O fim de um vínculo.

Assim que Zetho pisou seus pés junto com Gorga na aldeia dos orcs, a humilhação começou. Eles foram alvejados com todos os tipos de frutas, legumes e verduras apodrecidas que haviam no local. Alguns dos orcs jogaram ovos apodrecidos e até lama e pode-se dizer que alguns deles tiveram a capacidade de jogar até mesmo estrume e outros tipos de fezes.

Apesar da humilhação, Zetho manteve sua compostura, diferente de Gorga que não parava de chorar. De repente, no meio da multidão, alguém resolveu lançar uma pedra na direção de Gorga, mas Zetho aparou a pedra com a sua mão antes que atingisse Gorga na cabeça.

A multidão que antes estava animada e explosiva com a situação, acabou hesitando quando viram o olhar desafiador de Zetho enquanto ele ainda mantinha a pedra em sua mão. Foi como se o tempo parasse e os orcs ali ficaram olhando uns para os outros sem entender porque haviam parado com a humilhação pública.

A rainha Korga saiu do meio da multidão e pegou a pedra na mão de Zetho enquanto o olhava nos olhos.

“Você disse que participaria do ritual,” disse a rainha dos orcs. “Porque está lançando um desafio com seu olhar a quem lançou a pedra?”

“Estou apenas protegendo Gorga,” disse Zetho. “Ela já está passando por humilhação suficiente. Não posso deixar que a machuquem ainda mais”.

A rainha Korga se afastou e gritou: “Continuem com a humilhação, mas sem pedras!”

Assim como disse a rainha, a humilhação voltou a acontecer até que Zetho e Gorga atravessassem todo o vilarejo. Assim que atravessaram, o corpo da jovem orc estava coberto por todos os tipos de viscosidades e sujeiras, assim como o corpo de Zetho.

Na porta do vilarejo, a rainha orc olhou para Zetho e Gorga dos pés à cabeça.

“O ritual acabou,” disse a rainha Korga. “Gorga, você está livre para ir com esse verme amaldiçoado, e que os deuses tenham misericórdia de você”.

Gorga com sua cabeça baixa apenas deu as costas para sua antiga tribo e seguiu com Zetho. Gorga e Zetho se afastaram da multidão e se dirigiram para um rio próximo, onde puderam se limpar da sujeira e das viscosidades que os cobriam. Gorga estava emocionada e chorava enquanto se lavava, enquanto Zetho a observava com uma expressão de compaixão e apoio.

"Está tudo bem, Gorga", disse Zetho, enquanto se aproximava dela. "Você passou por isso. Você é forte e corajosa."

Gorga olhou para Zetho com os olhos vermelhos e disse: "Eu não sou corajosa, Zetho. Eu sou uma covarde. Eu abandonei minha tribo e minha família."

Zetho balançou a cabeça e disse: "Você não é uma covarde, Gorga. Você é uma sobrevivente. Você fez o que precisava fazer para proteger os seus ideais… Você não é como eles."

Gorga olhou para Zetho com uma expressão de gratidão e disse: "Obrigada, Zetho. Você é o único que me entende."

Zetho sorriu, mas com um tom de tristeza disse: "No fim, só estou retribuindo, afinal de contas… Você também me entende."

Gorga ficou corada pela primeira vez em muito tempo. Ela sentiu uma pontada em seu peito e um frio na barriga. Gorga olhou nos olhos de Zetho e permaneceu em silêncio sem conseguir sequer dizer uma única palavra, como se os olhos de Zetho tivessem algum tipo de magia de hipnose.

Zetho também ficou em silêncio, observando Gorga com uma expressão de ternura e compreensão. O ar entre eles parecia estar carregado de uma energia especial, como se o tempo tivesse parado novamente.

Depois de um momento que parecia eterno, Gorga finalmente conseguiu quebrar o silêncio. Ela desviou os olhos, corando ainda mais, e disse: "Zetho… Estamos nus um na frente do outro, certo?” Disse enquanto cobria sua nudez com as mãos.

Zetho sorriu levemente e disse: "Sim, estamos. Mas não precisa se preocupar, Gorga. Eu não estou olhando para você dessa forma."

Gorga olhou para Zetho com uma expressão de surpresa e disse: "Você não está? Mas... por quê?"

Zetho deu de ombros e disse: "Porque eu vejo você como uma pessoa, Gorga. Não como um corpo. E além disso, você está coberta de lama e sujeira. Não é exatamente o momento mais atraente para olhar para você dessa forma."

Gorga riu levemente, sentindo-se um pouco mais à vontade, e disse: "Eu acho que você tem razão, mas você também está nas mesmas condições, não se esqueça”.

Zetho sorriu novamente e disse: "Talvez um pouco, mas… Foi tudo por uma boa causa."

Ainda sim, Zetho virou-se de costas para Gorga.

Gorga olhou para Zetho com uma expressão de gratidão e disse: "Obrigada, Zetho. Você é muito gentil comigo.”

Os dois continuaram se banhando no rio até que saísse toda a sujeira de seus corpos.

“ Eu lhes trouxe as suas roupas,” disse a rainha dos orcs surgindo de trás de algumas árvores.Ela jogou as roupas de Zetho e Gorga no chão próximo a margem do rio.

Gorga e Zetho se entreolharam, surpresos com a aparição da rainha Korga. Eles se aproximaram das roupas e começaram a se vestir, ainda um pouco desconfortáveis com a presença da rainha.

A rainha Korga os observou com uma expressão neutra e disse: "Eu trouxe suas roupas, mas também vim para lhe dar um aviso, Gorga. Você não é mais uma orc, e não é mais bem-vinda aqui. Se você voltar, será como uma estranha, e será tratada como tal."

Gorga olhou para a rainha Korga com uma expressão de tristeza e disse: "Eu entendo, mãe... rainha Korga."

A rainha Korga olhou para Gorga com uma expressão de dor e disse: "Eu sinto que perdi uma filha, Gorga. Mas eu também sei que você fez o que precisava fazer. Eu apenas espero que você encontre o que está procurando."

Zetho se aproximou de Gorga e colocou uma mão em seu ombro, oferecendo-lhe apoio e conforto. Gorga olhou para ele e sorriu levemente, sentindo-se grata por sua presença.

A rainha Korga olhou para Zetho e disse: "Eu não sei o que você é, Zetho, mas eu sei que você é importante para Gorga. Cuide dela, e proteja-a."

E com isso, a rainha Korga se virou e desapareceu na floresta, deixando Gorga e Zetho sozinhos novamente.

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