O dia seguinte amanheceu com uma calmaria inquietante. O céu estava limpo, mas algo no ar parecia pesado, como se a tensão acumulada durante a noite tivesse ficado presa nas paredes da casa. Isabella estava no seu quarto, ainda com as palavras de Cláudia e a revelação da noite anterior reverberando em sua mente. Ela não sabia exatamente o que iria encontrar na casa de Ricardo, mas algo lhe dizia que estava mais próxima da verdade do que jamais imaginou.
Ela estava sentada na beirada da cama quando a porta se abriu, e Ricardo entrou. Ele estava diferente — mais calmo, mas com algo nos olhos que Isabella não conseguia decifrar. Ele segurava uma sacola grande, com vários pacotes.
— Isabella, precisamos conversar — disse ele, com uma voz suave que ela não reconheceu.
Isabella olhou-o com desconfiança, cruzando os braços sobre o peito.
— O que você tem a dizer agora? — perguntou, a voz carregada de ceticismo.
Ele caminhou até ela e colocou os pacotes sobre a cama. Isabella ficou em silêncio, observando-o enquanto ele começava a desembrulhar os presentes. Havia perfumes caros, roupas de grife, bijuterias e uma caixa de música delicadamente trabalhada. Tudo parecia pensado para impressioná-la, para aliviar a dor que, ele sabia, estava em seu coração.
— Eu sei que as coisas têm sido difíceis entre nós — começou Ricardo, com uma sinceridade forçada. — Mas eu comprei isso para você, Isabella. Quero que saiba que, apesar de tudo, eu me importo.
Isabella olhou para os presentes, mas o gesto dele não tocava seu coração. Não importava o quanto ele tentasse se redimir com objetos caros e palavras doces, ela não conseguia esquecer as mentiras, a dor e os segredos. Ela sentiu o peso de sua raiva crescendo a cada momento.
Ricardo continuou, como se tentando fazer com que ela perdoasse o impossível.
— Eu sei que você quer justiça, mas o passado não vai mudar. Você precisa deixar isso para trás. Eu já me culpo o suficiente por tudo o que aconteceu. Não precisa torturar mais a mim nem a você. Eu sei que você está magoada, mas já estou pagando o preço por tudo. Acredite.
As palavras dele a atingiram, mas não da maneira que ele esperava. Isabella não conseguia acreditar em sua falsa compaixão. Ele ainda estava tentando manipulá-la, convencê-la a deixar tudo para lá. Mas ela não queria esquecer. Nunca. E seu silêncio era mais pesado que qualquer palavra que ele pudesse dizer.
— Eu não vou esquecer. Não até saber toda a verdade — ela disse, sua voz baixa, mas cheia de firmeza.
Ricardo suspirou e fechou os olhos por um momento, como se estivesse tentando reunir forças. Ele então se aproximou dela, colocando as mãos sobre os ombros dela, e falou com uma voz baixa, mas carregada de ameaças implícitas:
— Você vai pagar o preço por tudo o que fizeram à sua mãe, Isabella. Eu prometo.
Isabella se afastou, sem dizer mais nada. A conversa estava acabada, mas ele já havia plantado mais dúvidas e mais rancor em seu coração. Ela não estava disposta a perdoá-lo. A verdade ainda estava fora de alcance, mas ela sabia que estava mais perto do que nunca.
Sem dizer mais uma palavra, Isabella se virou e foi até o seu quarto, deixando Ricardo ali, sozinho com os presentes que ele achava que iriam comprá-la. Ela não se importava com os objetos, não agora. O que importava era a verdade, e ela sabia que não poderia confiar nele.
No seu quarto, ela pegou o celular e viu que tinha uma mensagem. Era de sua amiga, Larissa.
*“Oi, Isabella! Está afim de ir à festa na casa do Gabriel hoje à noite? Vai ser demais! Vai ser uma ótima chance de se divertir. Me avisa se for!”*
Isabella olhou para a tela por um momento, e algo despertou nela. A raiva, a frustração… Ela precisava sair, precisava escapar de tudo. E aquela festa parecia ser a fuga perfeita. Ela queria se esquecer por algumas horas, se perder em algo que não tivesse a ver com Ricardo, com mentiras ou com o passado.
Ela começou a se arrumar. O vestido justo que escolheu realçava suas curvas de uma maneira que, mesmo sem intenção, era provocante. Sandálias de salto alto, maquiagem forte, e o perfume que sua mãe usava, que sempre a fazia sentir-se mais confiante. Ela se olhou no espelho e, por um momento, quase acreditou na imagem de si mesma que via refletida. Isabella estava se tornando alguém que ninguém mais poderia controlar.
Enquanto ela terminava de se arrumar, ouviu a porta da sala abrir e os passos de Ricardo ecoarem pelo corredor. Ele parou na porta do seu quarto, observando-a, os olhos fixos nela com um olhar que ela não conseguia entender.
— Você não vai sair com essa roupa — disse ele, a voz cheia de autoridade.
Isabella virou-se para ele, surpresa com a reação.
— Como assim? — perguntou, desafiadora.
Ricardo avançou, seu rosto vermelho de raiva. Ele a pegou pelo braço, forçando-a a olhar para ele.
— Você não vai sair assim. Qualquer homem que te veja com essa roupa vai querer fazer qualquer coisa com você!
Isabella olhou-o nos olhos, sentindo uma mistura de raiva e incredulidade. Ela se soltou com um puxão brusco, encarando-o com fúria.
— E você, Ricardo? O que você acha? Até você, que é meu padrasto, vai querer fazer o que com isso? — perguntou, a voz cheia de sarcasmo e dor.
Ricardo parecia estar à beira de perder o controle. Ele deu um passo para trás, respirando pesadamente, mas ainda tentando se manter firme.
— Não é assim que as coisas funcionam, Isabella. Eu sou responsável por você. E você está me desafiando de uma maneira que não vai acabar bem.
Isabella não se intimidou. A dor, a frustração e a raiva que sentia a tornaram mais forte. Ela deu um passo à frente, enfrentando-o.
— Você não é mais meu pai, Ricardo. E eu não vou mais te deixar controlar minha vida. Vou sair, e você não pode me impedir.
O silêncio entre eles era carregado de tensão. Ricardo não disse mais nada. Ele apenas a observou com um olhar que Isabella não conseguiu decifrar, mas que parecia misturar raiva e algo mais. Talvez medo.
Ela pegou a bolsa, deu-lhe um último olhar e, sem mais palavras, saiu pela porta, decidida a enfrentar as consequências de sua escolha. Ela sabia que a verdade não estava mais longe. E, naquela noite, nada a impediria de buscar o que precisava para finalmente entender tudo.
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Atualizado até capítulo 100
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