O pior diretor do mundo

A enfermeira encostou a porta atrás de si, que era a porta do quarto em que Jess estava, a mulher ajeitou os óculos e olhou para Rainbow que estava sentada ali a espera de notícias sobre sua companheira, ela deu então uma risada curta, surpresa com toda a preocupação com a garota estava demonstrando em seu olhar.

- Não se preocupe Emanuelle, foi apenas um corte em sua sombrancelha, nada grave e nem que vá precisar de um ponto. Ela já veio para cá com ferimentos muito piores, esse corte não é nada.

A garota fez várias perguntas, não estava convencida de que Jess estava realmente bem, a escola sempre encobria estes tipos de 'incidente' para não sujar sua reputação, ainda mais se tratando de uma aluna estragada, tantas eram as perguntas que a enfermeira começou a ficar desconfortável até que no fundo do corredor o diretor surgiu, a deixando aliviada. Ele diretor chegou para intervir na situação, pois sabia do gênio forte que Manu possuía, ele era um homem corpulento, que sempre vestia um terno surrado e velho, de cor marrom e tinha os poucos cabelos que lhe restavam lambidos para o lado, um homem "comum", sem qualquer habilidade notável e que sentia no fundo de seu ser, muita inveja de Jess por ter uma peculiaridade fantastica.

Ele colocou sua mão pesada no ombro de Emanuelle, que recuou ao seu toque, pois o modo como fazia e se projetava tinha a intenção de intimidar seus jovens alunos, passando a ilusão de controle e força, mas com ela essa tática não era efetiva, pois poucas coisas eram capazes de lhe intimidar.

- Está tudo bem, Emanuelle. Você fez bem em trazer a senhorita Jéssica direto para a enfermeira, agindo de forma controlada durante um incidente, irei mencionar em seu currículo, claro, se confirmar a versão de que a senhorita Jéssica passou mal e caiu, assim cortando de forma acidental sua sombrancelha. - Ele contava essa mentira como se fosse algo casual e trivial, tinha quase um sorriso se formando no canto de seu rosto enquanto falava isso.

A vontade que a sentia agora era de partir para cima daquele homem, pegar seu colarinho e perguntar se ele havia enlouquecido! Aquilo era um comportamento inaceitável, era um absurdo que os culpados não recebessem uma devida punição, uma garota de ideais fortes não conseguia simplesmente engolir uma atitude dessas, principalmente partindo de alguém que estava em posição de autoridade, mas a compaixão que ela sentia por Jess a impediu de retrucar, já que ela era o elo mais fraco de toda essa corrente e com toda certeza acabaria sobrando para ela, mas ela não queria deixar barato.

- E quanto a quem fez isso? Como fica Aiko e Marie?! Elas não podem simplesmente saírem impunes após fazerem isso.

- São as últimas semanas de aula, Emanuelle, e apesar de não ser uma aluna tão exemplar quanto você, Aiko tem um grande futuro pela frente no ramo heróico. Não iremos manchar seu currículo com uma bobeira como está, ainda mais quando se trata de uma estragada. - Suas últimas palavras saíram como se uma cobra estivesse sibilando, de forma provocativa para ela se lembrar que quem mandava era ele, pois mesmo sendo prodígio ela ainda era apenas uma aluna e ele o diretor que poderia fazer tudo que desejasse em seu currículo.

Ela teve que controlar cada força de seu ser para não energizar suas mãos e acertar aquele homem com tudo que tinha, de todas as coisas terríveis que o mundo tem, nada a deixava mais furiosa que uma injustiça, e esse senso de justiça somada a sua notória peculiaridade, elucida um brilhante futuro a sua frente.

- Eu não vou me calar. Isso é uma conduta anti heróica, permitir que alguém como ela seja uma super heroína é cuspir em todo ideal de justiça que temos e pregamos!

Seu modo afrontoso visava buscar a justiça mas ameaças feitas a um homem como este, apenas o deixavam mais certo do que fazer e mesmo que a fibra do diretor não fosse tão resoluta quanto a de Manu, ele tinha o poder em suas mãos de acabar com o futuro delas com apenas uma carta. Ele não era apenas um diretor de um colégio primário mas também líder do Conselho de Diretores, organização que ditava os padrões escolares por todo o país e que vivia hoje uma grande polêmica com as denúncias de corrupção e o corte de vínculos com Ruffus, diretor da famosa Academia Coração Valente, a mais prestigiada academia de formação de heróis do mundo.

- Você sabe que o mundo hoje vive uma Crise de Valores, esses ideia antigos de super heróis estão ultrapassados, ninguém prega eles de verdade quando a coisa fica preta, então cresça, garota e também não se esquece que eu posso manchar seu currículo afirmado que você possui instabilidade emocional exacerbada frente a situações de grande estresse e, claro, por uso indevido de sua peculiaridade contra outra estudante, Aiko. Além de tirar suas chances de ser uma super heroína no futuro, ainda poderia expulsar aquela estragada pois fomos a única escola primária que cedeu espaço para uma defeituosa sem talentos, claro que apenas fizemos isso para receber o aumento nas verbas para "obras de inclusão".

Ela notou o quão sujo ele poderia ser, contrariada, ela deu as costas a ele e saiu caminhando pelo corredor, com passadas fortes, após se afastar um pouco, ela não se conteve mais e então se virou, apontando o dedo e lhe dando um aviso:

- Quando eu for a Embaixadora da Justiça, as coisas serão diferentes, não deixarei homens como você manipularem a justiça, isso é uma promessa. - Era uma tolice da juventude dizer uma coisa dessas, o Embaixador da Justiça é o único super herói reconhecido por todos Estados soberanos do mundo, tendo respaldo para agir em qualquer território do mundo e esse posto foi criado para apenas um homem, Justice, o maior herói que a humanidade já viu.

Ele apenas deu uma grotesca risada pois ver uma aluna que ele considerava insignificante fazer tais ameaças a alguém poderoso como ele era uma verdadeira piada.

Sem ligar muito para suas palavras, ele entrou no leito da enfermaria, onde Jess estava sentada sobre uma das macas, balançando os pés enquanto olhava pela janela, com sua mente muito distante dali, o curativo em sua testa era a única marca que a violência de pouco tempo havia deixado naquela gentil e calorosa alma. O diretor sentia um pouco de nojo da simplicidade e calmaria daquela garota, pois em sua visão, demonstravam fraqueza, se ela queria ser uma super heroína, como sempre falava, teria de ser dura e se impor, assim como Aiko ou Manu, muito diferente de como ela se portava.

- Está melhor? - Perguntou ele sem ter preocupação alguma com ela, apenas por mera formalidade e ela apesar de inocente, sabia disso e então respondeu com um resmungo e um sorriso, como se não fosse nada demais. - Então não vejo motivo para criar causo por isso. Vamos dizer que você tropeçou e caiu, assim ninguém sai prejudicado nessa situação.

Ela concordou com outro sorriso, pois partilhava da mesma opinião, não havia motivos para criar causo por algo tão bobo, via as atitudes de Aiko e das outras meninas como apenas bobeiras de adolescentes e não seria justo acabar com toda a vida delas por algo tão leviano. Após concordar, ela foi dispensada da enfermaria para ir para casa.

Ela colocou a mochila em suas costas e o capuz sobre a cabeça e então saiu pelos corredores até o pátio, onde encontrou Rainbow encostada numa parede roendo as unhas, a garota ao lhe ver, caminhou em sua direção.

- Você está bem? - Perguntou ela, seu tom de voz e suas expressões foram totalmente diferentes das que o diretor havia feito quando fez a mesma pergunta, pois ela tinha uma preocupação genuína e isso era fácil de se notar. A voz dela para Jess quase a deixava desnorteada, era uma explosão de rosa e vermelho, uma textura aveludada que a deixava boba, poderia facilmente gravar a voz dela e ficar escutando pelo resto do dia. Esse tipo de pensamento a fazia sentir vergonha, suas bochechas ficaram ruborizadas e começava a mexer as mãos dentro do bolso de forma compulsiva, Manu a observava sem entender o motivo dela ficar estranha do nada.

- Estou, obrigada, não foi nada demais.

- Claro que foi! Aquele diretor é um idiota, sempre passa a mão na cabeça daquelas vadi. Por que você não tira essa touca? Está muito calor.

- Eu tenho vergonha do meu cabelo. - Meses atrás, ela tinha o maior orgulho de seu cabelo, eram grandes e macios, iam até o fim de suas costas, num tom de castanho claro, liso com algumas ondulações, motivo dos únicos elogios que ela já havia recebido em sua vida. Quando Aiko soube o valor que ela dava para seus cabelos, num ato de maldade, colou um chiclete no meio dele, por isso ela teve de cortar seus amados cabelos. Isso a destruiu por dentro, chorou por dias seguidos, não entendia o motivo dela ter feito aquilo, ela jamais havia feito qualquer coisa para sofrer desse jeito, o mundo destava sendo injusto com ela.

O pior viria nos dias seguintes, seus cabelos agora curtos até o ombro, eram motivo de piada por todas as garotas, diziam que agora sim era o cabelo que uma estragada merecia.

Falavam que ela parecia um menino, a impediam de usar o banheiro das garotas com gargalhadas, dizendo que agora ela devia usar o masculino, mas a situação não durou mais do que dois dias, pois Rainbow, a garota mais popular do colégio, apareceu com um corte chanel, indo pouco além dos ombros, seus cabelos curtos e rosas viraram a tendência do colégio, a maioria das meninas no mês seguinte fizeram o mesmo corte e as brincadeiras com os cabelos de Jess pararam.

Apesar das outras terem continuado, as que envolviam seu motivo de orgulho a machucavam mais, por isso um alívio e uma gratidão tão grande a encheram quando aquilo aconteceu, as vezes se perguntava se ela havia cortado de propósito, mas era fantasioso demais pensar que alguém faria isso por ela.

- Seu cabelo é lindo, vamos, tira isso! - Ela própria tirou a toca de Jéssica, que ficou sem jeito, era estranho para ela agir assim, era um tipo de intimidade que ela não tinha com ninguém. - Muito melhor agora! Vou indo nessa, a gente se vê por aí. - Rainbow piscou para ela e fez seu sinal com as mãos, um "tchau" abafado deixou sua boca enquanto ela se afastava, Jess queria continuar conversando com ela, queria mais sua companhia mas não soube como dizer e nem como a fazer ficar mais, a menina mais popular do colégio tinha coisas melhores para fazer do que conversar com ela, isso era óbvio. Com esforço, ela foi caminhando para casa sem colocar o capuz novamente, em sua cabeça, por mais que sentisse vontade de o colocar novamente e sair caminhando de cabeça baixo, isso seria como desrespeitar Manu.

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Comments

Pai do Goku

Pai do Goku

Pq ela n revida e bate nessa menina

2022-07-27

1

Dinah

Dinah

fiquei decepcionada autora

2022-07-26

5

Dinah

Dinah

n msm se sair vou fica bem decepcionada

2022-07-26

6

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