Os dias seguintes àquela noite se arrastaram lentamente para Isabella. O peso da dor, da decepção e da raiva ainda a consumia, e ela sabia que, de algum modo, nada seria mais como antes. A imagem de Ricardo e Claudia se beijando estava gravada em sua mente, e cada vez que ela fechava os olhos, aquela cena voltava, fria e implacável, como uma lembrança que não podia ser apagada.
Ela se refugiava em sua rotina, tentando encontrar algum tipo de normalidade. Mas era difícil. Muito difícil. Cada canto da casa, cada espaço, cada móvel parecia estar impregnado com a presença dele. Isabella tentou afastar os pensamentos sobre Ricardo, mas a verdade era que ele ocupava uma parte de sua mente que não conseguia controlar. O desejo de ser notada por ele, de ser vista de outra forma, ainda estava lá. Mas, ao mesmo tempo, a dor da rejeição se fazia presente, imensa e sufocante.
Isabella passava os dias em silêncio, um silêncio que parecia se estender para dentro de sua alma. Ela não sabia mais o que fazer, o que sentir. A verdade era que ela estava presa entre dois mundos: o mundo de uma mulher que queria ser amada, desejada, e o mundo de uma filha que sempre foi protegida, mas nunca verdadeiramente compreendida.
Foi em uma manhã fria que Ricardo a procurou. Ele apareceu de surpresa na porta de sua casa, com o olhar preocupado, mas com um quê de hesitação. Ele parecia querer dizer algo, mas as palavras não saíam com facilidade.
— Isabella... — disse ele finalmente, a voz grave, carregada de um peso que ela não sabia identificar. — Eu sei que as coisas não estão fáceis entre nós, mas... precisamos conversar.
Ela o encarou por alguns segundos, sem saber se deveria ceder àquela conversa. Não era como se ela tivesse alguma dúvida sobre o que sentia, ou talvez tivesse, mas não queria admiti-lo. O que ele tinha a dizer? O que mais poderia ser dito? Ela já sabia que a relação deles estava destruída de uma maneira irreversível. Mas, mesmo assim, algo nela a forçava a ouvi-lo.
— Eu não quero mais ouvir promessas ou explicações, Ricardo. — Sua voz estava tranquila, mas o olhar estava carregado de dor e resignação. — Eu sei o que vi, sei o que aconteceu. E, no fundo, sei que isso tudo está além do que podemos consertar.
Ricardo a observou, seus olhos profundos tentando captar a mensagem entre as palavras dela. Ele suspirou, antes de falar novamente.
— Não é só sobre o que você viu, Isabella. É sobre o que nós dois somos, sobre o que essa situação se tornou. — Ele fez uma pausa, como se buscasse a melhor forma de se expressar. — Eu sei que tudo foi confuso. Eu também não sei mais como lidar com o que estou sentindo.
Isabella engoliu em seco, ainda sem conseguir olhar nos olhos dele por muito tempo. Ela sentia como se a distância entre eles fosse um abismo profundo, e ela não soubera como atravessar essa ponte.
— O que você quer dizer com isso, Ricardo? — ela perguntou, a raiva em sua voz já suavizada pela tristeza. — Eu não quero mais me enganar. Não sei se consigo ser só sua filha, não sei se sou capaz de continuar sendo a pessoa que você quer que eu seja. Não mais.
Ele ficou em silêncio, como se as palavras dela o tivessem atingido com força. Ele sabia que algo dentro dela estava quebrando, mas ele também sabia que ele próprio não estava preparado para lidar com as próprias falhas. Por mais que quisesse consertar as coisas, não sabia como.
— Você precisa de espaço, Isabella. Eu entendo isso. Eu... talvez precise de espaço também. — Ele olhou para ela com um misto de dor e compreensão. — A única coisa que eu sei é que eu te amo, você sempre será importante para mim. E mesmo que não possamos voltar atrás, não posso negar isso.
Isabella olhou para ele, sentindo uma dor pungente em seu coração. O amor dele, o cuidado que ele sempre demonstrara, era real. Mas, ao mesmo tempo, ela sentia que aquele amor tinha uma barreira invisível. Algo que ela não conseguia atravessar, algo que nunca poderia ser superado.
— Talvez o amor não seja suficiente, Ricardo — ela sussurrou, a voz trêmula. — Talvez o que precisamos agora seja de silêncio. De tempo para entender o que somos, para entender o que queremos. Eu não sei mais se posso ser a filha que você sempre quis. Eu não sei mais quem sou neste relacionamento.
Aquelas palavras caíram pesadas no ambiente, e Isabella sentiu que estava se afastando de tudo o que conhecia. Ricardo olhou para ela, e ele não precisava dizer nada mais. O que restava entre eles era a consciência de que a relação estava em um ponto sem volta. O que aconteceria a seguir era incerto.
Com um último olhar, Isabella se afastou. Ela não sabia se estava fazendo a escolha certa, mas uma coisa era clara: ela não podia mais se submeter a um amor que não podia ser pleno, que não podia ser correspondido da forma que ela desejava. Ela precisava encontrar a si mesma, longe de tudo e de todos.
E enquanto ela caminhava para dentro de casa, sentindo o peso da decisão que tomara, uma parte de sua alma sentia uma liberdade silenciosa, mas também uma dor imensa. O silêncio havia se instalado, mas a escolha agora era dela. Ela sabia que o futuro que ela construiria seria diferente, mas de que forma? Isso, ela ainda teria que descobrir.
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Atualizado até capítulo 100
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