A música alta pulsava na festa, uma batida eletrônica que reverberava pelas paredes da casa de Gabriel. Isabella entrou sem fazer muito alarde, deixando a porta se fechar atrás de si. A iluminação baixa e as cores vibrantes das luzes misturavam-se, criando uma atmosfera carregada de energia. Tudo ali parecia ser uma fuga do que ela deixara para trás, mas a verdade a atormentava, mesmo em meio ao barulho e à distração.
Ela circulou pela sala, tentando se perder na multidão. Seus olhos procuravam algo — ou alguém — que a tirasse daquele turbilhão de emoções que a consumia. Ela se sentia como uma ilha, cercada por pessoas que não compreendiam o que ela estava passando, mas ainda assim era uma ilha que queria afundar.
"Esqueça um pouco, Isabella. Só por uma noite", ela pensou, tentando se convencer a se soltar.
Larissa a encontrou logo, puxando-a para o meio da pista de dança. Elas dançaram juntas, mas a mente de Isabella estava longe, voltando à discussão com Ricardo, ao diário de sua mãe, às palavras de Cláudia, e ao rosto de Ricardo quando ele prometeu pagar o preço pela morte de Laura.
A noite estava cheia de sons e cores, mas, para Isabella, tudo parecia uma névoa. Ela queria sentir algo além da dor, e talvez aquele momento fosse a melhor maneira de escapar. Talvez.
Ela foi para o bar, pedindo uma bebida forte. Larissa estava ocupada conversando com alguns amigos, então Isabella ficou sozinha por um instante, observando as pessoas ao seu redor. Ela sentia os olhares sobre ela, mas dessa vez não se importava. Não mais. Se alguém queria olhar, que olhasse. Ela estava cansada de ser a boa menina.
Quando ela virou para pegar mais uma dose, uma figura conhecida se aproximou. Era Gabriel, o dono da festa e amigo de longa data. Ele sorriu de forma maliciosa, e Isabella se sentiu desconfortável imediatamente.
— Ei, Isabella. Parece que você está se divertindo. — Ele disse, o olhar atrevido.
— Só tentando me esquecer de algumas coisas — Isabella respondeu, forçando um sorriso.
Gabriel riu, com uma expressão que misturava diversão e curiosidade.
— Não parece que você está se divertindo muito. Eu posso te ajudar a se soltar mais — ele sugeriu, tocando levemente o braço dela.
Isabella deu um passo para trás, sentindo o desconforto aumentar. Ela estava lá para escapar, não para se envolver com mais confusão.
— Acho que vou passar um tempo sozinha — ela disse, tentando manter a distância.
Mas Gabriel não parecia disposto a deixar ela escapar tão facilmente. Ele deu um passo à frente, seus olhos fixos nela, tentando disfarçar um sorriso.
— Você sempre tão séria, Isabella. Não precisa ser assim. Deixe a diversão te encontrar.
Isabella sentiu a raiva borbulhar dentro de si. Ela não estava lá para brincar, não estava lá para que ele fizesse dela mais um troféu. Ela estava ali por sua própria razão, e não para agradar ninguém. Tentou sair da situação com um sorriso forçado, mas Gabriel a agarrou pelo braço.
— Eu não acho que você entendeu. Não dá para escapar de tudo o que está acontecendo dentro de você. Deixe-se levar.
A pressão aumentou. Ela sentiu que estava sendo engolida pela manipulação, a mesma que sentiu tantas vezes com Ricardo. E então, como uma explosão de adrenalina, Isabella virou-se para ele, liberando tudo o que estava reprimido.
— Eu não preciso de você, Gabriel! Não preciso de ninguém! Não vou deixar ninguém me controlar mais! — Sua voz estava alta, cortante, como se as palavras finalmente estivessem se libertando.
A reação dele foi instantânea, e ele soltou seu braço, surpreso com a força que ela havia mostrado. Isabella sentiu uma onda de alívio, como se aquele grito tivesse finalmente afastado toda a pressão que se acumulava dentro de si. Ela respirou fundo, olhando para ele com um olhar desafiador.
Gabriel a observou, sem saber como reagir. Ele não esperava essa explosão. As palavras dela ficaram no ar, e ninguém mais se atreveu a se aproximar.
Mas, então, de repente, algo a fez parar. Ela percebeu que estava sendo observada. Não apenas por Gabriel, mas por outro homem na sala. A figura de Ricardo, em um canto da festa, seus olhos fixos nela. Ele estava parado, quase imóvel, como se esperasse por algo.
Isabella sentiu um nó na garganta. Como ele havia encontrado ela ali? A última coisa que queria era estar na mesma sala que ele, mas o olhar de Ricardo a fez sentir uma mistura de medo e raiva. Ele não tinha o direito de estar ali, não depois de tudo o que havia feito.
Ricardo, ao vê-la, deu um passo à frente, os olhos cintilando com uma mistura de culpa e uma raiva reprimida. Ele se aproximou rapidamente.
— Isabella, o que você está fazendo aqui? — ele perguntou, a voz baixa, mas com uma autoridade que fez as pessoas ao redor se silenciarem.
Ela o encarou com a mesma intensidade, não se intimidando. Ela estava cansada de ceder.
— E você, Ricardo? O que faz aqui? — ela respondeu, seu tom desafiador, mais forte do que nunca.
A tensão entre os dois se tornou palpável, e as pessoas ao redor começaram a perceber a troca de palavras. Isabella não sabia o que ele queria, mas tinha certeza de que estava disposto a fazer qualquer coisa para recuperar o controle.
— Não vale a pena tentar me controlar. Você não manda mais em mim — Isabella disse, virando-se para sair da conversa.
Mas Ricardo a agarrou pelo braço com força, puxando-a de volta.
— Eu avisei. Você não pode fazer o que quiser, Isabella. Você não sabe no que está se metendo! — ele disse, com a voz tremendo de raiva.
Ela olhou diretamente em seus olhos.
— Talvez eu saiba muito mais do que você pensa.
Antes que a discussão pudesse continuar, Isabella puxou o braço com força, libertando-se da prisão dele. Com a adrenalina ainda correndo nas veias, ela sentiu que não poderia mais ficar ali. A festa, a pressão, o medo… tudo estava demais para ela.
Ela deu as costas e caminhou em direção à porta, sentindo o olhar de Ricardo nas suas costas. Mas ela não se importava mais. Nada mais importava além de sua própria busca pela verdade. E a festa, com seus disfarces e mentiras, estava longe de ser a resposta.
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Atualizado até capítulo 100
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