A Redenção

Alice sentia o peso dos últimos meses em cada músculo do corpo, mas sua determinação nunca estivera tão forte. A reabilitação havia se tornado sua maior batalha e, ao mesmo tempo, sua maior conquista. As sessões de fisioterapia continuavam desafiadoras, mas agora cada pequeno avanço era celebrado como uma vitória. Davi estava ao seu lado em cada etapa, e isso fazia toda a diferença.

Henrique, o fisioterapeuta, a observava com atenção, seu olhar severo suavizado pelo progresso evidente de Alice.

— Você já passou pelo pior — disse ele em um tom encorajador. — Agora, o que resta é resistência. Seu corpo está aprendendo a se movimentar novamente, e sua mente precisa acompanhar esse processo. Mas eu sei que você vai conseguir.

Alice assentiu, sentindo a confiança de Henrique como um combustível para sua determinação. Ela nunca quis tanto algo quanto recuperar sua independência. Olhou para Davi, que sorria para ela, segurando sua mão firmemente. Seu olhar era de puro orgulho.

— Eu sei que você pode — ele sussurrou.

Naquela tarde, algo inesperado aconteceu. O pai de Alice apareceu na clínica de reabilitação. Desde o acidente, ele evitava vê-la em sua condição vulnerável. Era um homem de orgulho e rigidez, e o fato de ver a filha precisando lutar para andar de novo parecia um golpe para ele. Mas ali estava ele, parado na porta, observando-a enquanto tentava dar um passo com a ajuda das barras paralelas.

O silêncio na sala era palpável. Alice hesitou por um momento, mas depois respirou fundo e deu mais um passo. Henrique e Davi estavam ao seu lado, mas foi a presença do pai que a fez querer ir além. Mais um passo. E mais um.

Quando finalmente parou, ofegante, olhou para o pai. Ele não disse nada, mas havia algo em seus olhos que Alice nunca havia visto antes: respeito. Ele se aproximou e, de maneira hesitante, colocou uma mão no ombro da filha.

— Você é mais forte do que eu imaginava — disse ele, sua voz carregada de emoção.

Alice sentiu um nó na garganta, mas apenas sorriu. Era a primeira vez que sentia que realmente tinha conquistado o respeito do pai.

Mais tarde naquela noite, enquanto estava em casa descansando, Davi trouxe algo especial para ela. Um caderno de capa azul, simples, mas significativo.

— O que é isso? — ela perguntou, curiosa.

— Um diário — ele respondeu. — Achei que talvez quisesse registrar sua jornada. Tudo o que você passou, tudo o que ainda vai alcançar. Você tem uma história incrível, Alice. Uma história de redenção.

Ela segurou o caderno com carinho, sentindo-se tocada pelo gesto. Davi sempre soube exatamente como apoiá-la, e isso só fazia com que o amor que sentia por ele crescesse ainda mais.

Naquela noite, Alice escreveu sua primeira entrada no diário. Ela não sabia o que o futuro reservava, mas uma coisa era certa: ela não era mais a mesma garota de antes do acidente. Agora, era alguém que havia lutado, caído e se reerguido. E estava pronta para o que viesse a seguir.

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