O funeral

O caso do garoto assassinado estava repercutindo pelo mundo todo, um aluno a Coração Valente morto brutalmente chamava toda atenção da mídia que redigia duras críticas ao que eles chamavam de "última resistência do sistema arcaico de super heróis".

O velório teve de ser feito com o caixão fechado devido o estado em que o corpo estava, era um dia de céu cinzento que combinava com os sentimentos de todos ali, inclusive os de Jess, que segurava uma pequena flor amarela na mão, longe do circulo principal de parentes que havia se formado em volta do caixão. Ela estava com vergonha de se aproximar mais e prestar seus pêsames ao falecido amigo, acreditando que a família poderia interpreta aquilo como uma ofensa, pois era de conhecimento público que eles estavam processando a academia, tamanho era o conflito entre a família e a Coração Valente que a única que fora autorizada a participar do funeral havia sido ela.

Novamente ela se encontrava ali, lamentando a perda de alguém, se perguntava quando isso iria acabar, quando ela finalmente seria capaz de fazer algo para proteger as pessoas, uma sensação ruim agoniava seu peito e o pior era que ela sabia que essa era uma das únicas sensações reais que ela conseguia sentir, sem seu cérebro se confundir. 

Muita gente chorava, não era um clima de perda e despedida, mas sim de revolta e inconformação, pois era um garoto muito jovem que havia sido levado violentamente, mas aos poucos, conforme as horas se passavam, as pessoas iam deixando o cemitério. Todas passavam por ela sem sequer a olhar, pois ninguém a conhecia. A última pessoa a ficar além dela era uma mulher loira e alta, que havia chorado o dia todo e agarrado ao caixão diversas vezes, não restando dúvidas de que se tratava da mãe de James. Ela notou aquela garotinha pequena, que carregava sua pequena flor já murcha em sua mão, não era uma das amigas dele de escola, nem uma de suas namoradinhas, era alguém que ela não conhecia mas que ainda estava ali mesmo após todos saírem, esperando para falar com ele.

- Você era amiga dele? - Perguntou a mulher secando as lágrimas com um lenço branco, Jess ficou receosa em responder, pois não tinha certeza se ela reagiria bem ao saber quem ela era, mas não teria como mentir numa situação dessas, isso seria impossível para alguém como ela, mesmo que fosse por um bom motivo.

- Sim, nós nos conhecemos a pouco tempo, quando ele entrou para a Coração Valente, foi um dos primeiros amigos que fiz e foi o primeiro garoto que olhou para mim.

A mulher analisou ela de cima a baixo, o que deixou Jess desconfortável, a mulher então soltou um sorriso triste e estendeu a mão em sua direção.

- Venha aqui, tenho certeza que ele ia gostar de receber sua flor. - Caminhando timidamente, Jess se juntou a ela, colocando sua pequena flor sobre seu túmulo, ela parecia tão pequena e insignificante ao lado dos enormes buquês e coroas que haviam colocado ali, mas a mãe de James sabia que provavelmente aquela pequena margarida amarela possuía mais compaixão e sinceridade que a maioria daquelas que estavam ali. A mulher passou o braço em volta dela e beijou sua cabeça.

- Você é uma menina boa, muito obrigada por ter vindo. - Ela sabia que agora era hora de a deixar sozinha, por isso se despediu rápido de James e caminhou para longe, deixando aquela solitária mãe com o filho que ela jamais veria novamente. Antes que pudesse se afastar o suficiente, ela ouviu a voz da mulher.

- Por favor, antes de ir, me diga seu nome.

- É Jéssica, senhora, mas seu filho me chamava de Jess. 

Ela saiu caminhando com o peito um pouco mais leve, sabendo que ao menos havia reconfortado um pouco sua mãe,  já que a melhor coisa que podemos fazer para honrar aqueles que já se foram, é cuidar daqueles que eles amavam.  A está altura já era tarde da noite, não havia mais ônibus de volta para o centro da cidade, o jeito seria caminhar a pé, algo que ela já estava acostumada a fazer, seriam apenas alguns quilômetros, além de que a ajudaria a pensar e espairecer um pouco a cabeça, mas ao cruzar o velho portão de ferro que rangia ao mínimo toque lhe fosse dado, um carro que ainda estava estacionado ali acendeu os faróis. Dessa vez ela não se deixaria ser pega de forma indefesa, Jess energizou suas mãos, pronta para dar tudo de si, mesmo sabendo que não seria o suficiente, já quela estava muito atrás de qualquer um.

Mas para sua surpresa, ela viu o vidro do carro baixar e um rosto nada amigável sair para fora, com seu mesmo ar de cansado e sem saco que ela já havia presenciado, o capitão Ivancov acenou para ela.

- Ei ei. - Disse ele notando que a garota estava pronta para atacar, ele estava fardado e seus cabelos pretos escorridos caiam sobre a testa, ocultando um de seus olhos, seu corte de cabelo era social mas ao mesmo tempo parecia emo, isso fazia Jess ter vontade de rir, pois era muito diferente de todos os polícias que ela já havia visto na vida, e e ficava tentando imaginar como eles ficariam usando aquele corte de cabelo.

- O que você está fazendo aqui? - Finalmente perguntou ela, diminuindo a carga de luz em suas mãos e se aproximando devagar, mas ainda desconfiada, pois não conseguia se sentir segura na presença dele.

- Esperando você.

- Por que?

- Você achou mesmo que depois de um ataque daqueles o Ruffus ia deixar você sair sozinha assim? Além de que precisavamos ter certeza que tudo ocorreria bem nesse funeral, para evitar problemas.

- Evitar problemas? - Perguntou ela com a mesma indignação que Rainbow havia sentido, pois ele não parecia ter respeito nem mesmo por um funeral, o modo com que ele se referia a isso parecia apenas mais algo comum, uma missão recorrente da policia.

- Sim, entra. - Disse abrindo a porta ao lado do passageiro, mesmo não se sentindo cem por cento segura, Jess entrou e fechou a porta.

- Eles só mandaram você?

- Sim, era só o que precisava. - Seu modo arrogante e despretencioso eram iguais ela se lembrava, e agora com seus sentimentos mais calmos e organizados, ela conseguia notar a sensação que a voz dele trazia, era como se algo gosmento tocasse sua pele, junto com um sabor e cheiro de peixe, o que não condizia nada com aquela aparência perfeitamente bem cuidada que Ivancov tinha, com seus suspensórios perfeitamente alinhados, sua gravata de laço beje bem colocada sobre a gola ajustada milimétricamente, sua camisa era tão branca que da a impressão de ser nova, era tudo tão perfeito e arrumado que parecia artificial para ela. Conforme eles se aproximavam da academia a sensação de desconforto por conta de um silêncio mortal dentro daquele carro, crescia no peito de Jess, até que ela finalmente tentou falar algo.

- Qual é sua peculiaridade? - Ele a olhou de lado, levantando uma das sobrancelhas.

- Nenhuma.

- Como assim nenhuma? Como você virou capitão da policia sem ter nenhuma peculiaridade? Isso é impossível! - E realmente talvez fosse, não se havia notícia no mundo de alguém que não possuísse peculiaridade e ocupasse um posto alto em alguma organização militar ou policial.

- O que as pessoas dizem que é impossível eu costumo tornar apenas inacreditável.

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Comments

Lágrimas

Lágrimas

Foda. Esse mano deve ser muito badass

2023-05-20

0

Lágrimas

Lágrimas

Pior que os parentes tão com razão, a estupidez foi do mlk mas é da responsabilidade da Academia proteger os alunos

2023-05-20

0

Higanbana

Higanbana

perdao, amor, irei atualizar quando der

2023-01-23

0

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