Todos foram dormir, mas eu não consigo. Sinto que estou deixando alguma coisa importante passar. A garotinha é muito grande para uma prematura. Será que o Felipe se confundiu? Vou chamar um médico amanhã para resolver isso. Se ela realmente for prematura, eu posso estar colocando a vida dela em risco. Também preciso resolver como lidar com o tio Cláudio. Ele não vai perdoar isso.
Ainda não sei muito sobre o acidente do meu pai. Que tipo de filha eu seria se deixasse isso para lá? Meu Deus, quantos problemas. Falando em problemas… Tem a máfia.
Estou ansiosa, não aguento mais não ter controle de nada. Eu gostei de resolver a palhaçada que o tio Cláudio fez com o Felipe. É isso. Achei a minha vocação, meu jeito de viver.
O dia já amanheceu. Não consigo ficar parada, estou andando de um lado para o outro na sala. Tentei dormir, mas quando me cubro sinto calor e quando tiro o cobertor sinto frio. Estou surtando.
“Só tem um jeito de resolver isso.” Pensei.
Ando até o corredor e vou abrindo as portas dos quartos até achar o Salvatore, que já estava acordado. — Eu preciso muito, muito mesmo conversar com você — eu disse a ele.
Decido resolver algumas coisas com ele primeiro, e dar mais tempo para o Felipe dormir. Eu não sei o que ele passou, vou deixar ele descansar. Não resisti e dei uma olhadinha na bebê também.
— Quando foi a última vez que você dormiu? — perguntou ele.
— Por que? — questionei.
— Você está agitada, parece ansiosa — observou ele.
— Eu preciso resolver a minha situação, até lá não vou conseguir dormir — respondi impaciente com o interrogatório.
— Por onde você pretende começar? — perguntou Salvatore.
— Quero saber tudo o que aconteceu no dia do acidente, quem é o responsável e, o mais importante, todos os pontos fracos do infeliz — expliquei.
— Estamos falando de vendetta? — indagou Salvatore.
— Sim, eu vou me vingar — afirmei.
— O ponto fraco está dormindo no meu quarto de hóspedes — revelou Salvatore.
— Não, não pode ser. O tio Cláudio tentou matar o meu pai? Você tem provas? — perguntei, incrédula.
— Você ainda não sabe como as coisas funcionam. Se soubesse, já teria percebido — disse Salvatore.
— Ele é como meu segundo pai, como pode ter feito isso comigo? — questionei, chocada.
— No nosso mundo, o poder vem em primeiro lugar — explicou Salvatore.
— Você tem certeza que foi ele? — perguntei sem conseguir acreditar.
— Claro que tenho. Ele quer o seu lugar. Ser Sottocapo, o vice, não é o suficiente para ele. O Cláudio sempre quis ser Don, o chefe de todas as famílias. Ele apresentou um plano maluco de fusão em uma das reuniões do conselho. Quando tudo aconteceu, ele cuidou tanto de vocês para não levantar suspeitas, e funcionou, por um tempo — revelou Salvatore.
— Vamos investigar primeiro, não quero me arrepender depois — decidi.
— Se eu estiver certo, o que você vai fazer? — perguntou Salvatore.
— Destruir tudo o que ele tem, deixá-lo sem nada e depois… — comecei mas fui interrompida.
Ouço passos na sala e lá estava o Felipe, sem camisa. Senti minha respiração mudar e meu coração parece a bateria de uma escola de samba.
— Você vai me usar para atingir o meu pai? Vai se igualar a eles? — perguntou Felipe, surpreso. Ele parecia ofendido até.
— Eu não tinha visto você, que feio ouvindo a conversa dos outros — Repreendi.
— Ela tem direito a vendetta, você sabe disso, Felipe — disse Salvatore.
— Primo, vai dar uma olhadinha na bebê, eu não fui com a cara dessa enfermeira — pedi.
— Eu vou, mas volto logo — respondeu Salvatore.
— Obrigada! — agradeci segurando a sua mão quando ele passou por mim.
O Salvatore retribuiu o aperto levemente na minha mão e logo saiu da sala.
— Felipe, eu pedi para ele sair porque preciso conversar contigo.
— Então, fala rápido antes do seu namoradinho voltar. Não queremos deixar seu cão de guarda com ciúmes, não é mesmo? — provocou Felipe.
— Ele é meu primo e nada disso é da sua conta — respondi, irritada.
— Faz tempo que estão juntos? — perguntou Felipe.
— Você não ouviu o que eu disse? Ele é meu primo, cara — respondi levemente irritada e lá se foi o pouco de calma que tinha me restado..
— Eu vi o jeito que ele te olha, parece que vai te devorar — insistiu Felipe.
— Você está confundindo as coisas, ele é minha babá, ficar de olho em mim é o trabalho dele — expliquei o obvio.
— Ah, sim. Ele está mesmo babando por você — provocou Felipe.
— Não seja tonto, só porque você saiu por aí fazendo filho na primeira que apareceu acha que todo mundo é igual. Falando nisso… Cadê a sua mulher? A bebê precisa de uma mãe.
— Meu pai deu dinheiro para ela sumir. — Felipe respondeu com frieza.
Muitas coisas passaram pela minha cabeça, derrepente, a terioria do Salvatore fez todo sentido. — Felipe, seu pai tentou me matar?
— Bom, ele me trancou em casa, comprou a minha filha. Tudo é possível.
— Eu vou pra cima dele com tudo, não queria que você soubesse de outro jeito.
Felipe parecia incrédulo:
— Eu nunca pensei que você seria igual a eles. Você vai se meter nessa sujeira.
— O que você espera? Que eu seja presa em casa? Tenha um filho com qualquer um? Veja o que aconteceu com você. Eles querem jogar, eu vou mostrar como se joga. Seu pai vai ser o primeiro, depois terei uma conversa séria com o meu pai e o meu avô também.
— Você acha que vai ganhar deles?
— Se tudo der errado eu pego umas dicas com você, já virou especialista em ser derrotado mesmo.
— Você não tem noção do que eu passei.
— Coitadinho, deve ser difícil curtir a vida e fazer filhos por aí. — Debochei
— Eu estava sozinho.
— Eu estava com a minha família, Felipe? Você acha que foi fácil?
Salvatore entrou na sala com um sorriso enorme:
— Voltei, crianças.
Eu sorriu de volta sem perceber:
— Vamos para casa, o Felipe ficará aqui com a bebê. — Eu disse colocando a mão na boca pra esconder o sorriso besta.
Felipe implorou:
— Pode me usar para se vingar do meu pai, só deixe a minha filha fora disso.
— Vou pensar no seu caso. Eu volto logo, não tente nenhuma besteira. A casa está cercada. — As palavras sairam da minha boca, mas era a raiva falando. Foi tudo da boca pra fora.
— Você é mesmo igual a eles.
Ai, essa doeu. Será que mesmo depois de tudo o que eu fiz as palavras valem mais do que ações? Será que ele pensa tão pouco assim de mim, mesmo depois de anos de amizade?
— Vai cuidar da sua filha e pare de falar besteira. Um médico virá aqui examinar o esse anjinho, se eu não estiver aqui, pergunte se ela realmente é prematura, quero cuidar dela da melhor maneira possível.
— Até parece que a filha é sua. — Ele resmungou.
— Eu já gosto muito dela, Felipe. Você não entende nada mesmo. Vamos, babá. — Peguei Salvatore pela mão e fomos juntos até o carro. Sei que isso irritou Felipe.
O carro de Salvatore era um modelo esportivo de luxo, achei um pouco alto. Ele gentilmente me ajudou a entrar no carro, achei ele muito fofo, deve ser carência.
— Você está sendo muito bom comigo, obrigada.
— Eu disse que pode contar comigo.
— Obrigada assim mesmo.
— Para onde a sua babá deve te levar? — Ele disse no puro deboche, mas compensou com um sorriso com covinhas.
Que Deus me ajude!
Limpando a garganta eu encontrei um jeito de voltar a mim e responder— Vamos para casa. Eu preciso conversar com o meu avô. Para quando é a reunião com o Conselho?
— Amanhã.
— Perfeito!
— Não está com medo?
— Meu medo não me afeta mais.
Verbalizar isso me fez perceber como me tornei uma pessoa fria, eu perdi todo o brilho que tinha antes da minha vida se transformar no que é agora. Encostei a cabeça no banco e fiquei olhando a paisagem pela janela do carro em silêncio até chegar na casa do meu avô. Salvatore abriu a porta e ofereceu a mão para me ajudar a sair do carro.
Fui até o quarto do meu avô, ainda eram 6h, suponho que ele estava dormindo. Bati na porta e ele disse para eu entrar. Entrei falando tudo de uma vez:
— Vovô, eu quero vingança. O tio Cláudio vai me pagar. Eu peguei o Felipe e a filha dele.
— Por que você fez isso? Ele terá motivos para te atacar.
— Ele já atacou sem motivos. Vovô, a melhor defesa é o ataque, nunca ouviu falar isso?
— Você terá coragem para atacar?
— O senhor pode ter certeza disso.
— Vai mesmo usar o Felipe como vantagem?
— Eu vou. — De novo, era a raiva falando.
— Você me enche de orgulho, meu tesouro.
— Vou, mas aposto que não é nada do que o senhor está pensando. Na verdade, eu vou ajudar o Felipe, no final das contas.
— Não entendi.
— Amanhã você vai entender. Vovô, meu pai está em segurança?
— Sim, mandei ele para um lugar seguro e bem longe do Cláudio.
— Você também acha que foi ele?
— Vejo que o Salvatore falou com você sobre isso.
— Você deveria ter sido fofoqueiro profissional, acho que errou de profissão.
Luigi respondeu com um tom preocupado:
— Meu tesouro, você precisa descansar, está muito abatida. Eu mandei buscarem a Joana para cuidar de você.
— Não precisava ter se incomodado com isso, vovô. Coitada da Jô, eu nem sei se ela pode viajar agora.
— Ela ficou feliz com a notícia.
— Tudo bem, então. Mas me conta como será a reunião de amanhã com o tal conselho, estou ansiosa.
— Não precisa ficar, será algo bem informal, porém é necessário observar e escolher seus aliados. Você notará as intenções deles, tem bons instintos. Eu confio em você.
— Confia mesmo? Vovô, eu quero ser honesta e espero que você também seja honesto comigo. Eu não vou tolerar que tentem me controlar novamente, ouvirei a sua opinião sobre as coisas, mas é só isso.
— Nem assumiu ainda e já está descartando o seu próprio avô.
— Se não aceita os meus termos, continue no cargo.
— Se eu gostasse dos membros do conselho, sentiria pena deles.
— Eu preciso de algumas informações sobre as operações, áreas de atuação, pessoal e essas coisas.
— Fale com o Salvatore. O que você está procurando exatamente?
— Quero saber mais sobre as atribuições do meu “cargo” e o que eu posso fazer contra alguém.
— Quem é o alvo?
— Cláudio e quem se opor à sua decisão. Quero saber o que eu posso fazer, se precisar atacar outra família, por exemplo.
— Nosso exército é cinco vezes maior que as outras famílias. Em caso de ataque ou qualquer outra coisa, você pode contar com nossos aliados. Use o nome da família para cobrar favores de autoridades, políticos e jornalistas.
— Quero uma lista completa, você tem?
— Temos muitas listas, dossiês e outras coisas sobre aliados e inimigos. Vá até o escritório e use o meu computador. A senha é o seu aniversário.
— Obrigada, vovô.
Dei um beijo no rosto do meu avô e fiz o que ele disse. Acessei os arquivos dos membros do conselho, preciso saber com quem estou lidando, nem que seja um pouco. Não é tão diferente de uma empresa. As horas passaram rapidamente, lembrei que quero estar presente na consulta médica do meu anjinho. Fui até a cozinha, comi uma maçã e depois fui para o meu quarto, tomei banho, fiz uma maquiagem simples e com muito corretivo, pois estou parecendo um panda de tantas olheiras. Escolhi um vestido e uma sandália e fui direto para o carro.
Encontrei o meu primo encostado no carro de braços cruzados. Ele abriu um sorriso assim que me viu. O Salvatore é um homem muito bonito e fica pior quando sorri assim.
— Vamos?
— Pensei em te deixar aqui descansando e ir sozinha, dessa vez.
— A sua babá vai junto sempre, acostume-se com isso.
— Meu avô não é o único chegado a uma fofoca. Você ouviu a minha conversa com o Felipe, não é?
— Acidentalmente.
— Que isso não se repita, eu quero ter privacidade.
— Desculpe, as paredes da minha casa são finas.
— Sei… Você conseguiu o médico para examinar a bebê?
— Sim, ele é um dos nossos. Pedi para ele esperar para falar com você.
— Obrigada.
Entramos no carro, eu aproveitei para descansar um pouco.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 52
Comments
Sofia
aí gente me julguem mas eu prefiro ela com o Salvatore
2024-05-08
4
Maria De Fatima Carvalho
amando está história
2024-03-11
0
Lice Otto
Ela jogará conforme os ensinamentos de Maquiavel
2023-09-19
3