eu estava a muito tempo com ele. Arthur estava em todos os meus planos. Eu vou ter que reaprender, redefinir minha vida. Tudo que tinha planejado para o futuro, todos os sonhos, acabaram naquele dia. Eu preciso agora lembrar de mim, sabe? Quero lembrar de quem eu era antes dele, do que eu gostava, o que sentia. Eu tenho que reencontrar aquele entusiasmo que eu tinha pela vida, sinto agora que guardei ele em uma caixinha em algum lugar. Acabei me diminuindo para caber dentro das expectativas de alguém.. que no fim.. foi um grande erro. Acho que nessa história toda, quem mais surto fui eu. Eu acabei me deixando de lado por outra pessoa, em algum momento, eu me perdi. E agora, fragmentada, terei que unir cada pedaço que deixei por aí. Não vai ser fácil, mas eu vou precisar de tempo. — Eu tinha que admitir, estava ferida, não me sentia mais eu mesma. Fiz o que pior podemos fazer, abrir mão de nós pelos outros. Agora terei que lidar com a consequência.

— Vou te dizer quem você era antes de conhecer o idiota. Você se jogava sem ter medo das consequências. Buscava sua felicidade como prioridade. Não se importava com o que os outros diziam ou muito menos achavam. Você era sua prioridade. Agora, se quer mesmo voltar e relembrar quem você era. Para de pensar demais e agarrar aquele homem com um sorriso maravilhoso. — Gaby disse. Estava certa. Eu estou pensando demais. Deveria apenas me deleitar naquilo que eu realmente quero.

— Aquele sorriso... É porta principal para o pecado. Nele é fácil demais me perder. Se Henry continuar sorrindo para mim, eu não sei se conseguirei ser racional por muito tempo. — Confessei. Cada sorriso dele me desarmava completamente. Aquele tal sorriso, era um grande perigo para humanidade.

— Deixa de frescura. Engole esse romantismo idiota. Só se joga e pronto. — Gaby respondeu me jogando uma roupa dela — Se troca e vai! Depois me diz a nota dele.

Claramente, eu não tinha muita escolha. E acima de tudo, vamos admitir, Gaby estava certa. Se eu quisesse lembrar quem eu era, eu deveria agir como antes. Assim saberei, se hoje eu sou aquilo que me tornei devido ao Arthur ou apenas meu

próprio amadurecimento. Coloquei o vestido tubinho preto minúsculo que Gaby me deu, me senti embalada a vácuo e parti para o quarto de Henry. Algo me diz que essa noite vai mudar minha vida completamente.

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