O Plano do pai dele

Horas antes…

Eu estava impaciente. “Não é nada além de amizade, desembucha logo,” disse para Salvatore.

Ele hesitou por um momento antes de revelar: “O Felipe está em cárcere privado, o Cláudio está mantendo ele trancado em casa.”

Fiquei indignada. “O tio Cláudio passou de todos os limites. Definitivamente ele é o pai mais tóxico que existe.”

Salvatore continuou: “Tem mais. A moça que estava grávida vendeu a criança para ele e sumiu.”

Não podia acreditar. “Conta essa história direito. Como assim a mãe vendeu o próprio bebê?”

Salvatore explicou: “Eu ouvi o Luigi mandar o Cláudio limpar a bagunça que o Felipe havia feito. Fiquei curioso e decidi investigar. O Cláudio veio para a Itália para colocar o Felipe na linha e descobriu que ele estava saindo com uma mulher que estava grávida. Fizeram um exame de DNA e ele ofereceu dinheiro em troca da criança e do silêncio dela.”

Perguntei, intrigada: “Qual é o interesse do meu avô em tudo isso?”

Salvatore respondeu: “Nós temos negócios com a família deles. As atitudes do Felipe estavam atrapalhando as coisas, ele trouxe muito prejuízo e os outros líderes estavam exigindo que algo fosse feito.”

Ainda estava confusa. “Ter um filho atrapalha tanto assim? Eu não entendo.”

Salvatore explicou pacientemente: “Ele arruinou as chances de conseguir um bom casamento. Parte do trabalho dos herdeiros como vocês é conseguir um bom casamento. Sem contar que ele simplesmente abandonou o trabalho, as operações ficaram sem comando por dias, muita gente importante perdeu dinheiro e eles querem cobrar.”

Finalmente entendi. “Por isso o tio Cláudio prendeu o Felipe em casa. Agora ficou menos bizarro.”

Salvatore confirmou: “Sim, ele está fazendo tudo o que pode para manter o Felipe longe de problemas, mas as dívidas já foram pagas pelo seu avô.”

Fiquei surpresa. “Desde quando o velhinho fofoqueiro é generoso?”

Salvatore riu. “Aposto que ele não fez isso por generosidade.”

Olhei nos olhos de Salvatore. “Você está traindo a confiança do meu avô, por quê?”

Salvatore respondeu com sinceridade: “Eu disse que você pode contar comigo. Minha lealdade está com você, desde sempre. Eu estava com o Luigi para aprender e apenas isso.”

Pensei comigo mesma: “Ou é uma babá que meu avô está usando para me vigiar.”

Decidi dar uma chance a Salvatore. “Vamos supor que eu acredito em você, certo?”

Salvatore assentiu. “Sei que não acredita, porém com o tempo você vai perceber que pode confiar.”

Fiz uma proposta. “Vamos resgatar o Felipe. Se você quer tanto a minha confiança, me ajude.”

Pensei: “Se ele é um informante do meu avô ou do tio Cláudio, eu vou saber hoje mesmo.”

Salvatore perguntou: “Como você pretende fazer isso?”

Expliquei meu plano: “Meu plano é simples. Vou esperar por uma oportunidade e levar o Felipe para um lugar seguro. Eu conto com você para escolher alguns guardas e manter isso em segredo. Você tem alguma casa que meu avô não conheça?”

Salvatore sorriu. “Acho que entendi o que você quer fazer. Sim, tenho uma casa que ninguém conhece. Você é diferente do que eu pensei.”

Perguntei, curiosa: “Melhor ou pior?”

Salvatore respondeu com um sorriso: “Melhor, muito melhor. Eu pensei que você fosse uma garotinha assustada, que não sabia lidar com esse tipo de situação.”

Sorri de volta. “Bom, meu avô diz que está no meu sangue. Acho que dessa vez ele tem razão.”

Terminamos de tomar o suco e combinamos tudo para sumir com o Felipe sem o tio Cláudio perceber. Enviei uma mensagem para o tio Cláudio perguntando sobre o Felipe. Ele mordeu a isca e rapidamente contou a versão dele sobre o nascimento do bebê, convidando-me para ver o novo integrante da família. Era a oportunidade que eu precisava.

Depois de um belo banho, me arrumei e fomos para o hospital. Saí do carro e fui seguindo as placas até chegar à maternidade. Ouvi a voz do Felipe e meu coração quase saiu pela boca.

“Se preserva, Morgana,” meu inconsciente gritava.

Respirei fundo e fui contando mentalmente até dez. O sonso nem percebeu que eu estava atrás dele. O tio Cláudio estava sorrindo, parecia feliz em me ver. Devia estar tramando alguma coisa ou simplesmente rindo do filho tonto que ele tinha.

Aproximei-me. “Oi, tio Cláudio. Quer dizer que o nerd agora é papai?”

Felipe respondeu com um sorriso: “Oi para você também, pirralha.”

Ri. “Nossa, você está péssimo. Que cabelo é esse?”

Cláudio olhou para nós e disse: “Bom, vou deixar vocês colocarem o assunto em dia.”

Aproveitei a oportunidade. “Tio Cláudio, meu avô te convidou para um drink lá em casa, ele está esperando.”

Cláudio assentiu. “Estou indo, então.”

“É melhor não deixá-lo esperando, você sabe como ele é impaciente,” acrescentei.

O tio Cláudio não me vê como uma ameaça, ele acredita que eu ainda sou a aprendiz dele, isso é bom.

Felipe, curioso, perguntou: “O que seu avô quer com o meu pai?”

Respondi rapidamente: “Nada, eu inventei o convite para manter os dois ocupados.”

Salvatore entrou na conversa: “Está tudo saindo conforme o combinado. A maioria dos soldados estão com o Cláudio, ele deixou cinco seguranças com o Felipe. Podemos usar a saída dos fundos sem causar problemas para os pacientes do hospital, como você sugeriu.”

Sorri. “Perfeito!”

Felipe parecia confuso. “Porque a sombra do seu avô está com você?”

Expliquei: “Estou assumindo tudo e meu primo veio no pacote.”

Salvatore olhou para nós e disse: “Está na hora. Peguem o bebê e vamos sair daqui.”

Felipe protestou: “Ela não pode sair daqui, nasceu prematura.”

“Sonso, ela não pode ficar aqui e você também não. É o que dizem: se você quer uma coisa bem feita, faça você mesmo,” respondi, decidida.

Paguei uma enfermeira para vestir a bebê e preparar uma mamadeira para viagem. Ela me entregou a menininha e, mesmo no meio da correria, não pude deixar de reparar em como ela é linda. Já estou apaixonada por ela. Usamos a saída de funcionários para fugir com o Felipe. Eu não queria causar um tiroteio ou algo do tipo em um hospital. Entramos no carro e o Felipe ficou espantado quando viu o bebê conforto já instalado. Coloquei a menininha com cuidado, ela não parece ser recém-nascida. Pra variar, o Felipe não sabe de nada.

Salvatore assumiu a direção, enquanto os seguranças estavam divididos em dois carros, um na frente e outro atrás.

“Já pode agradecer, viu, Felipe?”.

Ele respondeu, ainda atordoado: “Desculpe, eu nem sei o que dizer. O que aconteceu com você? Quando ficou tão…”

“Tão o que?” perguntei.

“Tão vovô Luigi,” ele respondeu.

“Engraçadinho. Virou comediante?” retruquei.

Felipe olhou para mim, sério. “Você mudou muito.”

“E você tem uma filha. Pra um nerd até que você apronta bastante. Você está com a mãe dela faz tempo? Vai se casar com ela?” perguntei, curiosa.

Felipe suspirou. “Quantas perguntas. Ela foi embora. Estou sozinho com essa bebezinha, a ficha não caiu ainda.”

“Isso não me surpreende, você sempre foi lerdo,” comentei.

Eu não sei explicar, mas por algum motivo senti uma necessidade muito forte de cuidar da neném. Durante todo o trajeto, eu sempre olhava para ela e colocava um dedo perto do nariz dela para saber se ela estava respirando.

“Salvatore, você conseguiu tudo o que eu pedi? Essa garotinha vai precisar de tudo aquilo e muito mais,” perguntei.

Salvatore respondeu: “Sim, passei a lista para alguém de confiança e contratei uma enfermeira.”

Felipe parecia preocupado. “O que vocês vão fazer com a minha filha?”

“Não seja tonto. Estamos falando de berço, fraldas, roupas e uma enfermeira para cuidar bem desse anjinho,” expliquei.

Felipe ainda estava confuso. “Por que você está fazendo tudo isso?”

Salvatore interrompeu: “É muito lerdo mesmo. Chegamos.”

“Depois a gente conversa, agora me ajuda a levar o meu anjinho para dentro, não quero que ela fique resfriada,” disse, entregando as coisas para eles e pegando a bebê no colo. Não confio neles para isso. O quarto não está decorado corretamente, mas ela vai ficar bem aqui, por enquanto.

Salvatore apresentou: “Morgana, Bruno, essa é a Marisa, ela é de confiança. Vai cuidar bem da bebê.”

Marisa sorriu. “Prazer em conhecê-los.”

“Não gostei do jeito que ela olhou para o Felipe.”

Morgana olhou para Marisa com um olhar severo.

— Querida, a bebê está aqui. Seu trabalho é cuidar dela e não dele.

— Eu não entendi, senhora — respondeu Marisa, confusa.

— Sabemos que entendeu sim. Espero não ter problemas com você. Cuide dessa criança como se a sua vida dependesse disso. Na verdade, depende.

Salvatore interveio, tentando aliviar a tensão.

— Marisa, é melhor você levar a criança para o quarto e ver se está tudo certo com ela.

E assim ela fez, parece que criou juízo.

Morgana voltou-se para Salvatore.

— Ela é de confiança mesmo? Tem certeza?

— Sim, pode confiar e qualquer coisa nós podemos ficar de olho, se isso for deixar você mais tranquila.

— Já é um avanço. Por favor, leve o Felipe até o quarto dele. Eu vou fazer uma ligação e depois vou descansar também.

Esperei os dois saírem e liguei para o meu avô.

— Vovô, o Cláudio está com você?

— Então, foi você! — respondeu Luigi, surpreso.

— Seja lá o que for, eu nego.

— Mentindo para o seu velho e cansado avô, meu tesouro?

— Chantagem emocional não cola, vovô. O Cláudio está ou não com você?

— Ele apareceu aqui agradecendo pelo convite, logo soube que você estava armando alguma coisa e inventei um assunto qualquer para distraí-lo. Ele saiu faz pouco tempo.

— Você é incrível, vovô! Depois explico tudo. Eu prometo.

— Vou descansar, beijos.

— Bom descanso. Beijos, vovô.

Eu não tinha pensado que seria tão rápido. Preciso pensar em como lidar com o tio Cláudio.

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