Ayla estava na aula, mas sua mente vagava longe dali. Seus pensamentos giravam em torno do que havia acontecido mais cedo, e por mais que tentasse se concentrar, não conseguia afastar aquela sensação incômoda. Sua casa ficava perto da faculdade, onde cursava Psicologia. Talvez, no fundo, essa escolha tivesse um propósito maior—talvez entender seu próprio dom fosse a resposta que tanto buscava.
No dia seguinte, voltou ao trabalho e decidiu simplesmente ignorar o ocorrido. Fingir que nada tinha acontecido parecia a melhor opção. No entanto, mais uma vez, sentiu o olhar intenso de Jake sobre ela. Ele a encarava como se fosse uma presa, e isso fez um arrepio percorrer sua espinha.
Ayla respirou fundo e continuou seu trabalho, tentando ignorá-lo. Foi então que uma de suas colegas se aproximou com um sorriso animado.
— Oi! Eu sou a Lilly. Prazer em conhecê-la! — disse, entusiasmada.
Ayla sorriu, surpresa.
— Ah, oi! Eu sou a Ayla.
Era a primeira vez que alguém puxava conversa com ela ali, e isso a fez se sentir acolhida.
De repente, Lilly olhou para Jake e revirou os olhos antes de soltar, sem hesitação:
— Jake, pare de encarar a garota como se ela fosse uma de suas presas.
Ayla arregalou os olhos, surpresa com a atitude espontânea de Lilly.
Jake apenas deu de ombros, mas Lilly riu e explicou:
— Desculpa, mas aquele ali é meu irmão. Não ligue para ele, ele sempre foi assim.
Ayla piscou algumas vezes, assimilando a informação. Irmãos? Isso explicava a liberdade com que Lilly falava com ele.
Forçando um sorriso, respondeu:
— Haha, tudo bem, eu não me importo... Já passei por coisas bem piores.
Por fora, sua expressão era tranquila, mas, por dentro, sentiu como se aquela simples frase tivesse perfurado seu peito.
Ayla apenas sorriu, tentando disfarçar o que realmente sentia.
— Ayla, você quer ser minha amiga? — perguntou, sem rodeios.
Antes que Ayla pudesse responder, uma voz aguda gritou da cozinha:
— Cuidado, Ayla, ela é maluca!
— Cala a boca, Cléo! — rebateu Lilly, rindo.
Ayla observou a troca sem entender muito bem o que estava acontecendo, mas apenas sorriu, entrando no clima.
— Enfim, vou deixar você trabalhar e voltar para o meu posto — disse Lilly, despedindo-se. Mas, antes de sair, acrescentou animada: — Ah, mais tarde vai ter uma festa! Você não quer ir com a gente?
Ayla hesitou.
— Bom, eu não sei... Ainda não conheço muito bem a cidade e preciso estudar.
— Dá pra estudar depois! Vamos, vai ser divertido! — insistiu Lilly, empolgada.
Ayla suspirou.
— Tá bem, eu vou...
— Ótimo! Mais tarde te passo o endereço. Aliás, eu não tenho seu número! — disse Lilly, estendendo a mão.
Ayla riu.
— A gente acabou de se conhecer, né? Kkk.
Lilly riu junto.
— Verdade! Mas já gostei de você, você é das minhas!
Sorrindo, Ayla pegou um papel que estava por perto, anotou seu número e entregou a Lilly.
As horas passaram rápido, e Ayla foi para casa se arrumar. Olhando para o guarda-roupa, hesitou antes de pegar um vestido colado que nunca havia usado. Foi um presente de sua mãe, mas sempre pareceu demais para ela. Naquela noite, porém, resolveu se permitir.
Ao chegar à festa, seus olhos logo encontraram Lilly, que acenou animada.
— Ayla, aqui!
Ela se aproximou, e Lilly apontou para o grupo ao seu redor.
— Esses são meus amigos: Fernando, Jessy, Ash, Noah… E o Jake, bom, esse você já conhece.
Ayla lançou um olhar discreto para Jake, mas fingiu não notar sua presença.
— Oi, pessoal! É um prazer conhecer vocês. Eu sou Ayla, me mudei recentemente pra cá.
O grupo sorriu em resposta, e, pela primeira vez em muito tempo, Ayla sentiu que talvez pudesse pertencer a algum lugar.
A música alta vibrava pelo chão, e as luzes coloridas piscavam, criando um ambiente envolvente. Ayla olhou ao redor, absorvendo a energia da festa. Fazia muito tempo que não se permitia algo assim.
Lilly puxou sua mão, animada.
— Vem, vamos pegar algo para beber!
Elas foram até a mesa onde havia diversas opções de drinks e refrigerantes. Ayla optou por um suco, enquanto Lilly pegou uma bebida colorida e efervescente.
— Então, Ayla, me conta... O que te trouxe para cá? — perguntou Noah, encostando-se ao balcão improvisado.
Ayla hesitou. Ela não queria revelar muito sobre seu passado.
— Ah, eu só queria um recomeço — respondeu, dando de ombros.
— Entendo... Às vezes, começar do zero é a melhor escolha — disse Jessy, sorrindo de forma compreensiva.
Ayla assentiu, sentindo-se um pouco mais confortável. No entanto, sua tranquilidade não durou muito. Ela sentiu um arrepio familiar percorrer sua nuca. Virando discretamente o rosto, viu Jake a observando do outro lado da sala, um copo na mão e um olhar indecifrável.
Ele era perigoso. Ela sabia disso. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que a intrigava.
Antes que pudesse reagir, Lilly puxou-a para a pista de dança.
— Você precisa dançar!
Ayla riu, permitindo-se relaxar. Ela começou a se movimentar no ritmo da música, sentindo uma leveza que há tempos não experimentava. Mas, em meio à multidão, ela sentiu alguém se aproximando.
— Finalmente resolveu se divertir? — a voz de Jake soou próxima demais ao seu ouvido.
Ayla se virou rapidamente e encontrou-se diante dele, seus olhos escuros brilhando sob as luzes da festa.
— E se eu tivesse? Não é da sua conta, eu não sou sua presa— respondeu, cruzando os braços.
Jake sorriu de canto.
— Relaxa, só estou observando. Você é diferente...
— Diferente como?
Ele deu um passo à frente, reduzindo a distância entre os dois.
— Ainda não descobri. Mas vou descobrir.
Ayla sentiu um calafrio, mas antes que pudesse responder, Lilly apareceu e se colocou entre eles.
— Jake, deixa a garota em paz.
Ele ergueu as mãos em rendição.
— Só estamos conversando, maninha.
— Sei... — Lilly o encarou desconfiada antes de se virar para Ayla. — Vem, quero te apresentar a mais algumas pessoas.
Ayla assentiu rapidamente e deixou que Lilly a puxasse para longe de Jake.
Mas, mesmo à distância, ela ainda sentia o peso do olhar dele sobre ela. Como se ele soubesse que havia algo escondido dentro dela. Algo que ela tentava, a todo custo, manter em segredo.
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Atualizado até capítulo 31
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