Capítulo 4

A mão de Melissa acariciava com carinho a pele pálida de Eric, que sustentava um sorriso cansado nos lábios ressecados. O garoto fechou os olhos e cobriu a mão dela com a sua, apreciando o calor, tão divergente da ventania que ele teria que enfrentar. Sentia-se em paz, protegido. Tinha a sensação de que ali, nos braços de Melissa, não haviam dificuldades que não pudesse enfrentar. Delicado, ele segurou as mãos da garota e beijou-as, despedindo-se em silêncio, recebendo um aceno e um sorriso satisfeito em troca, enquanto, do batente, ela o observava entrar no atalho da floresta.

Após alguns segundos acalmando seu próprio coração, Melissa esgueirou-se silenciosamente pela porta e foi na direção contrária a Eric, enrolando os braços ao redor de si para criar um escudo contra o vento frio enquanto caminhava na direção do túmulo de sua falecida mãe.

As flores que Melissa plantara anos atrás com seu pai continuavam crescendo e algumas, espalhando-se até as fronteiras com a floresta, que cercava boa parte do terreno, além disso, alguns girassóis esticavam-se para escapar da sombra das árvores, cercando o túmulo de Elizabeth. Melissa sentou-se na grama ao lado dele, encostou a cabeça na pedra fria e observou o céu estrelado, abraçando as pernas juntas ao peito.

- Oi mãe - ela sussurrou - Fiz sua receita de biscoitos hoje, Louise os adora... - sorriu, mas logo, a lembrança dos gritos de Felicith penetrou sua mente - Mas sei que se Felicith a pegar fora da dieta eu vou ser a culpada - falou, respirando fundo, as lágrimas cansadas do aprisionamento ameaçando cair - Sinto sua falta... Tanto, tanto! Eu deveria estar me arrumando com você para o baile, falando de pretendentes e todas essas futilidades sem sentido... debutando... - a garota respirou fundo, não havia nada que ela pudesse fazer. Com um sorriso triste e o rosto molhado de lágrimas, Melissa levantou-se e começou a caminhar em direção a floresta, tentando clarear seus pensamentos antes de voltar para a mansão e para as poucas horas de sono que ainda lhe restavam.

Melissa sentia os pés começarem a doer quando parou e sentou-se no pé de uma árvore para olhar o céu, os pensamentos finalmente acalmando-se. A garota olhou ao seu redor, mas já não sabia de onde havia vindo. Ela levantou-se e tentou se localizar através das estrelas, girando e observava o céu de diferentes ângulos, mas não havia prestado atenção o suficiente quando Eric a ensinara alguns anos atrás.

Estava perdida e exausta. “Mas que droga!” pensou, jogando-se no chão e deitando de barriga para cima. Depois de alguns segundos respirando fundo, Melissa sentou-se no chão e apoiou-se nas mãos, jogando a cabeça para trás, frustrada, até que reparou que não haviam barulhos de animais, ou do vento soprando ao seu redor, apesar de conseguir senti-lo nos antebraços.

A garota concentrou-se para tentar escuta-los, mas o único som que a alcançava, ainda que baixo, era o de passos ao longe, acompanhados pelo trote calmo de um cavalo. Sabendo as milhares de coisas que poderiam lhe acontecer, Melissa se escondeu entre as arvores, abaixando-se entre um arbusto próximo, torcendo para que, quem quer que fosse, não tivesse lhe escutado. Ela então deixou que alguns minutos se passassem, até que parecesse seguro caminhar ao redor. Cuidando para manter-se em silêncio e prendendo a respiração a cada passo, Melissa tentou ouvir algo que indicasse a proximidade de um estranho, mas já não havia nada. Desolada, por fim, a garota encostou em uma árvore grossa e fechou os olhos, concentrando-se no que poderia fazer, quando por trás da árvore, alguém coloca a mão pesada sobre seu ombro.

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