O silêncio dentro da casa parecia ensurdecedor. Isabella estava sentada no sofá da sala, o olhar fixo no vazio, tentando processar tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Ela sentia uma mistura de alívio e medo. Alívio por finalmente estar livre de um passado que a aprisionava, mas também medo do desconhecido, da vida que agora se abria diante dela, sem o controle de Ricardo sobre ela.
Foi então que Ricardo apareceu na porta da sala, seu rosto sombrio e calmo, como se estivesse fazendo o que considerava ser o último ato de bondade. Ele não estava mais com aquele olhar possessivo de antes, mas sim com um semblante de alguém que sabia que precisava dar um último passo para garantir que Isabella estivesse bem, mesmo que isso significasse deixá-la seguir seu caminho.
— Olha, Isabella, eu vou me mudar — disse Ricardo, a voz firme, mas com uma suavidade que ela não conseguia identificar. — Eu sei que você precisa de espaço, de tempo para encontrar seu próprio caminho. Mas eu não posso te deixar ir sem garantir que você tenha o que precisa. Não vou te controlar, mas, pelo menos, vou te dar uma base para começar.
Isabella o olhou, desconfiada, ainda tentando compreender o que ele estava fazendo. Mas, antes que pudesse responder, Ricardo já estava entregando algo a ela: um cartão de crédito.
— Tome — disse ele, colocando o cartão na mesa à sua frente. — Tem 300 mil reais nele. Vai ser o suficiente para você pagar suas contas, para começar a cuidar da sua vida. Eu vou deixar dois seguranças na sua casa, por sua segurança. E também vou deixar a Claudia com você. Ela vai te ajudar, caso precise de algo.
Ricardo fez uma pausa, e Isabella sentiu uma estranha sensação de impotência. A oferta dele parecia generosa, mas ao mesmo tempo, era mais uma tentativa de controlá-la, de se assegurar de que ela estivesse segura, mas sem realmente estar presente. Ela sabia que isso era o máximo que ele poderia oferecer, mas ainda assim, não podia deixar de sentir que ele estava tentando manter uma conexão, mesmo que fosse apenas financeira.
— Não vou te controlar, Isabella — ele repetiu, agora com um tom mais suave, quase como uma súplica silenciosa. — Só se cuida. Eu não quero que você se machuque. Você tem o meu número. Pode me ligar se precisar de alguma coisa. Mas, agora, você precisa viver sua própria vida.
Isabella olhou para o cartão, a quantia de dinheiro que ele estava oferecendo era absurda, algo que ela nunca imaginou ter. Mas, ao mesmo tempo, ela não podia esquecer de tudo o que ele havia feito, da maneira como ele havia manipulado suas decisões até agora. Era uma oferta tentadora, mas ela sabia que precisaria de muito mais do que dinheiro para construir uma vida nova.
Ela olhou para Ricardo, e seus olhos, antes carregados de raiva e dor, agora estavam mais calmos, mas ainda confusos.
— Eu não sei se posso aceitar isso — ela disse, com um olhar distante. — Não sei o que isso significa. Tudo o que você fez por mim até agora, tudo isso, me fez sentir como se eu fosse uma pessoa que você controlava. E eu não posso viver assim.
Ricardo suspirou, entendendo suas palavras, mas também sabendo que nada mais poderia ser dito entre eles. Ele já havia feito sua parte, ou pelo menos acreditava que sim. Ele não sabia o que mais podia oferecer, mas ele sabia que era hora de se afastar, de dar-lhe espaço para viver sua vida.
— Eu sei, Isabella — respondeu ele, com um olhar sincero. — E é por isso que estou te deixando ir. Eu te dei tudo o que podia. O resto é com você. Mas, por favor, apenas se cuide. O mundo não é fácil, e eu sei que você pode ser forte. Você tem mais força do que imagina.
Isabella permaneceu em silêncio, olhando para o cartão e depois para ele. Ela sabia que ele estava fazendo isso por uma razão. Ele estava tentando garantir que ela estivesse segura, mas, ao mesmo tempo, ele estava tentando manter uma linha tênue de controle sobre ela, como se a liberdade dele fosse um reflexo do controle que ele ainda tinha.
— Eu não vou precisar disso, Ricardo. Não da maneira que você pensa — disse ela, finalmente, se levantando e indo até a porta. — Eu vou viver minha vida, da minha maneira. E você... você vai seguir com a sua.
Ele a observou, silencioso, sem dizer mais nada. Ela se virou para ele mais uma vez, e um sorriso tímido surgiu em seus lábios.
— Obrigada por me salvar, mas agora é hora de eu me salvar sozinha.
Ricardo a observou sair pela porta, sentindo um peso em seu peito, sabendo que, apesar de tudo, ela ainda se afastava. Ele não sabia o que o futuro reservava para ela, mas a única coisa que ele poderia fazer agora era esperar e, talvez, no fundo, torcer para que ela encontrasse a paz que merecia.
Com um último olhar para o vazio da casa, Ricardo pegou sua mala e se virou para a porta, pronto para seguir seu próprio caminho. Ele sabia que a vida deles tinha tomado rumos diferentes, mas uma parte dele ainda se perguntava se, algum dia, ela voltaria a precisar dele.
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Atualizado até capítulo 100
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