Capítulo 9

Heloíse…

Ontem terminei a minha noite na varanda, tomando vinho e admirando a bela noite estrelada. Havia me esquecido de como as noites por aqui são lindas e limpas, a brisa que toca nosso rosto é de aquecer o coração. 

Dormi muito bem…

Acordei bem cedinho com o cantar dos galos, fiz a minha higiene, me troquei e fui para a cozinha. Romana e Jack tomam café com as funcionárias, os cumprimentei e me juntei a eles. 

Após o café da manhã, liguei para a minha mãe para saber como estavam as coisas, também conversei com meus irmãos, grupo dos "irmãos". Passei o dia todo na fazenda, ajudando a cuidar dos animais e aproveitei para verificar se todos estavam com as vacinas em dia.

O dia passou que nem vi e a noite me arrumei para ir até a cidade. A minha amiga de infância, Lilly, é sobrinha de Romana e a mulher disse que ela está trabalhando de garçonete num bar conhecido no centro da cidade. Isso me deixou surpresa, pois a minha amiga sempre sonhou em fazer faculdade de Direito, mas quando a sua mãe adoeceu, não pode ir para Toronto comigo e perdemos o contato. As últimas notícias que tive foram que ela havia se mudado para outra cidade. 

Romana disse que ela voltou há alguns meses e está casada. Elas não têm muito contato.

Assim que terminei de me arrumar, olhei no espelho e gostei do que vi.

Me despedi deles, peguei a picape que era do meu irmão, liguei o som, segui para a cidade.

Ao chegar, estacionei na praça e segui para o bar que Romana me deu o endereço. A praça estava bem movimentada, os estabelecimentos com mesas nas calçadas e várias pessoas reunidas comendo, bebendo e conversando.

Fui em direção ao bar e assim que entrei, vi Lilly atrás do balcão limpando, estava linda com uma barriguinha saliente que indicava estar grávida.

— Boa noite! — disse, chamando a sua atenção.

Assim que ela levantou o olhar, vi surpresa e felicidade em seu olhar.

— Ló?

Ela contornou o balcão e veio na minha direção e me abraçou forte.

— Que saudade, amiga!

— Também estava com saudades, você sumiu!

Ela se afastou um pouco, me olhou de cima a baixo e disse:

— Você está muito linda, Ló!

— Você também não está nada mal!

Ela voltou para a sua posição e me serviu com uma canadian.

Enquanto tomava a bebida conversávamos, minha amiga não falou muito dela e só quis ouvir eu falar de mim. A única coisa que ela disse, foi que sua mãe melhorou e que ela se casou. A sua maior felicidade é estar a espera do seu primeiro filho.

...O que será que aconteceu?...

Entre uma conversa e outra, ela fazia seu trabalho.

Até que um grupo de jovens entra no estabelecimento, entre eles um rosto conhecido.

— Eu acho que conheço aquela garota! — digo.

— Não se lembra? É a Sarah, irmã do seu amor platônico! — diz divertida.

— Claro! Nossa ela cresceu!

— Sim! Ela é uma garota linda, educada e muito simples!

— E está namorando?

— Sim! Só não sei se o seu irmão sabe! Todos sabem que ele a protege excessivamente!

Continuamos ali conversando, hora ou outra olhava para o grupo de jovens e acredito que a garota tenha me reconhecido, pois também me olhava.

Um homem mais velho entrou no bar e pagou uma rodada de bebida alcoólica para o grupo, causando revolta em Lilly. Então ela me explicou que são todos de menores e aquele homem mais velho é o dono do bar e irmão do namorado de Sarah. 

Ficamos indignadas, mas não podia fazer barraco ali e fazer a minha amiga perder o emprego. Sarah pediu um refrigerante, mas confesso que fiquei preocupada, esse seu namorado não me passou confiança.

Continuei ali, eu e Lilly continuamos a conversa e pedi uma tábua com frios. O dono do bar, jogou alguns olhares para cima de mim, mas ignorei. 

Em determinado momento, percebi que Sarah e seu namorado não estavam mais na mesa.

— E aí amiga, você já viu o bonitão?

— Que bonitão?

Ela semicerrou o olhar e entendi que se referia a Max.

— Sim! — respondi, pegando o dinheiro para pagar a conta.

— Ele está ainda mais gato, né?

— Sim, mas não é para o meu bico! Um homem daqueles nunca olharia para uma garota como eu!

— Para Ló, tu está ainda mais gata! 

— Max é um homem casado!

— Hã? Pelo visto não está sabendo de toda a história! 

— Romana disse que ele tem um filho, então supus que...

— O que sei, é que ela abandonou eles! Max está solteiro e é o mais cobiçado entre as mulheres, mas parece que nenhuma por aqui é boa o suficiente para ele!

— Menos conversa e mais trabalho, dona Lilly! — diz o dono do bar, sentando-se ao meu lado.

— Tenho que ir! Até mais amiga!

Trocamos número de telefone, nos despedimos e saí do bar.

Quando estava entrando na picape, vi Sarah passando pela praça chorando, ela estava atordoada.

Preocupada fui de encontro a garota...

— Você está bem?

— Eu... eu quero ir pra casa!

— Se acalme, te fizeram algo?

Ela volta a chorar, então a abraço forte e ela chora copiosamente. 

— Eu sou uma idiota! Uma idiota...

— Vem cá! — digo a puxando para um banco de pedra e nos sentamos. — Me diz o que aconteceu? Te fizeram algo? Está machucada?

— Me machucaram aqui dentro! — diz apontando para o seu coração.

O namorado dela se aproxima, mas ela parece com medo dele e se coloca de pé. 

— Sarah, vamos conversar... por favor!

— Não! Fica longe de mim! 

Me coloquei na frente dela...

— Ela precisa de tempo agora! Não sei o que fez, mas agora não é o momento para conversar!

— Mas...

— Se não quiser que eu faça um escândalo aqui, peço que a deixe em paz!

— Depois nós vamos conversar, Sarah!

O rapaz vai embora e a garota volta a chorar, então volto a abraçá-la.

— Estou me sentindo uma idiota!

— Shiii... calma, não fiquei assim! Não sei o que aconteceu, mas tenho certeza que você não teve culpa!

— O meu irmão tem razão, sou muito ingênua!

Demorou, mas quando se acalmou perguntei se queria que a levasse para casa e ela aceitou. Disse que não queria voltar apenas com o funcionário da fazenda.

Avisei o homem e fomos em minha picape e ele foi logo atrás de nós.

— Quer conversar? — perguntei com o olhar fixo na estrada.

— Hoje não! Quem sabe outro dia, mas agradeço muito pela ajuda! 

Sorri e continuei a minha atenção na estrada.

— Você é a Heloíse Connor, né?

— Sim e você a Sarah Nasser?

Ela apenas assentiu com a cabeça.

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