Cabo de guerra - Parte 1

Eu fico parada com a mão na maçaneta da porta, observando incrédula o cinismo desses dois. A coisa toda é tão absurda que, se eu contasse para alguém, talvez a pessoa não acreditaria que dois homens adultos estão disputando a atenção de uma mulher que eles nem gostam, só para saber quem é melhor. Eles estão brincando de cabo de guerra e eu sou a corda. Até uns meses atrás, eu me sentiria lisonjeada com essa situação; eles até que são homens bonitos e eu não me importaria com as intenções por trás disso. Mas isso foi há um pedido de casamento frustrado atrás. Após ser trocada por uma mulher do nível da Patrízia, eu definitivamente não quero ser cortejada por homem nenhum agora. Tenho certeza de que Salvatore não tem nada de importante para dizer; ele está usando a reunião como pretexto para ser visto pelo Felipe entrando no meu quarto.

— Precisamos mesmo conversar sobre amanhã — disse Salvatore, com um tom sério.

— Bem lembrado, ainda tenho que enfrentar o Conselho amanhã, preciso mesmo dormir. Depois do café da manhã a gente conversa — respondi, tentando encerrar a conversa.

— Também acho melhor você dormir, tá com uma cara péssima — comentou Felipe, com um sorriso sarcástico.

— Obrigada pela parte que me toca. Vou dormir, boa noite! — respondi, tentando manter a compostura.

Felipe se aproximou da porta e a abriu, dizendo:

— Também já vou indo, boa noite!

Meu quarto fica no final do corredor. Nas paredes laterais, há mais dois quartos, um de cada lado; um é da Melissa e o outro ninguém está usando no momento.

— Esse pirralho vai dormir aqui? — perguntou Salvatore, com um tom de desdém.

— Aqui em casa? Sim — respondi, tentando manter a calma.

— Você entendeu o que eu quero dizer. Ele vai dormir no quarto ao lado do seu? — insistiu Salvatore, com um olhar penetrante.

— Entendi e acho que isso não é da sua conta — respondi, firme.

— O pirralho aqui vai dormir do ladinho dela sim. Algum problema? — provocou Felipe, com um sorriso sarcástico.

Vi um sorriso sarcástico no rosto do Felipe e o Salvatore me olhou com raiva.

— Não me provoque, moleque — disse Salvatore, avançando e agarrando a gola da camisa do Felipe.

— Se está tentando me assustar, falhou miseravelmente — respondeu Felipe, rindo com deboche.

— Vocês são ridículos — intervi, tentando acabar com a briga.

"Eu devo ter colado chiclete na cruz, não é possível ter uma vida dessas sem ter feito nada", pensei, frustrada.

— Ridículo é você deixar esse moleque dormir aqui do seu lado. Se ele pode, eu também posso — disse Salvatore, dando um passo à frente e abrindo a porta.

Agora, os dois estavam em frente aos quartos vizinhos ao meu. Quanta infantilidade.

Entrei no meu quarto e fechei a porta. Deu para perceber que a discussão lá fora estava longe de acabar.

"A distância entre o corredor e a minha cama é grande, vou conseguir dormir assim mesmo", pensei, tentando me acalmar.

Eu tentei dormir, mas não era o barulho que me incomodava e sim o desaforo. Eu não podia deixar esses dois fazendo escândalo aqui sempre que quisessem.

Foi aí que um pensamento maluco passou pela minha cabeça.

"Talvez eu deva experimentar o lance do 'olho por olho'. Fazer o Felipe passar raiva não vai me fazer mal nenhum, até porque, comparando com o que ele me fez, isso não é nada. Mesmo que ele não sinta ciúmes, essa disputa com o Salvatore mexe com ele."

Fui até o closet, vesti um pijama curto e decotado e voltei para o corredor. Eu sabia que os dois ainda estavam lá, pois ouvia a discussão do meu quarto.

Eles pararam de falar e me olharam sem dizer nada. Estava morta de vergonha; no fundo, eu sabia que não era uma boa ideia, mas já estava lá.

"Agora não tem mais volta, tenha coragem", pensei, respirando fundo.

Eu estendi a mão para Salvatore e falei antes que perdesse a coragem:

— Vim buscar você, entra.

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