Ícaro

A neve caia como água, Henry vestiu o casaco e a touca, olhou as horas e saiu. Sentiu as botas afundarem na neve e sorriu largo, adorava a neve. Encarou Heenim na janela, que lia um dos livros da faculdade, o qual ele deveria ler também!

- Está muito frio Linnie - Henry assentiu, tentando tirar as botas da neve branca

- Vou comprar umas coisas, eu volto já - Ela assentiu e acenou de volta para Henry. Começou a caminhar, ignorando as vezes que tropeçava no próprio pé, por conta do peso que tinha a neve. Estava finalmente se sentindo bem, como se ele estivesse livre de tudo aquilo que lhe fazia mal. O único barulho que ouvia era o do vento, até escutar uns gemidos doloridos, vindos do beco onde uma vez tinha discutido com N. Foi até lá, vendo um rapaz de fios negros se arrastar pela neve gelada, que era colorida pelo seu sangue. Correu até ele se abaixando.

- Ei... Quem fez isso com você? - Ele se encolheu e Henry se afastou

- Sai, sai daqui, me deixa aqui, me deixa aqui - Henry se abaixou novamente, vendo o rapaz encostar na parede laranja do beco.

- Eu não vou te machucar, eu quero te ajudar, fique calmo! - Ele encarava o mais velho completamente assustado, os olhos molhados e os hematomas roxos por todo o corpo. Henry tirou a blusa de frio e colocou nos ombros largos do rapaz, que o encarava ainda assustado. - Não se preocupe, eu não irei te machucar - Henry sorriu grande para ele tentando passar alguma confiança, mas nada feito, ele tentou se arrastar para longe do mais velho novamente.

- Eu não quero, me deixa aqui, eu não quero, não quero - Henry não deu atenção, se levantou e o pegou no colo - Por favor, me deixe aqui - Ele negou e começou a voltar para casa, avistou Heenim ainda na janela e gritou a garota, que de imediato o encarou.

- HEENIM! - Ela se virou vendo Henry com um rapaz no colo

- HENRY? - Ela saiu da janela e correu para dentro, procurando sua blusa de frio. Henry subiu as escadas e colocou o rapaz na cama

- Você pode me dizer seu nome? - Ele negou - Vamos fazer assim, eu vou te dizer o meu primeiro, daí você me fala o seu certo? - Ele apenas encarou Henry e levou a mão até a barriga do rapaz, que reclamou de dor - Eu me chamo Lim Henry, tenho vinte e seis anos e sou aluno de medicina na faculdade de Seul. - Henry sorriu e o rapaz suspirou sentindo o toque gelado da mão alheia.

- Me chamo Ícaro - Logo Heenim entrou com uma mala nas mãos, ele se encolheu na cama e Henry apenas encarou a pequena se ajeitar ao lado do corpo machucado

- O que aconteceu? - Ela se abaixou ao lado de Henry e sorriu para o menino, que parecia uma criança assustada - Não te preocupe, eu não irei te machucar, pelo contrário - Ela abriu a mala, com várias coisas e medicamentos.

- Ele está muito gelado - Henry correu no guarda roupa, pegando uma coberta limpa

- Vocês não precisam me ajudar - Ele falou olhando para baixo - Eles vão voltar e vão me matar... E melhor eu morrer agora! - Henry negou e Heenim apenas suspirou. Heenim continuou a ver as feridas, limpando as mais fundas com cuidado. Henry pegou água quente no banheiro e ajudou a garota a limpar o corpo do rapaz.

- Eu vou descer e preparar algo para vocês. - Heenim falou se levantando

- Obrigado Hee - Ela sorriu e saiu do quarto. O mais novo encarava Henry, sentindo o coração bater rápido, as mãos cuidadosas tiravam todo sangue e sujeira, mas Ícaro tinha medo, tinha medo daquilo ser apenas um sonho.

- Você tem quantos anos? - Henry perguntou

- Porque? - Sorriu para o mais novo

- Se não quiser dizer, tudo bem! - Ícaro suspirou e fechou os olhos sentindo cabeça doer

- Tenho vinte e três - Henry assentiu e continuou a limpar o corpo machucado.

- Porque fizeram isso com você? - Ele suspirou e encarou os dedos

- Eu perdi meus pais, então fui criado por uma velha louca... Ela me batia todos os dias, então, pra me defender eu a empurrei da escada. - Logo os olhos alheios se molharam e o desespero tomou conta do corpo dele - Eu não queria matá-la, eu juro que não, eu juro - Henry o abraçou forte, tentando passar confiança para ele, sentindo o mais novo soluçar - Foi sem querer... Eu não sou ruim, eu não fiz de propósito, acredita em mim, por favor - Henry assentiu e esperou o mais novo ficar calmo

- Eu acredito, você está seguro aqui - Lim enxugou os olhos do menino e sorriu

- Daí os filhos dela tentaram me matar - Ele terminou. Henry passou a toalha seca pelo corpo alheio e pegou uma de suas camisas

- Você é muito alto - Ele riu - Está com fome? - Ícaro assentiu encarando os dedos - Consegue andar? - Ele assentiu e com muita dificuldade se levantou - Sobe aqui - Negou

- Não precisa...

- Anda Ícaro, vamos chegar na cozinha só amanhã assim! - Henry o pegou nas costas e desceu as escadas, indo para a cozinha.

- Eu já estava indo chamá-los - Os rapazes sorriram para Heenim. Henry colocou Ícaro no chão, perto da cadeira para que o mesmo pudesse se sentar

- Hee, fique, coma com a gente - Ela assentiu e se sentou.

...

Ícaro estava sentado no sofá, assistindo um dos desenhos que passava naquele horário. Se sentia um inútil por não ter como ajudar o mais velho... Ficava o dia todo sentado, assistindo, enquanto Henry dava tudo para si. Queria sair e trabalhar duro, ter seu próprio dinheiro, como seu "irmão" fazia sempre, queria ajuda-lo com a casa. Como sempre, Henry chegou pela noite, trouxe seu chocolate preferido e lhe deu um beijo na testa, subiu as escadas e tomou banho. Alguns minutos depois ele desceu e se sentou ao lado do mais novo, que estava com a boca toda suja de chocolate.

- Ei, eu tenho algo pra você - Ícaro encarou o sorriso branco de Henry e não pode deixar de sorrir junto com ele

- O que? - Ele entregou algo fino, embrulhado em um papel de presente azul, a cor favorita do mais velho. Sorriu e agradeceu, mesmo sem saber o que era, Henry fazia de tudo para vê-lo feliz

- Eu espero que você fique muito feliz - Ícaro se afobou, abrindo o papel de qualquer jeito, logo sendo repreendido por Lim, que sorriu - Devagar, você não pode rasgar isso - Ícaro respirou fundo e terminou de tirar o papel presente, vendo um envelope preto. Sorriu para Henry que logo pediu que ele abrisse o envelope, foi feito, Ícaro abriu o envelope e tirou de dentro um papel branco.

"Faculdade de Seul, Boas vindas á Ícaro Miguel no curso de direito"

Os olhos do mais novo se encheram de lágrimas, se virou para Henry e negou vendo o mesmo sorrir largo.

- Você... Henry... Eu não posso... Isso é muito caro! - Ícaro falou deixando as lagrimas caírem. Henry assentiu e passou a mão nas madeixas escuras

- Eu prometi que ia cuidar de você, certo? Quero começar pelo seu futuro... - Ícaro suspirou e encarou o papel - É seu sonho certo? - O mesmo assentiu e abraçou Henry com força, sentindo o mais velho desequilibrar e cair consigo no tapete branco.

- Obrigado Lim, obrigado por tudo, por tudo - Ícaro sentiu um beijo estalado na bochecha e sorriu, afundando o rosto no pescoço do mais velho.

- Amanhã iremos comprar o seu material, certo? - Assentiu, vendo Henry sorrir para si.

- Obrigado!

///

- Ele era o irmão que eu nunca tive, ele me salvou e cuidou de mim, ele não tinha obrigação nenhuma, eu era um desconhecido morrendo num beco vazio e gelado... Ele podia ter passado direto, podia ter me deixado lá, pra morrer, como todos estavam fazendo..., mas ele parou... Ele parou, me levou para casa e cuidou de mim. Ele pagou meus estudos, o meu advogado durante o julgamento, ele era tudo pra mim, eu não seria nada sem ele... Tudo que eu sou hoje, foi graças a ele, e a mais ninguém - Sabrina sentiu as lágrimas caírem dos seus olhos e encarou a sala, todos choravam, Maíra enrolou seus dedos nos de Ícaro e deitou a cabeça no ombro largo - Eu nunca faria mal a ele, nunca, nunca machucaria o Henry- Ele terminou. Louise suspirou e encarou o rapaz

- Você foi julgado pela morte da velha? - Ele assentiu

- Os dois mais velhos foram presos... - Louise anotou e sorriu

- Obrigada Ícaro - Ele suspirou e sorriu

- Nós vamos precisar de todos vocês, qualquer novidade, deve ser passada para nós, não percam tempo - Eles assentiram e as duas oficiais levantaram - Vou levá-las até a porta - Ícaro se levantou e caminhou com as garotas até a porta, se despediu das policiais e fechou a porta. Sabrina bateu os olhos em Ulices, que esperava, encostado no carro branco

- Eu não sei como acusar alguém - Louise falou

- Eu também não sei... Acho que a história mais verdadeira até agora foi a de Ícaro! - Sabrina falou entrando no carro

- Eu acho que vocês deveriam focar no N, ele me parece o mais culpado! - Louise concordou num longo "uhum"

- Mas nós não conseguimos encontra lo... Temos que investigar os amigos, todas as versões são essenciais para encontrar um mentiroso por exemplo - Louise concordou novamente - Até agora as histórias se encontraram, Heenim e Henry ajudaram o Ícaro, ele já estava solteiro. A história de Yan bate com a de Maíra, e Bunny me mostrou as ameaças - Sabrina falou suspirando

- A história que temos ouvido se encaixou em todos os pontos... Na noite da morte, Heenim confirmou que eles tinham ido à festa, confirmou que viu os rapazes indo embora e agora ela voltou a confirmar a história de Ícaro... Heenim não me parece ser uma mentirosa, ela e o Henry cresceram praticamente juntos - Ulices deu de ombros com a fala de Louise

- Eu sou um pouco encucada com o tal do Ítalo, ele é sempre tão... Silencioso - Louise assentiu

- Devemos chamá-lo para uma conversa? - Sabrina assentiu logo pegando o celular

...

Andei pela estrada escura, arrastando o outro pelo caminho, respirava ofegante, o larguei em qualquer canto e voltei a caminhar, avistei um caminhão vindo em minha direção e pedi que ele parasse.

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