Conexão Inevitável

Alice ajustou os óculos sobre o nariz e folheou as páginas do contrato que deveria analisar. Era uma negociação importante para o escritório, e ela precisava estar completamente focada. Porém, ao ler o nome da empresa envolvida, sentiu um frio na espinha: Grupo Vasconcellos.

Seu coração deu um pequeno salto. O nome não era estranho. E não demorou muito para confirmar suas suspeitas. Davi Vasconcellos. O homem do olhar intenso, da presença arrebatadora, agora estava ligado diretamente a ela por vias profissionais.

Ela suspirou e fechou os olhos por um instante. Precisava se recompor. Não poderia permitir que um mero encontro casual interferisse em sua carreira. Pegou a caneta e fez algumas anotações no contrato antes de chamar Rafael.

— Vou precisar de você nessa negociação — disse, entregando os documentos a ele.

Rafael ergueu uma sobrancelha e pegou os papéis.

— Por quê? O que há de tão especial nessa empresa?

Ela hesitou por um instante, mas decidiu contar.

— O CEO, Davi Vasconcellos... eu o conheci no evento de ontem.

O amigo abriu um sorriso malicioso.

— Ah, entendi. Então é por isso que você estava tão perdida hoje cedo.

— Não é nada disso — Alice retrucou, cruzando os braços. — Apenas prefiro manter minha relação profissional livre de complicações pessoais.

— Hum... entendi — Rafael brincou. — Mas já aviso que ele é um tubarão nos negócios. Vai precisar de nervos de aço para lidar com ele.

Alice assentiu. Estava pronta. Ou pelo menos era o que queria acreditar.

No final da tarde, ao entrar na sala de reunião, Alice sentiu seu coração acelerar quando viu Davi sentado à cabeceira da mesa. Ele ergueu os olhos e, ao encontrá-la, sorriu levemente. Um sorriso quase imperceptível, mas que carregava um peso silencioso.

— Dra. Alice — ele cumprimentou com a voz grave. — Uma surpresa encontrar você aqui.

Ela manteve a postura firme e profissional, ignorando a eletricidade que parecia vibrar no ar entre os dois.

— Sr. Vasconcellos, é um prazer. Vamos dar início à negociação.

Os minutos seguintes foram marcados por trocas afiadas de argumentos e contrapropostas. Alice mostrava segurança, enquanto Davi exibia uma paciência calculada, como se estivesse se divertindo ao testá-la. Porém, era inegável que a tensão entre eles ia muito além dos negócios.

Em determinado momento, Rafael percebeu a troca de olhares e pigarreou.

— Acho que podemos fazer um intervalo — sugeriu, levantando-se.

Alice sentiu o rosto esquentar, mas manteve a expressão impassível.

Durante o intervalo, Alice saiu da sala de reuniões para espairecer. Caminhou até a varanda do prédio, sentindo o vento frio da cidade em seu rosto. Mal percebeu quando Davi se aproximou.

— Fiquei impressionado com sua firmeza na negociação — ele disse, apoiando-se no parapeito ao lado dela.

Alice cruzou os braços, mantendo sua postura profissional.

— Apenas faço meu trabalho, Sr. Vasconcellos.

Ele riu baixo.

— Me chame de Davi. "Senhor" me faz sentir velho.

Ela arqueou uma sobrancelha, mas não respondeu. Em vez disso, voltou o olhar para a vista da cidade. Havia algo nele que desestabilizava suas defesas. Sua presença era avassaladora, e o modo como a observava a fazia sentir que ele enxergava além da fachada que ela tentava manter.

— Você parece ser uma mulher de controle absoluto, Alice — ele comentou. — Mas algo me diz que há muito mais por trás dessa postura impecável.

Ela se virou para encará-lo.

— E você parece gostar de provocar as pessoas, Davi.

Ele sorriu, inclinando-se ligeiramente em sua direção.

— Apenas quando encontro alguém que vale a pena.

Alice sentiu um arrepio percorrer sua espinha. No fundo, ela também sabia que ele estava certo. O destino não parecia disposto a deixá-los seguir caminhos separados.

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