Capítulo 10

Quando Felicith deixou o quarto, Melissa se perguntava em que merda havia se metido, mas ainda assim, começou a preparar-se para a manhã seguinte, com uma brasa de animação crescendo, mas ainda desconfiada.

Melissa sentia-se levemente culpada por estar animada para sair da cidade, mesmo que para pegar algum produto maluco para Felicith e voltar, era mais do que ela imaginaria. Sabia, no entanto, que esta era sua maior chance de ver o mundo, pois nunca havia deixado aquela cidade e duvidava que lhe aparecesse outra oportunidade em que Felicith a deixasse sair de tão bom grado e sem restrições, o que pareceu motivo sufuciente para que ela duvidasse de que Felicith tinha algum plano maligno em progresso.

Quando sua bolsa finalmente estava pronta (e abarrotada), Melissa seguiu para os estábulos, onde Daisy, uma das empregadas fiéis de Felicith já havia preparado seus cavalos. Ao chegar, ela tentou acenar para a mulher, que ignorou.

Daisy havia chegado à mansão junto a Felicith, apenas alguns dias antes do casamento e desde então, fora a única a permanecer conforme a família perdia integrantes e ia à falência. Os cabelos longos e escuros estavam sempre amarrados, se não em um coque bem feito, a uma trança que descia como escamas de peixe pelas costas da mulher. Seu semblante era sério quando entregou à Melissa a correia do cavalo e subiu em seu companheiro equino, partindo como se tivesse coisas mais importantes a fazer.

Melissa sequer abriu a boca, afinal, era um gasto de energia tentar conversar com Daisy, que já abria os portões da propriedade.

O caminho fora silencioso, e tudo bem para Melissa, pois nada se comparava a brisa do mar que atingia o rosto da garota, com seu calor reconfortante, soando como um sopro de ar novo.

Ao chegar no porto, a garota podia ver barcos grandes e pequenos, mas quando se virou para perguntar a Daisy sobre o caminho correto, a empregada já havia sumido, juntamente aos cavalos.

Perdida, mas determinada, Melissa começa a andar no porto, procurando algum sinal entre os passos apressados dos viajantes, até que encontra uma pequena loja escondida sob o brilho de tecidos cintilantes do comércio ao lado.

Curiosa, a garota entrou na loja, descobrindo seu interior sombrio e caindo aos pedaços. No teto, tecidos em tons escuros de roxo e azul balançavam juntos a pedaços rasgados de tecidos pretos. Em uma parede, estantes de madeira escura forradas de livros velhos, jornais gastos e bonecas remendadas grotescamente. Na outra, mapas de lugares que Melissa sequer conseguia ler o nome, pois todos os detalhes se encontravam na língua antiga de Iliona. Quando respirou fundo, tentando absorver toda aquela informação (mas apenas inalando poeira), deparou-se com um homem baixo, a barba longa com parte trançada e o cabelo grisalho comprido e selvagem penteado para trás, como se tentasse parecer um cavalheiro. “Que criatura!” pensou Melissa, esbugalhando os olhos surpresa. Os olhos da figura mantiam-se fixos a ela, questionadores. Ele utilizava um colete repleto de itens para costura pendurados em si. Sem graça, Melissa pigarreou e endireitou-se, estendendo a mão para o homem.

- Oi! Desculpa invadir assim, eu... preciso de um mapa. – falou, as bochechas corando sob o olhar rígido à sua frente. - a mão pendendo no ar.

- Eu não vendo mapas. – Respondeu-lhe o homem, dando-lhe de costas. - Eu vendo informações, menina estúpida. – disse, sentando-se em uma pequena mesa de madeira no canto da sala, que Melissa sequer havia notado.

Ele sinaliza para que ela se sente na outra cadeira à sua frente, o que ela faz, hesitando alguns segundos.

- O que você quer, garotinha? - ele diz, pegando um cigarro em seu bolso e acendendo com a ponta do dedo enrrugado.

- Eu preciso ir para Almajid.

- Almajid? - ele repete, os olhos mais atentos a ela, a sobrancelha erguida.

- Desculpe, qual o nome do senhor? - ela pergunta, inclinando-se para frente na direção do velhote.

- Essa informação vai custar um preço, mocinha, um bem alto. – Ele disse, os olhos passeando pela garota, que, desconfortável, cruzou os braços sobre o peito.

-Seu no...- ela começou, mas atrás de Melissa, uma voz masculina a interrompeu:

- Ei! – Alguém chamou a atenção do comerciante, que desviou o olhar da garota imediatamente. – Kuriz, aqui está. – Ele falou, abanando o papel em mãos e esticando o braço na direção do barbudo.

Melissa virou-se na cadeira para observar os dois, que ignoravam sua presença completamente:

- Voltou cedo Capitão Marrish, como está minha casa? – Kuriz disse, apertando a mão do jovem e entregando-lhe um saquinho de ouro em seguida, um sorriso satisfeito no rosto.

- Quente como sempre. O que tem pra mim essa semana? – questionou.

Melissa, à essa altura, já havia levantado, tamanha impaciência e ia de fininho em direção à saída, quando Kuriz apontou para ela:

- A mocinha ali quer ir pra Almajid. Fora isso, não muito, apenas alguns carregamentos de rum e vinho seco, aquela porcaria amarga que a elite gosta.

Ambos riram da decisão desleixada da garota, que respirou fundo e voltou para seu caminho até a saída, decidida.

- Ei! – o jovem Capitão a chamou, porém Melissa continuou andando, cansada das brincadeiras. No entanto, o capitão a alcançou e entrou na frente da garota – O que uma garota como você está indo fazer em Almajid? - perguntou, dando um sorriso gentil.

- Uma garota como eu? - ela retrucou logo. “Que diabos ele quer dizer com isso?”

- Você já foi lá? - Marrish perguntou, a sobrancelha erguida na direção dela, sarcástico.

Fitando o chão, Melissa sussurra:

-Não, é minha primeira viagem.

-E você escolheu logo Almajid? - ele diz, rindo em seguida.

- Sim, e qual o problema nisso? - ela pergunta, encarando-o.

O capitão se aproxima do ouvido de Melissa, o hálito quente deixando-a desconfortável.

- Almajid é uma das regiões mais perigosas do reino, garotinha. Assim que você colocasse os pés lá... - ele se afasta, olha para garota de cima a baixo e aproxima-se novamente - talvez eles achem que você serve para prostituição...TALVEZ. Então calma, beleza? - O capitão se afasta novamente e sorri para ela. - Eai, o navio vai partir em alguns minutos, se você que mesmo ir, devia escolher uma cabine antes que lote. - Ele finaliza, deixando-a para ir em direção ao barco.

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Comments

nimorango

nimorango

eita , a mulher quer que ela seja raptada só pode

2022-10-23

1

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