Isabella tentava manter a mente ocupada. Cada dia que passava era uma nova oportunidade de se redescobrir, mas, por mais que tentasse, havia algo que ainda a atormentava: Ricardo. Ele estava sempre presente em seus pensamentos, de uma forma silenciosa, mas constante. O modo como ele a salvou, as promessas de proteção, o peso de suas palavras. Por mais que tentasse afastar esses pensamentos, a verdade era que ela sentia falta dele.
Sentia falta da maneira como ele a olhava, como ele a tratava com um cuidado que, por mais possessivo, parecia ser o único tipo de afeto que ela conhecia. Sentia falta da tensão entre eles, da maneira como ele a fazia se sentir viva, mesmo nas situações mais desconfortáveis. E, por mais confusa que fosse essa sensação, Isabella não podia negar o vazio que ele deixara em sua vida.
Ela estava sentada no sofá, pensando no que fazer com sua noite. Claudia estava no andar de cima, como de costume, sempre quieta, sempre distante. Isabella sabia que Claudia cumpria seu papel de segurança, mas também havia algo mais, um distanciamento, como se ela estivesse apenas observando, não realmente se envolvendo em sua vida.
Algo dentro de Isabella a impulsionou a fazer o impensável. Ela não sabia o que esperava encontrar, mas a curiosidade a dominava. Ela se levantou, pegou sua bolsa e, sem dizer uma palavra para Claudia, saiu de casa, determinada a ir até o escritório de Ricardo. Ela ainda tinha o endereço, e o prédio parecia estar sempre à sua disposição, como se, de alguma maneira, ainda estivesse ligada àquele mundo.
Quando chegou, o prédio estava iluminado, e Isabella sentiu uma tensão na sua barriga, mas não conseguiu desistir. Subiu até o andar onde Ricardo trabalhava, respirando fundo antes de se aproximar da porta de seu escritório. Algo lhe dizia que essa noite não seria como as outras.
Ao se aproximar da porta, ela ouviu risadas, mas o som parecia abafado, como se alguém estivesse tentando manter a conversa em segredo. Curiosa, ela parou, hesitando por um momento, antes de decidir que não podia voltar atrás. Ela precisava saber, precisava entender o que estava acontecendo, como se algo estivesse a chamando ali.
Com um movimento rápido, ela empurrou a porta.
O que viu a fez parar instantaneamente, congelada no local. Ricardo estava ali, no meio do escritório, beijando Claudia. O choque a atravessou como uma lâmina afiada. Ela sentiu um nó apertado em sua garganta e, por um momento, o mundo ao seu redor desapareceu. Não era apenas a visão que a paralisava, mas a mistura de emoções conflitantes que começavam a surgir em seu peito.
Ricardo estava com Claudia, mas ele sempre dizia a Isabella que não a controlaria mais, que ela era livre. Então, por que ela sentia como se tivesse sido traída, como se tudo o que ele tinha dito fosse uma mentira? O que significava essa cena para ela? E o que Ricardo realmente sentia por ela? Ou, talvez, o que ele realmente sentia por Claudia?
Ricardo se afastou de Claudia rapidamente, como se tivesse sido pego em flagrante. Ele parecia surpreso, mas também um pouco desconfortável, uma expressão que Isabella não conseguia decifrar.
— Isabella... — A voz de Ricardo estava mais baixa, quase tensa. Ele parecia sem palavras, um homem fora de equilíbrio. — Eu não queria que você visse isso.
Isabella não sabia o que dizer. Suas mãos estavam tremendo, e seu coração batia forte no peito. Ela tinha se convencido de que estava superando o que havia acontecido entre ela e Ricardo, mas ver aquele gesto de intimidade com outra pessoa a fez sentir algo profundo que ela não conseguia controlar.
— Eu... — Isabella não sabia como terminar a frase. Não sabia se estava com raiva, triste ou apenas confusa. O que ela sentia agora era algo que a desorientava completamente. — Então, é isso? Depois de tudo o que você fez por mim, é assim que você... me paga?
Ricardo deu um passo à frente, mas ela deu um passo para trás. Ele estava se aproximando, mas ela não queria mais ouvir desculpas, não queria mais promessas. Ela sentia que estava sendo consumida pela dúvida, pela dor, pela sensação de que o que ela acreditava que fosse real nunca havia sido real.
Claudia, que estava a um canto da sala, olhou para Isabella com um olhar que parecia tentar transmitir algo, uma espécie de compreensão silenciosa. Mas Isabella não conseguia se conectar com ela, com ninguém. Ela só queria sair, se afastar daquele lugar onde todas as suas certezas haviam se quebrado.
— Não foi o que você pensa, Isabella — Ricardo tentou novamente, seu tom agora mais suave, mas a dor nos olhos dele era evidente. — Eu... Eu nunca quis te magoar. Eu só...
— Você só queria me controlar, não é? — Isabella interrompeu, sua voz mais firme agora, mas ainda trêmula. — Você me usou, me fez acreditar em algo que não era real. E agora está com ela... Não sei o que pensar mais, Ricardo. Não sei quem você realmente é.
Ricardo ficou em silêncio por um momento, e Isabella, com a raiva queimando dentro de si, se virou rapidamente e saiu pela porta. Seus passos ecoavam pelo corredor, e a sensação de traição a invadiu como uma onda avassaladora.
Ela não sabia para onde estava indo, mas não importava. Ela precisava de espaço. Precisava processar tudo o que acabara de ver, e a última coisa que ela queria era ficar ali, naquela sala com aqueles dois, enquanto seu coração se despedaçava. Ela já havia sido usada uma vez, e agora, parecia que o ciclo estava se repetindo.
Quando saiu do prédio, a noite estava fria, e a lua parecia um reflexo de sua dor. Ela andou pelas ruas desertas, sentindo-se sozinha, mas, ao mesmo tempo, decidida a não ser mais a prisioneira de suas emoções. Isabella sabia que precisaria confrontar Ricardo, confrontar suas próprias dúvidas, mas, por enquanto, ela só queria escapar.
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Atualizado até capítulo 100
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