Isabella sentia-se como se estivesse presa em um pesadelo, onde as peças do quebra-cabeça de sua vida nunca se encaixavam de forma lógica, e tudo o que ela acreditava ser verdade se desmoronava diante dela. A descoberta das fotos e documentos tinha sido apenas a ponta do iceberg. O que estava por trás daquelas palavras parecia mais aterrador do que qualquer coisa que ela já tivesse imaginado.
Ela sentou-se à mesa, ainda com o envelope aberto diante de si. As palavras dançavam diante de seus olhos, mas havia uma parte de sua mente que se recusava a aceitar o que lia. Como sua mãe poderia estar envolvida em algo tão sombrio, em algo tão cruel? Como ela podia ter chegado a esse ponto de desespero?
Ricardo, de pé ao lado da mesa, parecia esperar pela reação de Isabella, como se soubesse que ela ainda estava lutando contra o impacto da verdade que estava diante dela. Ele estava mais calmo agora, mas seus olhos não podiam esconder o peso do que ele estava prestes a revelar.
— Você nunca soube o que aconteceu com sua mãe, Isabella — ele começou, a voz suave, quase triste. — Você sempre viu a imagem dela como uma mulher forte, mas a verdade é que ela estava completamente perdida. Viciada em drogas. Ela se afundou nesse mundo e tentou usar você como uma moeda de troca.
Isabella sentiu como se o chão sumisse sob seus pés. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Sua mãe, aquela mulher que ela sempre idealizou, que ela acreditava ser uma vítima da própria circunstância, agora estava sendo retratada como alguém que havia se afundado em um abismo tão profundo.
Ricardo continuou, sem pressa, como se estivesse revelando um segredo de décadas.
— Ela entrou em um acordo com a máfia rival, tentando vender você, Isabella. Foi ela quem te entregou. — Ele fez uma pausa, observando a reação de Isabella, sabendo que aquelas palavras eram como facas afiadas perfurando seu coração. — Ela queria dinheiro, e você era tudo o que ela tinha para negociar. Não sei o que ela pensava, mas ela achava que poderia sair disso de alguma forma.
As palavras ecoaram na mente de Isabella, mas ela não conseguiu falar. O vazio no seu peito era grande demais, e sua visão estava turva. Ela sempre soubera que sua mãe tinha seus demônios, mas vender a própria filha? A ideia de ser apenas uma mercadoria, algo que sua mãe considerava um objeto de troca, a desintegrou por dentro.
Ricardo foi até ela, colocando uma mão no ombro de Isabella, um gesto de controle disfarçado de conforto.
— Ela tentou vender você para a máfia rival, Isabella. A mesma que eu tento manter sob controle. Eu recebi prints dela negociando a sua entrega, e o pior de tudo é que ela estava tendo um caso com um dos empresários dessa máfia. Uma traição. E foi essa traição que a matou.
Isabella sentiu um nó na garganta, quase incapaz de processar tudo o que estava ouvindo. Sua mãe, a mulher que ela sempre imaginou como uma vítima, não era uma santa. Ela tinha feito escolhas, escolhas cruéis que a levaram para aquele fim trágico. Não havia como escapar da realidade que se impunha diante dela.
Ricardo deu um passo atrás, observando Isabella de perto. Ela parecia uma versão mais frágil de si mesma, e ele sabia que ela estava tentando digerir a verdade. Sabia que ele precisava ir além, que não podia deixá-la se perder na dor da revelação.
— Você lembra do dia que desmaiou na rua? — Ele perguntou, sua voz mais grave, como se aquilo fosse a chave final para desvendar o restante da história. Isabella olhou para ele, surpresa, sem entender o que ele estava sugerindo. — Você estava prestes a ser entregue a um leilão da máfia, Isabella. Eles realizam leilões de virgindade. Era isso que ia acontecer com você naquele dia. Você não lembra, mas eu te resgatei. Eu fui eu quem te tirou de lá antes que algo acontecesse.
O que Ricardo disse parecia surreal. Isabella não lembrava de nada daquele dia. Havia uma lacuna em sua memória, algo apagado, como se seu cérebro tivesse decidido bloquear aquele momento para proteger sua sanidade. Mas as palavras de Ricardo tinham uma verdade amarga que se alastrava por dentro.
— Eu te levei de volta para casa, Isabella. Você estava inconsciente, caída na rua, prestes a ser levada para aquele leilão de horrores. Eles fariam de você um objeto, como fizeram com tantas outras jovens. Mas eu te salvei, e depois disso, te mantive segura. Você nunca soube o que aconteceu, mas eu sabia que tinha que te proteger a todo custo.
Isabella ficou em silêncio, seu corpo paralisado pela dor da revelação. As lágrimas começavam a se formar, mas ela as reprimia, tentando manter o controle. A dor da perda de sua mãe tinha se transformado em uma dor ainda maior: o fato de que ela, por um momento, havia sido uma mercadoria, um objeto a ser negociado, e que sua mãe havia sido a responsável por isso.
— Mas você nunca me contou... — Isabella sussurrou, a voz quebrando. — Nunca me disse o que realmente aconteceu.
Ricardo a olhou com uma expressão de pesar, mas também com um toque de raiva contida.
— Não é fácil falar sobre isso, Isabella. Eu tinha que te proteger, mas você nunca poderia saber o quanto foi sujo tudo isso. Você não tinha idade para entender. Eu sabia que você precisava de uma chance de ter uma vida normal, longe de tudo isso. — Ele fez uma pausa, o olhar sombrio. — E agora, a verdade está aí. Você pode odiar o que sou, mas eu te salvei, e foi por você que eu fiz tudo isso.
O silêncio que se seguiu era pesado. Isabella sentia que estava prestes a explodir, com tantas emoções conflitantes dentro de si. A raiva, a dor, a tristeza, tudo se misturava, e ela não sabia como lidar com aquilo.
— Então, tudo o que você fez foi por mim? — Isabella perguntou, a voz tremendo. — Mesmo me controlando, me tratando como uma prisioneira? Você me salvou para me manter aprisionada?
Ricardo hesitou antes de responder, e a resposta que ele deu foi mais fria do que Isabella esperava.
— Não foi para te aprisionar. Foi para te manter viva.
Isabella o encarou, mas não disse mais nada. As palavras de Ricardo a atingiram como um golpe, e ela se afastou, sem saber o que mais poderia ser dito. Ele sabia, e ela sabia que nada jamais seria como antes.
Ela virou-se e foi em direção à porta, sentindo que mais uma parte de sua alma se quebrava. Tudo o que ela conhecia, tudo o que ela acreditava, estava se desmoronando diante dela. Mas havia uma coisa que ela sabia: ela agora tinha o poder da verdade. E, com isso, ela estava disposta a lutar por sua liberdade, a lutar por sua própria vida.
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Atualizado até capítulo 100
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