Sentimentos Conflitantes

Assim que melhorou, Kira apressou-se em ir embora. Ninguém entendia o motivo de sua reação, nem mesmo Ricardo, que nunca a vira tão nervosa, nem durante as urgências no hospital.

Ela pegou uma carona com os funcionários da casa de Ricardo e foi direto para o hotel, deixando todos confusos.

Ao chegar, não perdeu tempo. Foi imediatamente ao banheiro, tirou a roupa e entrou no chuveiro, esperando que a água quente clareasse seus pensamentos.

— Não pode ser que depois de tanto tempo eu o encontre aqui — murmurou, sentindo a água escorrer por seu rosto e cabelo. — Será que ele me reconheceu?

Enquanto a água caía sobre seu corpo, uma mistura de nervosismo e nostalgia tomou conta de Kira. Por mais que estivesse confusa com o reencontro, uma parte dela sempre desejou vê-lo de novo.

Sem perceber, ela escorregou pela parede do banheiro e se sentou no chão, as lágrimas surgindo com as lembranças daquela noite que mudou sua vida.

Após um longo tempo chorando, Kira deitou-se na cama e acabou pegando no sono. Por volta das três da manhã, despertou suada e ofegante, como se tivesse tido um pesadelo.

— Meu Deus, por que sonhei com ele logo hoje? — Kira sussurrou, envolta em uma confusão de sensações, enquanto as imagens do sonho se misturavam com a realidade.

Nunca antes havia sonhado com Pedro, mas naquela noite, foi como se estivesse de volta ao terraço onde tudo começou. A cena era tão vívida que parecia real, cada detalhe gravado em sua mente com uma precisão perturbadora.

Ela quase podia sentir outra vez o calor de seus lábios roçando seu pescoço, a respiração quente e suave deslizando pela pele, provocando arrepios involuntários. Aquele toque fantasmagórico, ao mesmo tempo familiar e irresistível, reacendeu nela um desejo latente que havia tentado enterrar.

O peso daquela memória a fazia tremer, como se o beijo de Pedro ainda estivesse presente, marcando sua pele e sua alma de uma forma que ela não conseguia esquecer.

Com o coração acelerado, Kira se perguntou por que, após tanto tempo, aquele desejo reprimido agora ressurgia, avassalador e incontrolável, trazendo consigo sentimentos que ela pensou ter superado.

Perdida em seus próprios pensamentos, Kira buscou uma maneira de afastar a confusão que a consumia. Decidiu caminhar pelos corredores elegantes do hotel, lembrando-se da ampla piscina onde costumava nadar para relaxar.

Com um suspiro, puxou a cortina da janela, mas sua intenção foi frustrada ao ver várias pessoas mergulhadas na água, rindo e conversando.

Desistindo da ideia, ela voltou para a cama. Pegou o celular e viu a tela brilhar com diversas mensagens de Marina e Isabela, a inquietação agora trocada por uma leve curiosidade

— Está tudo bem, querida? Você saiu tão apressada que nem tivemos tempo de conversar, nem tomou o café da manhã. Me responda! — escreveu Marina.

Em outra mensagem, Isabela perguntava se ela queria conversar.

Kira hesitou por um momento, mas acabou respondendo a ambas, garantindo a Marina que estava bem e dizendo a Isabela que estava apenas cansada.

Imediatamente, Isabela respondeu: — Querida, você está acordada?

— Estou sim, acordei agora. Tudo bem por aí? — Kira respondeu.

— Sim, estamos bebendo e conversando. Só faltou você aqui, Marina mandou um beijo.

— Mande outro para ela.

— Mas, amiga, o que aconteceu? Você saiu tão apressada que nem tive tempo de te acompanhar. — Isabela questionou, sua voz carregada de preocupação e curiosidade.

Kira não queria que ninguém soubesse daquele pedaço de sua história, um passado que ela acreditava ter enterrado profundamente.

No entanto, sentia como se estivesse sendo puxada de volta, contra sua vontade. Mas a curiosidade, silenciosa e insistente, começou a tomar conta.

— Todos ainda estão aí? — Kira perguntou, sua voz denotando uma hesitação sutil, quase como se já soubesse a resposta.

— Sim, todo mundo... Por que você não volta? Se quiser, mando alguém te buscar. Eu já estou quase bêbada! — Isabela riu, o som de sua risada ecoando leve pelo telefone. — E, ah, você me deve uma! Nem te apresentei meu noivo, e o amigo dele, bem... você já conheceu. Mas aquele estraga-prazer provavelmente já foi embora — completou, brincando, referindo-se a Pedro, que odiava eventos familiares e só tinha comparecido porque foi forçado.

Kira sentiu um frio intenso na barriga. O alívio de pensar que ele poderia já ter ido embora era rapidamente ofuscado por uma inquietante vontade de passar mais tempo ao lado dele.

Esses sentimentos conflitantes a consumiam, e ela se jogou de costas na cama, que respondeu com um leve salto, enquanto tentava processar o turbilhão de emoções.

— Então... ele já foi embora? — perguntou Kira, sem se dar conta do quanto sua pergunta parecia carregada de ansiedade.

— Quem? O Pedro? — Isabela respondeu com um tom levemente irônico, claramente se divertindo com a situação.

— Não, espera! — Kira tentou disfarçar ao perceber a gafe.

— Hummm... — Isabela sorriu do outro lado da linha, aproveitando a deixa. — Se você não quer saber, então eu não vou contar. Talvez ele tenha ido... ou talvez não.

— Mulher, eu perguntei por educação! — Kira rebateu, tentando soar indiferente, mas a leve acidez na voz a traiu, provocando uma gargalhada em Isabela.

— Ah, claro, "por educação"! — Isabela riu ainda mais.

— Quem diria que você se interessaria logo por ele. Mas me fala, amiga, você realmente quer saber se ele foi embora ou está torcendo para ele ainda estar por aqui?

Kira hesitou, mordendo o lábio, lutando contra o que realmente queria dizer. Ela sabia que não deveria se importar, mas a curiosidade a corroía por dentro.

— Eu? Claro que não! Só perguntei por cuiriosidade, isso é tudo. — tentou soar convincente, mas a leve trepidação em sua voz a denunciava.

— Sei... — Isabela respondeu, com um tom de voz malicioso. — Mas eu vi a maneira como ele te olhou. E não vou mentir, achei que você tinha ficado um pouco... abalada.

— Abalada? Por causa do Pedro? — Kira revirou os olhos, tentando afastar a ideia. — Nem o conhece isabela, nem tive tempo de agradece-lo pela noite passada

— Aham, sei... Tanto que você perguntou sobre ele, não é? — Isabela riu de novo. — Mas, amiga, sem brincadeira. Ele tem suas qualidade? Não dá para negar, o homem é um charme.

Kira respirou fundo, sentindo o coração acelerar só de lembrar do breve reencontro.

— Não faz diferença pra mim. Eu mal o conheci... — tentou finalizar, mas a própria fala parecia se desfazer no ar.

— Se você diz! — Isabela respondeu, com uma risadinha. — Bom, só pra te avisar... ele não foi embora ainda. Eu o vi conversando com algumas la na piscina, antes de vir pra cozinha.

Kira sentiu um misto de surpresa e um arrepio percorrer-lhe o corpo.

— Ah, então ele est... — começou Kira, mas parou antes de concluir a frase, tentando disfarçar o súbito interesse.

— Está, sim! Quer dar uma passada aqui e descobrir por si mesma? — provocou Isabela.

Kira ficou em silêncio por um segundo, processando o que sentia. Estava mesmo disposta a reencontrá-lo? Ela não sabia ao certo, mas uma pequena parte de si, a parte que ela tentava suprimir, desejava isso mais do que admitia.

— Eu... acho que vou ficar por aqui. Não é nada, de verdade. — Kira respondeu, tentando soar convincente, mas a hesitação em sua voz era clara.

— Certo, querida. Não vou te forçar. Mas, olha, se mudar de ideia, você sabe onde me encontrar. E quem sabe, né? O destino pode estar conspirando a favor... — Isabela disse, com um tom brincalhão, antes de encerrar com um riso.

— Tá bom, maluca. Aproveita, mas não faça nada que eu não faria! — disse Kira, sorrindo enquanto desligava, mas sentindo-se mais confusa do que nunca.

O nome de Pedro ecoava em sua mente, e ela sabia que, por mais que tentasse evitar, algo dentro dela ainda não havia terminado.

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