Capítulo 18

No dia do baile, Melissa ainda se sentia incerta sobre sua ida. Apesar da promessa, Felicith e ela não haviam sequer conversado após a viagem. Então, algumas horas antes da carruagem alugada chegar, Melissa tornou-se a sombra da mulher, seguindo-a e atendendo perfeita e rapidamente às suas ordens.

Ainda assim, Melissa suspirava pelos cantos lembrando-se do toque de Louis, e mal podia esperar para tê-lo em seus braços. Depois de passarem um tempo separados pela viagem (e por Marrish, em quem ela evitava fortemente pensar), não havia nada que Melissa desejasse mais: o remédio perfeito para a sensação quente do beijo de Marrish, que parecia perdurar nela.

Embora Melissa duvidasse fielmente das intenções da madrasta, a mulher não tinha intenção alguma de proibir sua ida ao baile. Tudo aconteceria exatamente como Felicith planejara, graças às suas amadas poções.

— Divirta-se — ela desejou a Melissa — Pode subir para se arrumar, eu finalizo aqui — finalizou, expulsando a garota, que saltitou feliz escada à cima.

Felicith estava em plena paz. Com um empurrãozinho mágico, seus filhos se arrumavam nos respectivos quartos e no mais delicioso silencio; Melissa não olhava para a mulher como se fosse matá-la, e o príncipe parecia tremendamente encantado.

Com a mão sobre o bolso secreto que costurara em seus vestidos, Felicith sentiu-se aliviada com o volume do familiar envelope, respirando fundo, até que todos desceram prontos para a festa.

O caminho até o castelo era longo, porém, ainda de longe podia-se ouvir o barulho do povo comemorando o aniversário do príncipe pelas ruas. Melissa mal podia esperar para que fossem oficialmente um do outro, mas com esse pensamento, a imagem que surgiu em sua mente não foi a de Louis, como tantas vezes antes, e sim de um certo capitão que adorava couro vermelho.

Algum tempo depois, já na rua principal, Melissa podia ver o castelo, cujos jardins permeavam toda a frente, circulando uma belíssima fonte onde uma fada alongava suas asas na direção do céu tocando uma harpa.

Ao ver o olhar de admiração estampando o olhar da meia-irmã, Marcus esticou as pernas e espreguiçando-se, disse:

— Ouvi dizer que é uma fada de verdade.

— Como assim? — Melissa perguntou, virando-se para o jovem, interessada.

— Ela foi transformada em pedra por chamar atenção demais — disse rindo juntamente à mãe.

— Quem faria algo assim? — ela retrucou, inocente.

— Todo mundo sabe que foi Louis, agora como...

— Louis? — ela questionou, surpresa, interrompendo Marcus. — Eu duvido muito...

— Eu não ligo, sua idiota, é a verdade — concluiu ele, sussurrando para si: — tomara que você seja a próxima.

— Quieto Marcus, estamos chegando — a mãe enfim o repreendeu, revirando os olhos.

O salão que alocaria o baile era o maior no castelo, e fora inteiramente decorado em vermelho sangue.

O chão estendia-se em um tom brilhante com ondulações que o faziam vibrar; nas paredes, tecidos pesados caíam como cachoeiras carmim, cobrindo o pouco de lux do dia que forçava entrada. Quando Melissa entrou no salão usando o vestido de tom quase branco contra a decoração, todos os olhares agarraram-se a ela.

— Tinha um dress code*? — Marcus questiona no ouvido da irmã, olhando ao redor, onde todos trajavam tons de vermelho, exceto eles.

Descendo as escadas com toda coragem que conseguia reunir, Melissa firmou a mão no corrimão e a primeira coisa que viu, foi Louis. O terno branco com gravata e sapatos vermelhos a fez sorrir, Louis era tão... Louis!

— Achei que você não viria — disse, esticando a mão na direção da garota, que a segurou confiante.

— Bom, eu estou aqui. — ela responde com um sorriso, enquanto Louis se aproxima e prende em sua cintura um broche com uma flor vermelha.

— Uma dança? — questiona o príncipe ao finalizar.

— Não — ela responde rápido — eu nem faço ideia de como dançar isso ai — diz, apontando para os casais na pista de dança — não costumo sair muito — finaliza, com um sorriso triste, mas conformado.

— Eu sei — falou — eu notei, apesar de parecer ser o único — completou.

De mãos dadas, Louis e Melissa subiram as escadarias e entraram rapidamente em um cômodo para esconder-se de uma ronda de guardas que virava à esquina.

— Você está bem? — Ele pergunta, rindo e respirando fundo.

Melissa assentiu, um sorriso iluminando a face corada.

— Gostou da festa? — Louis questiona rápido, e continua: — Eu queria dar um anúncio e te fazer uma surpresa...

— Você conseguiu! — ela o interrompe — eu estou, com certeza, surpresa. — finaliza com um sorriso nervoso, endireitando-se e fitando a rosa vermelha presa à sua cintura, a história de Marcus pesando em sua mente.

— O que está te incomodando? — ele pergunta subitamente.

— Todos adoraram a fonte — Melissa diz automaticamente, e sob o canto do olho vê o desconforto de Louis.

— E com certeza você ouviu boatos sobre ela também — completou, tranquilo.

— Alguns — ela confessou, aproximando-se do príncipe, pegando sua mão e colocando em torno de sua cintura, acariciando dos braços às costas. — O que aconteceu?

— A fada era um presente para minha mãe — ele disse — eu a ouvi tocando violino na praça da Dark Tower...

— Dark Tower? — Melissa questionou, desconfiada. — Só coisas ruins saem de lá. — disse, lembrando-se de seu pai.

— É... coisas ruins e **contratadas **— ele atentou-a.

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