Capítulo 9

Ela havia observado o céu durante muitas noites, mas aquela em especial, parecia ter saído de algum tipo de sonho mágico. Tons de azul misturavam-se numa dança, enquanto o laranja do sol aos poucos se esvaia. Louis a esperava no baile, ele havia dito que iria, mas o que isso significava realmente? Que ela seria a próxima princesa? Ou até rainha? Apenas a imaginação de algo assim já animava o coração de Melissa, porque ela poderia sair dali, poderia sair com o Louis e nada que Felicith fizesse poderia mudar o que eles eram um para o outro.

Deitada na pequena cama de madeira, o único móvel que adornava seu pequeno quarto, Melissa ouviu o barulho de algo atingindo a janela e aproximou-se da mesma, apenas para ver Eric sorrindo com uma sacola cheia ao seu lado.

Surpresa, a garota desceu correndo as escadas e foi até ele, que ajeitava os cabelos ruivos quando ela finalmente chegou à cozinha.

- Eric! – falou, jogando os braços em volta do pescoço do jovem. – Como você está? – perguntou, largando-o.

- Eu tô bem Mel, você que parece... animada? Aconteceu alguma coisa?

Melissa olhou ao seu redor e sem ver ninguém, riu, agarrando o braço de Eric e puxando-o para o túmulo de sua mãe. Ela respirou fundo e começou a contar os detalhes da última noite para Eric, que se sentou assim que ela mencionou o príncipe.

- Dá pra acreditar nisso? – falou animada, ao terminar sua história.

- Não, não dá – falou, o olhar fixo nos próprios pés, o semblante fechado. – Que merda você tá pensando? – finalizou, surpreendendo Melissa.

- O-o que?

- Melissa, ele é a porra de um príncipe, ele não vai se casar com você, ele tem que se casar com uma nobre rica ou algo assim...

-Acho que você se esquece Eric – ela diz, e continua: - Mas eu ainda sou filha de um barão.

- Mas ele não vai se casar com você, não seja idiota.

- E porque ele não poderia? – Ela pergunta, irritada. – Porque ele não pode gostar de mim? Porque minha família tá falida? Eu sou só digna de pena? – ela questiona Eric, que encara o chão. – Vai embora.

- Mel...

- Não me chama assim. – ela diz, os olhos marejados - Se você não vai, eu vou. -Finaliza ela e sai, deixando Eric sozinho.

John Tressan era, não apenas um contrabandista incrivelmente inteligente e importante em todo continente, como um pai incrível. Os objetos, e muitas vezes, pessoas que ele trazia, rastreava ou caçava, possuíam sempre particularidades bizarras ou encantadoras. As visitas de John ao castelo eram frequentes, se comparadas a 99% das outras pessoas, isso porque a rainha era uma cliente assídua e tenebrosa, e o rei, um velho amigo de copo. Assim, quando Melissa fez 9 anos, os dois pais começaram a tramar em segredo um casamento poderoso, entre ela e o pequeno Henry (13 anos). Claro que, tudo foi colocado em papel, mas, lembra daquele cofre, leitora? Bom... não era só um lugar pra peças bonitas, era um cofre de segredos. Arrisco dizer que com mais segredos do que ouro... Alguns particularmente bizarros...

Quando Melissa finalmente chegou ao seu quarto, Felicith estava sentada sobre a cama com um pequeno papel rasgado em mãos.

- Achei que nunca fosse subir. - disse, com o tom rígido de sempre.

-Tarefas, madrasta – respondeu, mesmo sabendo que sua discussão com Eric durara bem mais do que alguns minutos.

- Aqui – disse, estendendo o braço e entregando o papel nas mãos da garota – Preciso que pegue um pacote pra mim nesse endereço.

Melissa virou o mesmo entre os dedos, observando o endereço, que indicava a cidade de Almajid.

- Porque você não pede isso pra um comerciante no porto? – Disse, a sobrancelha arqueada em dúvida, pensando na viagem longa e cansativa.

- Porque eu quero que você busque, eles vão cobrar de mais e nós já temos de menos – respondeu ela, levantando-se.

-Você me deixa ir? – Melissa perguntou, curiosa.

-Talvez– disse, um sorriso venenoso nos lábios pintados de vinho - Mas por via das dúvidas, garanta que tenha ao menos um vestido decente. – Completou, indo até a porta. – Ah e Melissa? - falou, virando-se para a garota.

-Sim madrasta?

-Nada de espiar meu pacote. Você parte amanhã.

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