Isabella não conseguia dormir. As palavras de Ricardo ecoavam em sua mente, repetindo-se em um ciclo incessante, distorcendo sua percepção de tudo o que ela acreditava saber sobre sua vida. Ela estava sozinha em seu quarto, sentada na cama, com os joelhos abraçados contra o peito. A dor era profunda, quase física, e sua mente não conseguia encontrar descanso. O peso da verdade sobre sua mãe, a traição que ela nunca imaginou que pudesse acontecer, e o fato de que ela era uma mercadoria para ser vendida... Tudo isso a consumia.
Ela se levantou, caminhando até a janela, observando a chuva que caía lá fora. A tempestade parecia refletir o turbilhão dentro dela. Sua vida havia sido construída sobre mentiras, sobre ilusões, e agora ela precisava reconstruí-la do zero, se é que isso seria possível.
Ricardo havia sido o homem que a resgatara daquela noite, mas ele também era o homem que a aprisionara em sua própria casa, sob o pretexto de protegê-la. Ele a manteve segura, sim, mas também a impediu de viver livremente. A confusão dentro de Isabella era imensa, e a raiva que ela sentia por ele se misturava com uma estranha sensação de gratidão. Ele a havia salvado de um destino cruel, mas, ao mesmo tempo, ele a havia mantido sob seu controle. Ela não sabia como reconciliar essas duas verdades.
O som da porta do quarto se abriu, e Isabella não precisou olhar para saber quem era. Ricardo havia aparecido em seu caminho mais uma vez. Ela sentiu uma pontada de frustração. Não queria vê-lo, não agora, mas ele não podia simplesmente desaparecer de sua vida. Ele sabia demais sobre ela, sobre sua história, e tinha um controle sobre ela que Isabella não podia ignorar.
— Isabella, eu sei que você precisa de espaço. Eu sei que o que te disse foi pesado, mas precisamos conversar — a voz de Ricardo estava calma, mas havia uma tensão que a tornava carregada. Ele sabia que ela estava em uma encruzilhada, e ele temia que ela pudesse se afastar de tudo o que ele havia feito por ela.
Ela não respondeu de imediato, apenas permaneceu em silêncio, ainda olhando pela janela. Não queria encará-lo agora. Sabia que qualquer palavra, qualquer gesto, poderia arruinar o pouco de controle que ela ainda tinha sobre si mesma.
Ricardo se aproximou lentamente, hesitando como se estivesse procurando uma forma de fazer as palavras certas. Ele não sabia como reparar o que havia quebrado, mas precisava tentar.
— Eu te salvei. Não porque queria me impor a você, mas porque não podia deixar você cair nas mãos de pessoas como aquelas. Você tinha uma vida pela frente, Isabella, e eu… Eu te amo de um jeito que não sei explicar, e por isso, eu fiz o que fiz.
Isabella virou-se de repente, seu rosto marcado pela dor e pela raiva. Seus olhos estavam injetados de lágrimas, mas ela as segurava, como se a dor fosse um veneno que ela não pudesse liberar.
— E qual é a sua definição de "amor", Ricardo? Você me trancou em casa, me tratou como uma prisioneira! Eu sou sua prisioneira, não a mulher que você diz amar! — A voz dela estava alta, quase gritando, e o peito parecia prestes a explodir. — Você acha que o que fez foi certo? Me manter sob controle, me privar da minha liberdade, dizendo que tudo isso foi por amor? Por quê você não me deixou escolher, escolher o que eu quero para mim?
Ricardo deu um passo atrás, o impacto das palavras de Isabella o atingindo como uma lâmina afiada. Ele sabia que ela tinha razão. Ele tinha cruzado uma linha, uma linha que talvez nunca pudesse ser ultrapassada. Mas ele não sabia como corrigir tudo o que havia feito.
— Eu fiz o que achei que fosse melhor para você. — Ele falou com um tom grave, mais frágil do que Isabella esperava. — Eu queria te proteger. Eu queria que você tivesse uma chance de ser feliz. Não sabia o que mais fazer. Mas agora vejo que você precisa de mais do que proteção. Precisa de liberdade.
Isabella sentiu o peso daquelas palavras, mas a raiva ainda queimava dentro dela. Ela não podia deixar que isso ficasse assim. Ela precisava de um propósito, precisava de algo que a libertasse, que a fizesse sentir que ela tinha o controle sobre sua própria vida.
Ela respirou fundo, secando uma lágrima que escapou sem que ela percebesse. A dor ainda estava lá, mas ela não seria mais uma vítima. Não seria mais uma mercadoria para ser trocada.
— Eu não sei o que fazer com você agora, Ricardo. Eu não sei se algum dia poderei confiar em você novamente. — Isabella falou, com a voz mais calma, mas ainda cheia de dor. — Mas, uma coisa eu sei: eu vou viver por mim mesma. Eu vou descobrir o que aconteceu com minha mãe, e se eu tiver que enfrentar você para isso, eu enfrentarei.
Ricardo a observou em silêncio. Ele sabia que ela estava tomando uma decisão difícil, talvez a mais difícil da vida dela. Ele não tinha mais nada a dizer. Sabia que a partir daquele momento, Isabella teria que decidir sozinha qual caminho seguir.
Isabella se afastou de Ricardo, indo em direção à porta. Ela olhou para ele uma última vez, com a certeza de que estava saindo para nunca mais voltar para o lugar onde estivera antes.
— Eu vou encontrar a minha verdade, Ricardo. E só então, poderei entender quem você realmente é.
Com essas palavras, ela saiu, deixando para trás tudo o que a havia prendido até aquele momento. Agora, Isabella estava livre para decidir seu próprio destino, e ela sabia que a jornada que começava seria cheia de desafios, mas ela estava pronta para enfrentá-los.
A tempestade lá fora continuava a cair, mas, finalmente, Isabella sentia que a chuva, por mais intensa que fosse, não poderia mais apagar a força que ela havia encontrado dentro de si mesma.
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Atualizado até capítulo 100
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