Alice passou os dias seguintes em uma névoa de tristeza. O vazio deixado pela ausência de Davi era insuportável, mas ela se forçava a acreditar que havia tomado a decisão certa. Seu pai, satisfeito, não tocava mais no assunto, como se Davi nunca tivesse existido. Mas Alice sabia que ele estava sempre de olho, garantindo que ela não recaísse.
Davi, por outro lado, não conseguiu seguir em frente. Cada canto do apartamento lembrava Alice, cada música no rádio trazia memórias dos momentos que compartilharam. Ele tentou se afundar no trabalho, mas nem a medicina conseguia preencher o buraco que ela deixou.
Naquela noite, enquanto tentava encontrar algum alívio no silêncio de seu apartamento, seu telefone tocou. Era um número desconhecido. Ele atendeu, e do outro lado da linha, uma voz ansiosa falou:
— Doutor Davi? Aqui é a enfermeira Camila, do hospital central. Precisamos que o senhor venha imediatamente.
— O que houve? — ele perguntou, sentindo o estômago se revirar.
— É Alice. Ela sofreu um acidente.
Davi não ouviu mais nada. Largou o telefone e correu para o hospital, sua mente girando em desespero. Quando chegou, encontrou Camila na recepção, que o levou até a sala de emergência.
Alice estava deitada na maca, pálida, com curativos cobrindo parte de seu rosto e braços. O coração de Davi apertou ao vê-la tão frágil. Ele se aproximou e segurou sua mão.
— Alice... — sua voz quebrou.
Os olhos dela se abriram lentamente, e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.
— Eu sabia que você viria... — ela sussurrou.
Davi engoliu o nó na garganta. O amor que sentia por ela nunca havia diminuído, e vê-la ali, machucada, fez com que tudo dentro dele se revirasse.
— O que aconteceu? — ele perguntou, tentando conter a emoção.
— Eu estava distraída... E um carro não conseguiu frear a tempo — ela disse, com a voz fraca.
Ele segurou o rosto dela com delicadeza.
— Eu nunca deveria ter deixado você ir... — sua voz saiu carregada de arrependimento.
Alice sorriu com tristeza.
— Eu também nunca quis ir. Mas agora... talvez seja tarde demais.
Davi franziu a testa.
— O que quer dizer?
Ela hesitou, e então uma lágrima escorreu por seu rosto.
— Os médicos disseram que posso nunca mais andar.
O mundo de Davi parou. Mas enquanto segurava a mão de Alice com mais força, ele soube que não importava o que acontecesse, não iria abandoná-la. O amor que sentia por ela era maior que qualquer obstáculo.
— Eu estou aqui, Alice. E não vou a lugar nenhum.
Naquele momento, souberam que o destino deles ainda não estava decidido. Mas juntos, enfrentariam qualquer desafio.
As horas passaram devagar. Davi não saiu do lado de Alice, observando atentamente cada detalhe, cada expressão de dor que ela tentava esconder. Os médicos explicaram que o impacto do acidente afetou sua coluna, e os danos poderiam ser permanentes. Mas havia uma chance, mínima que fosse, de recuperação.
Alice estava apavorada. Sempre foi independente, nunca precisou depender de ninguém. Agora, sua vida poderia mudar drasticamente. Olhou para Davi, que segurava sua mão com firmeza, como se temesse que ela desaparecesse se a soltasse.
— Você não precisa ficar aqui, Davi. Eu não quero que você sinta pena de mim. — Sua voz era um sussurro quebrado.
Ele franziu o cenho, visivelmente ofendido.
— Pena? Você realmente acha que eu estou aqui por obrigação? Alice, eu te amo. Não importa como ou onde, eu vou estar com você.
Uma lágrima silenciosa escorreu pelo rosto dela. O medo de ser um peso para ele era esmagador. Mas no fundo, parte de seu coração queria acreditar que ele falava a verdade.
A porta do quarto se abriu bruscamente. O pai de Alice entrou, o rosto carregado de fúria e preocupação.
— O que esse homem está fazendo aqui? — ele rosnou, os olhos ardendo de raiva ao ver Davi.
Alice se encolheu levemente. Não tinha forças para enfrentar o pai naquele momento. Davi, por outro lado, se levantou, encarando-o sem medo.
— Eu estou aqui porque amo sua filha. E não vou deixá-la sozinha em um momento como este.
— Você já a machucou o suficiente! — O homem avançou, apontando um dedo acusador para ele. — Se não fosse por você, ela não estaria nesse estado!
Alice fechou os olhos, sentindo a pressão aumentar. Sua cabeça doía, o coração batia descompassado. Mas antes que pudesse intervir, Davi deu um passo à frente.
— Eu nunca quis machucá-la. Mas posso garantir uma coisa: eu não vou abandoná-la. Nunca.
O pai de Alice respirou fundo, controlando a raiva. Sabia que Davi era um problema. Mas agora, com sua filha tão vulnerável, não podia simplesmente afastá-lo. Por mais que odiasse admitir, talvez Alice precisasse dele mais do que nunca.
— Faça o que quiser. Mas se a fizer sofrer de novo, eu acabo com você. — Com essas palavras, ele saiu, deixando um silêncio pesado no quarto.
Davi voltou para Alice, que o observava com olhos marejados.
— Você realmente pretende ficar? Mesmo que eu nunca mais possa andar? — a voz dela era um fio de esperança misturado com medo.
Ele sorriu, apertando sua mão com mais força.
— Alice, eu não me apaixonei pelas suas pernas. Me apaixonei por você.
E naquele instante, ela soube que, mesmo diante da incerteza, não estava sozinha. O amor que sentiam um pelo outro poderia ser a força que precisavam para superar qualquer desafio.
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Atualizado até capítulo 44
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