Quem é Melissa

Eu vejo que Felipe está me olhando. Eu sei que ele condena as minhas atitudes; talvez eu tenha exagerado um pouquinho com a faca.

— Tá olhando o quê? — pergunto, irritada.

— Você me assusta. Teria mesmo coragem de cortar o rosto dela? — responde Felipe, com um olhar de incredulidade.

— Não sei, estava cega de raiva. Está com pena? Vai lá atrás da sua amada — retruco, tentando esconder minha própria confusão.

— Não, agora até eu acho que ela merece. Só estou assustado com a sua mudança. Você não é mais a Morgana que eu conheci — diz ele, com um tom de voz que mistura medo e tristeza.

— Olha, eu tive um dia difícil. Essa cena foi o ponto alto de toda essa palhaçada. Estou cansada. Podemos deixar a troca de ofensas para amanhã? Eu vou ver a Melissa e tentar dormir — digo, tentando encerrar a conversa.

— Quem é Melissa? — pergunta Felipe, confuso.

— Minha filha, sua filha, minha afilhada. Já nem sei mais... Melissa é o nome que eu escolhi para não chamar essa menina de bebê o tempo todo. Ela tem cara de Melissa, "Mel" — explico, sentindo um misto de carinho e exaustão.

— Eu quero te agradecer por resolver esse assunto. Desculpe por trazer a Patrízia aqui sem te avisar. Acredito que foi isso que causou essa confusão. Eu transfiro o dinheiro para você — diz Felipe, finalmente mostrando um pouco de gratidão.

"Finalmente ele agradece, pensei que ele fosse defender a namoradinha", penso comigo mesma.

— Eu não quero nada. Se você quer me agradecer, cuide bem da Melissa e deixe ela ter esse nome. Foi um dia longo, vamos descansar — respondo, tentando manter a calma.

— Eu gostei do nome que você escolheu — diz Felipe, tentando suavizar a situação.

— Não precisa tentar me adular, Felipe. Eu sei bem o que você pensa a meu respeito. Na verdade, isso já nem me importa mais — digo, levantando-me da cadeira com muita dificuldade. Meu corpo está pesado, parece que tem um martelo batendo na minha cabeça. Olho para o chão e parece que está mais fundo, as coisas estão se mexendo. Esfrego as mãos nos olhos e tento levantar outra vez.

— Você está bem? Quer ajuda? — pergunta Felipe, preocupado.

— Chame o Salvatore — peço, tentando manter a compostura.

— Eu te ajudo, não vou te deixar sozinha aqui para chamá-lo — insiste Felipe.

— Não quero a sua ajuda. Eu chamo o meu primo — respondo, pegando o celular. Tento me concentrar, está tudo embaçado. Com muito esforço, consigo enxergar o nome do Salvatore e clico no botão verde. Ele logo atende.

— Me ajuda, eu... — começo a dizer, mas não sei o que houve. Acordei na minha cama, minha cabeça dói muito e esse barulho está me irritando.

— Padrinho, esse cara fez alguma coisa com a Morgana. Ela me ligou, eu fui até o escritório e encontrei ela desmaiada nos braços dele — ouço Salvatore dizer.

— Salvatore, eu chamei o médico. Vamos descobrir o que aconteceu assim que ela acordar — responde Luigi.

Eu já estava acordada, obviamente. Mas eles estavam tão focados em discutir que não perceberam isso.

— Eu vi que ela estava desmaiando. Você queria que eu a deixasse cair no chão? — defende-se Felipe.

"Então, foi isso? Eu desmaiei de novo, que mico", penso.

— E precisava pegar ela no colo? Você se aproveitou da situação — acusa Salvatore.

Meu avô se aproxima, vê que estou acordada observando os dois tontos falando. Ele parece preocupado.

— Você acordou. O que aconteceu? — pergunta Luigi.

— Eu passei mal. Não foi nada — respondo, tentando minimizar a situação.

— Ela não come nada, deve ser fraqueza. Vou trazer algumas coisas pra ela comer — diz Joana, preocupada.

— Faça isso, Joana. Meninos, deixem a minha neta descansar. Vão discutir em outro lugar — ordena Luigi.

Fico aliviada quando eles deixam o quarto. Não tenho nada contra o Salvatore, só que às vezes ele me sufoca e a presença do Felipe me perturba.

— Obrigada, vovô. Não aguento mais esses dois falando aqui — digo, suspirando de alívio.

O doutor Vicente chega e vem me examinar.

— Você não é pediatra? — pergunto, desconfiada.

— Eu sou uma espécie de faz-tudo — responde Vicente, em tom de brincadeira, mas eu fico preocupada. Não quero qualquer um cuidando da Melissa.

— Ele é o médico da família desde muito antes de você nascer. Fique tranquila. Como ela está, Vicente? — pergunta Luigi.

— A pressão está baixa. Por hora, vamos cuidar da alimentação e muito descanso. Façam o possível para ela repousar. Aparentemente não é nada sério. Passe na clínica para fazer alguns exames assim que possível — recomenda Vicente.

---

Eu só não consegui dormir, não tive tempo de comer, muitas coisas para resolver em pouco tempo.

— Só? Você precisa equilibrar isso. Resolver os problemas é importante, porém, sem descanso e alimentação, o corpo não aguenta — diz Vicente, preocupado.

Após ser examinada pelo Vicente, Joana trouxe uma sopa, suco e frutas.

— Come tudo, minha filha. Você está pálida. Eu vou preparar um banho de banheira, assim você relaxa antes de dormir — diz Joana, com carinho.

— Obrigada, Jô. Eu sei que já está tarde, mas você poderia me ajudar com o quarto da Melissa? Depois dessa confusão toda, eu não tive tempo de mandar os seguranças levarem as coisas para o quarto — peço, tentando organizar meus pensamentos.

— Menina, você está preocupada com isso agora? Vamos cuidar de você primeiro — responde Joana, surpresa com a minha preocupação.

— Jô, eu tô bem. A menina precisa de um lugar para dormir — insisto.

— O Felipe levou a menina para dormir no quarto dela até o quartinho dela ficar pronto — informa Joana, tentando me acalmar.

— Esse moleque é um irresponsável. Eu vou comer, tomar banho e vou organizar o quarto dela com ou sem a sua ajuda — declaro, decidida.

— Então, eu vou lá chamar reforço para fazer isso logo e você poder descansar — diz Joana, saindo do quarto.

— Jô, antes coloca as coisas do carrinho dela e do berço para lavar. As coisas vão sair secas da máquina, ela vai poder dormir confortavelmente. Tenho medo dela dormir na cama com o bocó e ele rolar por cima dela — peço, preocupada.

— Nem quero ver quando você tiver os seus próprios filhos — responde Joana, rindo.

Depois de um belo banho, vou ver o quartinho da Mel.

A Jô não chamou reforços, ela chamou o exército todo, porque já estava praticamente pronto. Faltavam apenas alguns detalhes.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***