A tempestade rugia lá fora, o vento uivando através das frestas da janela como um aviso sombrio. Isabella sentia o peso do diário em suas mãos como se segurasse uma bomba prestes a explodir. Cada palavra escrita por sua mãe parecia ecoar dentro dela, acendendo uma chama de raiva e determinação.
"Ricardo não é quem diz ser."
"Tenho medo."
"Se algo me acontecer, ele estará envolvido."
O coração de Isabella martelava em seu peito. Sua mãe sabia. Ela havia tentado alertar alguém, mas ninguém a ouviu. E agora, anos depois, Isabella estava determinada a fazer o que Laura não conseguiu: descobrir a verdade.
Ela fechou os olhos por um instante, tentando conter o turbilhão de emoções. Mas então, um barulho no corredor a fez se sobressaltar. Passos pesados se aproximavam.
Ela mal teve tempo de esconder o diário debaixo do travesseiro antes que a porta se abrisse abruptamente.
Ricardo.
Ele estava ali, parado no batente da porta, o olhar frio e inexpressivo.
— Você está espiando o passado, Isabella?
A voz dele era calma, mas carregada de algo mais sombrio.
Ela se levantou devagar, encarando-o de frente.
— Estou buscando a verdade.
— A verdade… — Ele soltou uma risada curta, descrente. — A verdade nem sempre é o que parece.
— Então me diga o que realmente aconteceu com minha mãe! — Isabella disparou, o peito subindo e descendo rapidamente. — Me diga por que ela estava com medo de você!
Ricardo a observou por um momento, então entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.
— O que exatamente você leu? — perguntou, a voz mais baixa, quase ameaçadora.
Isabella sentiu um arrepio, mas não recuou.
— O suficiente para saber que ela sabia sobre seus negócios sujos. O suficiente para entender que você pode ter tido algo a ver com a morte dela.
Por um instante, ela viu algo passar pelo rosto dele — uma hesitação, um lampejo de algo que quase parecia… culpa? Mas então, ele se recompôs.
— Sua mãe era ingênua. Ela achava que podia entender um mundo que não lhe pertencia. Isso a colocou em perigo.
— Que mundo, Ricardo? O mundo do crime? O mundo em que você está envolvido?
Ele se aproximou, e Isabella recuou instintivamente.
— Você está brincando com fogo, menina. Não tem ideia das forças com que está lidando.
— Me conte a verdade! — ela insistiu.
O silêncio se alongou entre eles. Ricardo respirou fundo e olhou para a janela, observando a chuva escorrer pelo vidro.
— Você quer a verdade, Isabella? Então ouça bem.
Ela engoliu seco, esperando.
— Sua mãe… descobriu algo que não deveria. Eu avisei para que ela ficasse fora disso, mas ela insistiu. Procurou pessoas erradas, fez perguntas perigosas.
— E isso lhe custou a vida? — Isabella sussurrou.
Ricardo fechou os olhos por um momento antes de encará-la novamente.
— Eu não a matei, se é isso que quer saber. Mas ela foi morta por causa do que sabia.
O estômago de Isabella se revirou.
— Quem fez isso?
— Não posso dizer. — A voz dele estava mais baixa agora. — Mas, se você continuar cavando, pode acabar no mesmo destino.
Ela se afastou, sentindo o peso daquelas palavras.
— Então, me deixa adivinhar. Você passou todos esses anos tentando "me proteger" para garantir que eu não descobrisse nada?
— Eu queria manter você segura.
— Ou manter seus segredos escondidos?
Ricardo não respondeu.
Isabella sentiu uma onda de revolta. Sua mãe foi morta, e ele sabia por quê. Talvez até soubesse quem fez isso. Mas ao invés de buscar justiça, ele apenas encobriu tudo.
Ela sentiu lágrimas quentes se acumularem em seus olhos, mas piscou rapidamente, recusando-se a demonstrar fraqueza.
— Eu não sou mais uma criança, Ricardo. Não vou parar até descobrir tudo.
Ele suspirou, passando a mão pelo rosto.
— Se essa é a sua escolha, então esteja preparada. Porque a verdade… pode ser pior do que você imagina.
E então, ele saiu, deixando Isabella sozinha com seus pensamentos caóticos.
Ela olhou para o diário debaixo do travesseiro, a tempestade rugindo lá fora como um reflexo da tempestade dentro dela.
Ela não ia recuar.
Estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 100
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