A última semana de aula se passou, Aiko não havia lhe atormentado mais nesses últimos dias, mas seus olhares haviam ficado mais intensos e cheios de raiva, o que vinha assustando Jess. O que não mudou foi sua relação com Rainbow, que ela acreditava que seria um pouco melhor após o evento da enfermaria, mas a amizade das duas continuou restrita a alguns cumprimentos rápidos, quebrando suas expectativas.
O último dia de aula então chegou, a maioria dos alunos sequer estava indo mais para escola, inclusive Manu. O motivo de Jéssica continuar indo todos os dias era o medo de manchar seu currículo, minimamente que fosse, com faltas desnecessárias, sua prioridade era encontrar uma academia que a aceitasse, sua insegurança a fez enviar cartas para metade das academias do país, nutrindo o medo de que não fosse aceita em nenhuma devido a sua condição de "estragada".
Quando o sinal tocou pela última vez, dando a liberdade que todos aqueles alunos queriam, cores cinzas e um gosto amargo de madeira foi o que ela sentiu, diferente do habitual, em momentos de grande importância, era comum a ela as sensações se alterarem, as vezes ao ponto até de a confundir e lhe deixar desorientada e foi o que aconteceu, junto do sinal, ela deu um pulo de sua cadeira, ficando em pé, assustada com a explosão de cores diferentes das que estava esperando, todos na sala ficaram a olhando por alguns segundos, muitos deles agradecidos por não terem que lhe dar mais com Jess, até mesmo o professor que estava na sala de aula revirou os olhos e deu um suspiro.
- Ainda bem que é a última esquisitice que tenho de aguentar.
Os alunos caíram na gargalhada e foram deixando a sala dando sutis comentários ofensivos a ela, que se sentou e permaneceu ali calada até todos saírem. Quando estava finalmente sozinha, guardou seu material e levantou, colocando o capuz na cabeça, se redendo a humilhação.
Ao menos ela era o fim de um ciclo tortuoso de sua vida, não seria mais julgada por ser uma estragada, mas sim por seu caráter e esforço e era nisso que sua mente se apoiava para seguir em frente.
Finalmente ela deixou aquele local de humilhação e sofrimento para trás, a última página daquele livro foi virada e a nova já estava sendo escrita, Jess não pretendia ir direto para casa, ia passar num ferro velho que era seu local de treino, para poder começar sua intensa rotina.
Estava animada e ansiosa, caminhava rápido em direção ao ferro velho e foi quando sentiu um empurrão forte pelas costas que a fez cair de quatro no chão. O susto a fez encher sua mão com uma força luminosa, acreditando que seria assaltada, mas ao virar a cabeça, viu que se tratava de Aiko, desfazendo a energia de seu pulso.
- Finalmente vai parar de agir como uma ratinha e me enfrentar? - Perguntou a garota, com seus olhos ficando escarlate e seus caninos aumentando de tamanho, sua vontade de finalmente dar uma lição naquela garota aconteceria, mostraria para ela a diferença entre alguém que realmente merecia se tornar uma heroína e ela, que era fraca, não só de corpo mas como de espírito, mas ao ver que ela dissipou a energia de sua mão, a raiva tomou conta dela, puxando Jess pelo cabelo, a colocando em pé a sua frente.
- Para! - Gritou a menina, mas de nada adiantou, Aiko a bateu contra a parede com força, usando seu braço para a manter prensada, ela tentava a empurrar para longe, para se desvincilhar do aperto que a machucava mas a força que ela tinha era desproporcional, era muito mais forte que Jéssica e facilmente a mantinha ali.
Seus olhos escarlates deram um lampejo, a mente de Jess começou a girar, escutava ao fundo uma risada macabra que parecia a de Aiko, mas estava carregada com um tom de maldade que ela jamais havia ouvido. A palavra "ratinha" e "estragada" começaram a surgir em sua cabeça, com explosões de cores e sabores que deixavam mais desorientada, era quase como um ataque epilético. Até o momento, nenhuma das duas sabia mas a peculiaridade de Aiko era mais forte em Jess, devido sua condição sinestésica, a confusão mental era triplicada, tornando sua habilidade invencível contra ela.
O embate mental que ali ocorreu, pareceu que hora haviam se passado naquela intensa agonia, quando na verdade poucos minutos se passaram, a menina dos cabelos negros lhe soltou, sem força alguma, Jess caiu de joelhos ao chão, com os olhos vidrados, naquele momento sua mente estava a um passo de entrar em colapso, mesmo a própria Aiko não tinha noção da proporção que sua "lição" poderia ter tomado caso sua peculiaridade fosse levemente mais desenvolvimenta ou se Jéssica fosse mentalmente mais fraca.
Mas sem saber do risco irresponsável que havia acabado de ocorrer, ela se afastou se sentindo triunfante, uma verdadeira vitória sobre aquela garota fracassada, uma vitória para si mesmo, finalmente havia mostrado a ela a diferença entre alguém que realmente se tornaria uma heroína, para uma estragada que não tinha noção de suas limitações.
Sem se importar com o verdadeiro estado de Jess, ela deu as costas e saiu caminhando, deixando a garota que não esboçava reação alguma caída de joelhos. O tempo foi se passando e ela permaneceu ali, sem se mexer, o que começou a atrair os curiosos que passavam por ali, alguns tentavam falar com ela, até a sacudiam para ver se conseguiam obter algum tipo de reação mas era tudo sem sucesso, a essa altura já haviam ligado para uma ambulância, pois acreditavam que era obra de algum super vilão.
Um homem começou a abrir a multidão para se aproximar da garota, levava uma garrafa de whisky em sua mão, usava chinelos amarelos e uma bermuda florida, com uma camisa de gola alta. Seus cabelos vermelhos eram um pouco mais curto que os de Jess, ele se abaixou a frente da garota e observou seus olhos vidrados no nada, um dos rapazes que estava na multidão achou a atitude daquele homem estranha. Colocou a mão em seu ombro e falou num tom grave a ele;
- Não toque nela seu bêbado, o estado dela pode ser crítico.
- Para de ser bocó, ela está apenas em estado de choque.
Ele tocou com seu dedo indicador na testa dela, todos olharam apreensivos a garota, poucos segundos após ele a tocar, ela começou a piscar, balançou a cabeça e olhou para os lados assustada e confusa, sem entender por que tinha uma multidão em sua volta, as pessoas começaram a bater palma para o homem e lhe dar diversos elogios, ele tomou um gole da garrafa de whisky e se levantou. Ele estendeu sua mão para ela e lhe ajudou a se levantar também, a menina estava desnorteada e suas pernas bambas, além de não estar entendendo nada do que estava acontecendo, se lembrava apenas de Aiko ter usado sua peculiaridade contra ela e agora estava ali, não sabia sequer quanto tempo havia se passado.
- Vamos lá garota, onde tu mora?
- Eu? - Perguntou ela levando a mão a cabeça, forçando seu cérebro a funcionar.
- Sim, eu vou lhe levar pra casa - Ele passou o braço em volta de seu pescoço e começou a caminhar a guiando. - O show acabou para vocês. - Disse ele para as pessoas em volta, que agora começavam a deixar o local. Jess ficou incomodada com ele, não tinha ideia de quem ele era e estava pondo o braço em volta de si, o cheiro de álcool era como se estivesse esfregando o corpo numa parede de cimento, ela então tirou seu braço e se afastou, dando alguns passos para o lado.
- Quem é você?
- Eu sou Klaus e você, quem é? - Ela ficou o encarando por um tempo e não o respondeu, estava incomodada e ele não parecia ser alguém que se podia confiar. - Não precisa me dizer seu nome, mas o que aconteceu pra você ficar daquele jeito, meninha?
- Foi uma colega de escola, ela usou sua peculiaridade em mim, não acho que ela sabia que eu ficaria nesse estado.
- Vamos levar a polícia até essa guria.
- Não! - Falou Jess num tom mais alto, o que chamou atenção dele, Klaus tomou outro gole de seu whisky e limpou a boca com a mão.
- E por que não?
- Não quero dar problemas para ela. Nunca mais vamos nos ver, as aulas acabaram, não precisa disso.
- Ela te sentou o sarrafo, te deixou largada em choque no meio da rua e tu num quer fazer nada, é?
- Como disse, não há necessidade.
- Se tu acha melhor assim, então tá. Por que não revidou e quebrou a fuça dela?
- Eu jamais usaria mimja peculiaridade por uma bobagem dessa, não é assim que heróis agem.
- E como que heróis agem?
- Se nós usarmos nossas peculiaridades contra qualquer um é como iniciar um ciclo onde a lei do mais forte prevalece, aqueles que forem mais fortes poderiam simplesmente fazer o que quisessem e ninguém poderia se opor a eles, temos se ter responsabilidades com o uso de nossos dons e usá-los apenas quando for para proteger vidas inocentes ou por um bem maior, não numa simples briga de escola.
O homem começou a dar risada, Jess não havia ido com a cara dele, o tinha achado estranho e fedido, mas sua risada era singela e amistosa, era genuíno e simples, não parecia ser alguém de má índole.
- Meninha você tem muito que aprender sobre ser um super herói, mas está no caminho certo.
Com mais um gole em sua bebida, ele saiu caminhando, havia sido uma experiência um tanto estranha para ela.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Lágrimas
Mana não existe pessoas "estragadas' tira essa coisa da tua cabeça que vc é sim muito boa. Esse pessoal aí fala isso pq são um bando de sem noção
2023-05-15
0
Pai do Goku
Olha isso mn, era so a Jess bater nela mds
2022-07-27
2
Rafa
vamo autora, tem que ter um cap só dá Aikinho
2022-07-22
5