Capítulo 14

Heloíse...

Acordei bem cedo hoje e saí para correr um pouco, gosto de me exercitar.

Corri por cerca de uma hora e meia, perdi até a noção do tempo. Correr aqui na fazenda, me faz perder em meio a natureza, respirando o ar puro que emana dela e me faz sentir melhor.

Ao voltar, tomei um banho, tomei o café da manhã e liguei para as minhas amigas de Toronto. Ficamos um tempo conversando por chamada de vídeo, elas queriam saber os detalhes sobre o reencontro com Max. Não entrei detalhes e fiz cara de paisagem, para não perceberem, mas Suzana percebeu de cara o que estava rolando. Fugi da conversa, me despedi e encerrei a chamada as deixando na curiosidade.

Elas devem estar xingando horrores.

Fui até o meu quarto me arrumar para ir até a fazenda Nasser.

Optei por um vestido soltinho branco e bota cano alto e amarrei o meu cabelo num rabo de cavalo.

Peguei o presente que comprei para o filho de Max, me despedi de Romana e segui para a fazenda Nasser. Fui caminhando mesmo, somos vizinhos e não é tão longe.

Assim que entrei na propriedade, alguns dos funcionários já me cumprimentavam. Próxima da casa grande, dois cachorros enormes começaram a latir e fiquei apreensiva, porém, vieram na minha direção brincando.

— Oi garotão! — digo acariciando a cabeça de um deles.

Me agachei e fiz carinho nós dois, conversando com eles. Pelo visto acabaram de tomar banho, estão cheirosos.

De repente, um assovio soou pelo local e ao levantar o olhar, vejo Maxwell. Ele está com uma camiseta branca, calça jeans e bota de cowboy.

Impressionante como esse homem nunca fica feio.

Max veio na minha direção, sorri e pela primeira vez nos cumprimentamos com um beijo no rosto. Seu cheiro me deixou inebriada e de pernas bambas, minha respiração oscilou e a quentura de sua respiração na minha pele, fez um arrepio percorrer a minha espinha.

— Que bom que veio!

Sorri.

— Não fique triste caso o Lucas não te dê atenção, ele é reservado e desconfiado com estranhos!

— Tudo bem! Eu trouxe um quebra-cabeça de animais, espero que ele goste!

— Ele adora brinquedos com animais! Boa escolha!

Entramos conversando sobre como a sua fazenda era linda e grande.

Enquanto adentramos na casa, noto as paredes adornadas com retratos deles e de desenhos coloridos do pequeno, que refletem sua criatividade e imaginação.

O garoto está na sala com a sua tia, sentado no chão com alguns brinquedos espalhados ao seu redor. Ele ergue os olhos quando me vê e consto uma mistura de curiosidade e cautela em seu olhar.

Sarah vem até mim com um largo sorriso e me abraça forte.

— Seja bem-vinda em nossa casa, Heloíse!

— Obrigada!

— Eu quem tenho que te agradecer! Naquele dia nem tive tempo e estabilidade para te agradecer pelo que fez por mim!

— Não foi nada!

— Joaninha, esse é o meu filho Lucas! — diz próximo do lindo garoto.

Ele é lindo, parece o pai e assim que fui me aproximando, o meu coração acelerou e senti um misto de sentimentos. Era como se já o conhecesse a anos, como se ele fizesse parte de mim, do meu coração.

Agachei para ficar na altura dele, mas de uma distância que não viesse incomodá-lo e ofereci um sorriso caloroso.

— Filho, essa é Heloíse, uma amiga do papai!

— Oi, Lucas! Tudo bem? Eu trouxe isso para você. É um quebra-cabeça de dinossauro, você gosta de dinossauros? — perguntei com a voz suave.

O menino observou o quebra-cabeça por um momento, seus olhos brilharam ao reconhecer as figuras coloridas dos dinossauros.

Percebo que ele está hesitante, mas mesmo assim, ele se levantou lentamente e se aproximou de mim.

Comecei a falar sobre os dinossauros, compartilhando curiosidades divertidas e fazendo perguntas simples que não o pressionem, respeitando seu espaço.

Então, algo diferente aconteceu, ele segurou a minha mão carinhosamente.

Fiquei surpresa, mas ao mesmo tempo encantada. Max e Sarah se entreolharam espantados, provavelmente essa atitude deve ser nova para eles.

Com delicadeza, segurei a mão dele.

— Vamos... montar? — perguntou.

— Vamos sim!

O gesto é simples, mas carrega um significado profundo, é como se ele estivesse aceitando não apenas o presente físico, mas também o carinho que estou lhe oferecendo. Senti algo diferente desde que o vi, algo novo e diferente... um sentimento bonito e genuíno.

Com nossas mãos entrelaçadas, nos sentamos no chão. O menino começa a colocar as peças do quebra-cabeça sobre a mesa de centro.

— Essa peça parece se encaixar aqui! — digo e ele confirma com um aceno rápido.

— E essa é aqui...

À medida que montamos o quebra-cabeça lado a lado, é como se um sentimento de confiança começasse a se formar entre nós. Observo atentamente suas reações e respeito seus ritmos, em alguns momentos quando ele pareceu frustrado ou hesitante em encaixar uma peça, ofereci ajuda suavemente ou simplesmente lhe dava espaço para tentar novamente.

Ao final da atividade, quando o quebra-cabeça finalmente está completo, contemplamos a imagem juntos.

Confesso que uma onda de satisfação tomou o meu ser, ao perceber que ele me viu como uma amiga e gostou de mim, assim como gostei dele.

Nestes minutos com Lucas, percebi que a minha mãe tem razão ao dizer que os pequenos gestos de amor e compreensão podem abrir portas para conexões significativas em meio às dificuldades da vida.

— Você gostou filho? — perguntou Max, nos tirando daquele momento.

— Do quê?

— Do quebra-cabeça cabeça? O Lucas gostou do quebra-cabeça?

— Sim!

— O almoço está servido, vamos? — pergunta Sarah.

Lucas se colocou de pé, mais uma vez segurou a minha mão e me levou até o lavabro, para levarmos as mãos.

Achei fofo da parte dele, assim que terminamos, ele voltou a segurar a minha mão e fomos para a mesa.

Sentei ao lado do garotinho, Sarah o serviu e almoçamos conversando assuntos sobre a fazenda.

Hora ou outra, eu e Max nos olhávamos com intensidade, ele parecia ter quebrado uma certa barreira, após o momento que tive com o seu filho.

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