Sob a luz da lua

Pedro estava sentado no canto do quarto, isolado do burburinho abafado que subia da festa. Ele nunca fora fã das pequenas cidades do interior, e Veneza, apesar de encantadora, só o deixava mais inquieto.

Diana havia insistido com aquela voz doce e cheia de animação para que ele comparecesse ao evento, alegando ser algo relacionado à família de amigos em comum. Mesmo com todas as desculpas que inventara, Pedro não teve como escapar.

— Você vai adorar, Pedro! Não é grande coisa, só uma reuniãozinha no interior, vai ser divertido. O Bruno também vai. — A voz de Diana ainda ecoava em sua cabeça.

Mas Pedro sabia que aquilo não era para ele. Pequenas cidades o deixavam desconfortável, como se estivesse sempre fora de lugar. Preferia o anonimato caótico das grandes metrópoles.

Assim que chegaram à festa, Pedro sumiu sem que ninguém percebesse. Subiu para o andar de cima, refugiando-se em um quarto onde o barulho da festa era apenas um murmúrio abafado. Fechou a porta como se quisesse deixar o mundo do lado de fora.

Momentos depois, Bruno entrou sorrindo com seu jeito casual e despreocupado.

— Sabia que te encontraria aqui, sempre fugindo de tudo! — disse Bruno, rindo.

Pedro suspirou, olhando para a janela, as luzes suaves da festa se misturando ao brilho da lua.

— Você sabe como é. Essas coisas não são pra mim.

— Pedro respondeu, sua voz carregando o cansaço de alguém que sempre evita as situações sociais.

Bruno riu novamente, encostando-se à janela ao lado dele.

— Você nunca curte essas festas, né? Pelo menos podia fingir que está se divertindo por cinco minutos. Diana vai te matar se souber que fugiu de novo.

Pedro deu um meio sorriso, mas logo voltou a olhar pela janela.

— Eu sei... Mas prefiro a paz daqui de cima. — respondeu, enquanto observava o jardim lá fora.

Bruno deu um tapinha leve nas costas de Pedro, como quem aceita a teimosia do amigo.

— Um dia, você vai entender que não pode fugir de tudo. Só tenta não ficar tão rabugento o tempo todo, beleza? — brincou, antes de sair do quarto.

Pedro observou o amigo sair e voltou sua atenção para a janela. A brisa noturna carregava consigo o som distante da festa, enquanto a lua banhava o jardim em uma luz suave. Então, ele a viu.

Lá embaixo, sob as luzes amareladas das lanternas, uma mulher estava sozinha, sua figura destacando-se contra o cenário ao seu redor.

Seu cabelo escuro caía sobre os ombros com uma leveza que parecia desafiar o vento. Cada movimento seu parecia desenhado, e seu sorriso, cada vez que algo a divertia na festa, fazia com que Pedro também sorrisse, de forma involuntária.

Ele a observava intensamente. O modo como ela mexia no cabelo, a maneira delicada como seus lábios se curvavam, tudo nela era envolvente. Sem perceber, Pedro estava fascinado por ela. Uma sensação que ele raramente experimentava.

— Quem é você? — sussurrou, sentindo o mistério da noite aumentar sua curiosidade.

A mulher, aos poucos, parecia render-se ao cansaço, e Pedro viu quando, com um suspiro suave, ela adormeceu na cadeira. A visão de sua figura adormecida, tão tranquila sob as luzes das lanternas, mexeu com ele de uma forma que não conseguia explicar.

Ele se levantou, movido por um impulso inesperado. Desceu as escadas rapidamente, o coração acelerado pela proximidade inexplicável que sentia em relação àquela mulher desconhecida.

Quando chegou ao jardim, aproximou-se com cautela, admirando a beleza serena de seu rosto sob a luz suave da lua.

O vento brincava com algumas mechas de cabelo que haviam escapado, e Pedro, quase sem pensar, tirou seu paletó e o colocou sobre os ombros dela.

— Você parece tão vulnerável... — sussurrou, como se confessasse algo que nem ele entendia.

Quando estava prestes a se afastar, ouviu passos atrás de si.

— Pedro? — A voz suave de Isabela o tirou de seu devaneio. Ela e Bruno vinham em sua direção, Isabela com um sorriso travesso nos lábios. — O que você está fazendo? — perguntou, com os olhos brilhando de diversão.

— Ela estava com frio... — Pedro respondeu, um pouco envergonhado. — Não queria que ela ficasse assim.

Isabela se aproximou, observando a cena com ternura. Inclinou-se e deu um beijo suave na testa da mulher adormecida.

— Que cavalheiro! Mas, Pedro, você não acha que seria melhor levá-la para dentro? — sugeriu Isabela com um sorriso.

Pedro hesitou, mas sabia que ela estava certa.

— Eu a levo. — disse, sua voz mais baixa, quase como se a proximidade o afetasse de alguma forma.

Bruno, sempre pronto para uma provocação, deu uma piscada.

— Parece que você encontrou algo interessante aqui, hein, Pedro? — riu, recebendo um olhar de pura irritação de Pedro.

Ignorando os comentários, Pedro a levantou com cuidado. O toque suave do corpo dela contra o dele o fez sentir um calor inesperado.

Conforme a carregava para dentro da casa, ele sentia cada batida do seu próprio coração acelerando, como se estivesse conectando-se a ela de forma inexplicável.

Isabela guiou Pedro até o quarto enquanto ele a deitava com cuidado, ajeitando o paletó sobre seus ombros e observando seu rosto em repouso.

— Você vai ficar bem... — murmurou, como uma promessa silenciosa.

Ele se sentou ao lado dela, observando-a com um misto de curiosidade e cuidado. Algo naquela mulher o intrigava profundamente. Seus gestos foram lentos e delicados, como se temesse que qualquer movimento brusco a despertasse.

O tempo passou, e Pedro ficou ali, ao lado dela, monitorando sua respiração e ajeitando o cobertor para que ela ficasse aquecida.

Ele mal notou o passar dos minutos, tão absorto estava em seus pensamentos sobre ela. Cada detalhe em Kira o fascinava, desde a forma como seus cílios descansavam sobre suas bochechas até a maneira tranquila com que seu peito subia e descia.

De repente, ele ouviu a porta ranger levemente. Marina entrou, seguida por Isabela e Bruno.

— Ela está bem? — perguntou Marina, agora mais calma, mas ainda com um olhar preocupado.

Pedro se levantou e olhou para Marina, balançando a cabeça positivamente.

— Sim, acho que foi só um cansaço. Ela deve descansar um pouco mais — respondeu ele, dando um último olhar para Kira.

— Obrigada por cuidar dela, Pedro — disse Marina com um sorriso gentil, enquanto Isabela e Bruno observavam a cena em silêncio.

Pedro apenas assentiu, mas, enquanto saía do quarto, sentia que aquela mulher não sairia de sua mente tão cedo.

Momentos mais tarde pedro estava sentado em um canto isolado da biblioteca, o local perfeito para fugir de todos. O ambiente era silencioso, e o cheiro de livros antigos o acalmava.

Ele gostava de estar ali, mergulhado nas páginas de um romance clássico que encontrara em uma das estantes.

O livro o distraía, mas seus pensamentos logo se voltaram para a mulher que ele havia visto no jardim horas atrás. A imagem dela, adormecida sob a luz suave das lanternas, não saía de sua mente.

Foi então que ele ouviu passos suaves entrando na biblioteca. Sem se mover, ele observou discretamente e viu Kira. Seu coração disparou no peito, batendo mais rápido do que ele gostaria de admitir.

Ela caminhava entre as estantes, folheando os livros com uma expressão de curiosidade genuína. A cada página virada, o brilho de seus olhos aumentava, e Pedro ficou fascinado, observando-a em silêncio.

Ele sentiu uma vontade crescente de se aproximar, de falar com ela, de se apresentar. Suas mãos estavam trêmulas ao segurar o livro, e ele quase se levantou de onde estava escondido.

Mas, ao mesmo tempo, algo o mantinha ali, preso na beleza do momento, enquanto ela explorava os livros, alheia à sua presença.

Quando Kira se aproximou de uma estante perto dele, seus olhares finalmente se cruzaram. Pedro sentiu um choque percorrer seu corpo. Foi um breve instante, mas o suficiente para que ele soubesse que precisava fazer algo. Ele abriu a boca, ensaiando uma apresentação nervosa.

— Olá, eu sou Pe... — começou ele, a voz baixa, ainda meio hesitante.

— Olá — disse ele, com um sorriso curioso. — Eu não esperava encontrar ninguém aqui, muito menos você.

Kira, um pouco envergonhada, tentou se recompor. — Desculpe, eu estava explorando. Não sabia que havia alguém aqui.

— Não se preocupe. E você deve ser a Kira, certo? — Disse o homem, levantando-se com um olhar acolhedor.

— Sim, sou eu — confirmou Kira, estendendo a mão para um cumprimento. — Prazer em conhecê-la.

Antes que pudessem se cumprimentar formalmente, foram interrompidos por Isabela, que chegou animada e abraçou Kira, puxando-a para a cozinha.

— Kira, você está por aqui! Vamos, todos estão esperando por você — disse Isabela, com um sorriso radiante.

Kira lançou um último olhar para Pedro, antes de ser puxada por Isabela, desaparecendo pela porta da biblioteca. Pedro ficou ali, sozinho, com o coração batendo forte no peito.

O ar parecia mais pesado agora, como se ele tivesse perdido a chance de conhecê-la verdadeiramente. Mas aquela breve troca de olhares foi o suficiente para deixá-lo ansioso, ansioso por uma nova oportunidade de encontrá-la.

Pedro voltou a se sentar, mas agora o livro em suas mãos era apenas um objeto esquecido. Seus olhos vagavam pelas páginas sem realmente enxergar as palavras. Tudo o que ocupava sua mente era Kira.

Ele observava de longe como ela manuseava os livros com uma delicadeza quase hipnotizante, e um desejo crescente de conhecê-la mais profundamente tomou conta dele.

Um turbilhão de emoções o invadia: nervosismo, curiosidade e uma atração inexplicável que parecia tomar conta de seu corpo. Como era possível que Kira, em tão pouco tempo, o deixasse assim, completamente envolvido?

Um frio intenso percorreu sua barriga, uma sensação há muito esquecida. Pedro estava parado atrás da porta, seu coração acelerado e a respiração curta, tentando reunir coragem para entrar naquela sala cheia de vozes animadas.

— O que está acontecendo comigo? — ele sussurrou para si mesmo, dando leves tapas no rosto, como se quisesse despertar de um sonho. — Estou agindo como um adolescente.

Com um último suspiro profundo, ele entrou. Kira estava de costas, e uma pontada de decepção o atingiu. Ele queria que ela o visse imediatamente, que seus olhares se cruzassem e algo intenso acontecesse naquele instante.

Mas, ao dar seu cumprimento, seu olhar se fixou no reflexo dela em um quadro. Havia uma frieza no olhar de Kira, como se sua presença não tivesse impacto algum. Uma sensação de vazio o percorreu.

Então, ela se virou. E tudo mudou.

A expressão de Kira se transformou em pânico, seu rosto empalidecendo como se tivesse visto algo que a aterrorizava.

Pedro mal teve tempo de reagir antes que ela desabasse. Seu instinto protetor assumiu o controle, e, num movimento ágil, ele a pegou em seus braços, segurando-a com uma suavidade que não sabia possuir. Seus corpos se tocaram por um momento breve, mas a intensidade do gesto reverberou dentro dele como uma faísca.

Ele a levou para o sofá com um cuidado quase possessivo, ignorando os olhares assustados ao redor. Pedro, que sempre fora contido e racional, agora sentia um instinto feroz de protegê-la, como se a segurança dela fosse sua única responsabilidade.

Quando Kira abriu os olhos e tentou se levantar, Pedro, com um tom de voz firme e decidido, impediu-a.

— Não, você não vai a lugar nenhum — sua voz era baixa, mas carregada de uma autoridade que surpreendeu a todos, inclusive a si mesmo. — Se você tentar, vou amarrá-la aqui.

O silêncio tomou conta da sala. Todos o encaravam, atônitos, inclusive Bruno, seu melhor amigo, que nunca o vira se comportar assim com uma mulher.

Ele, sempre tão controlado, agora parecia dominado por um impulso de proteção e desejo ao mesmo tempo. Pedro sentiu o sangue subir para o rosto, a cor envergonhando-o, mas ele não conseguia desviar o olhar de Kira.

— O que essa mulher está fazendo comigo? — pensou, ainda segurando a mão dela, quase que de forma inconsciente.

Consciente de que havia passado dos limites, Pedro pigarreou e, com uma voz hesitante, tentou sair da situação.

— Desculpem... — ele murmurou, soltando a mão de Kira devagar. — Já que está em boas mãos agora, acho melhor eu me retirar. Se precisarem de algo, é só me chamar.

Antes de sair, deu uma última olhada para Kira. Ela ainda era um enigma, mas agora, mais do que nunca, Pedro sentia uma necessidade quase obsessiva de desvendá-la.

O desejo de conhecê-la mais a fundo, de descobrir cada detalhe escondido por trás de seus olhos, era mais forte do que qualquer sentimento que já havia experimentado. Ela o havia conquistado, e ele sabia que não conseguiria parar até entendê-la por completo.

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