Carta de Demissão

Capítulo 5

O dia amanheceu nublado, refletindo perfeitamente o turbilhão de emoções dentro de Helena. Ela passou a noite em claro, repassando tudo o que havia acontecido nos últimos dias. O noivado desfeito, a traição dupla, o constrangimento no ambiente de trabalho… Nada mais fazia sentido para ela ali. Não havia mais motivos para continuar naquela empresa. Precisava ir embora. Precisava recomeçar.

Com as mãos trêmulas, pegou seu computador começou a escrever sua carta de demissão que não havia terminado dia anterior então ela começa a escrever. Cada palavra parecia um golpe no passado que ela queria deixar para trás. Ao terminar, releu o texto várias vezes para ter certeza de que não havia hesitação. Era definitivo. Estava pronta.

Respirou fundo, pegou a folha e caminhou pelo escritório com passos firmes, mesmo que por dentro estivesse desmoronando. Seus colegas de trabalho a observavam de soslaio, talvez curiosos sobre sua decisão. Ela ignorou os olhares e continuou seu caminho até a sala do chefe de setor, onde sabia que encontraria Guilherme.

Sem cerimônias, abriu a porta e entrou. Guilherme estava sentado em sua mesa, revisando alguns papéis. Ao vê-la, ergueu os olhos, surpreso. Antes que ele dissesse qualquer coisa, Helena jogou a folha de demissão sobre a mesa dele.

— O que é isso? — ele perguntou, pegando o papel.

— Minha demissão — respondeu ela com a voz firme, mesmo que por dentro seu coração estivesse disparado.

Guilherme arqueou uma sobrancelha e leu rapidamente o conteúdo. Quando terminou, soltou uma risada baixa e debochada.

— Demissão? Então é assim que você lida com seus problemas? Fugindo? — Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços com um sorriso irônico no rosto.

Helena o encarou por alguns segundos. No passado, essas palavras poderiam tê-la feito duvidar de si mesma. Mas agora, apenas reforçavam sua certeza.

— Isso não é fugir, Guilherme. É me libertar. Eu não tenho mais nada para fazer aqui. — Sua voz saiu fria, controlada, mesmo que uma tempestade se formasse dentro dela.

Sem esperar resposta, virou-se e saiu da sala, sentindo o peso daquele ciclo se encerrando. Seus passos eram apressados, quase como se quisesse sair dali antes que a dor a alcançasse.

Quando chegou ao elevador, viu um grupo de funcionários de outro setor conversando animadamente. O olhar curioso de alguns sobre ela fez seu estômago revirar. Não queria que ninguém visse sua vulnerabilidade. A última coisa que precisava era de mais fofocas sobre sua vida.

Mudou de ideia e optou pelas escadas. A cada degrau que descia, sentia o coração apertar mais. Seu peito pesava, e sua respiração estava descompassada. A vontade de chorar era sufocante, mas ela continuou firme, tentando manter a compostura.

Ao chegar no estacionamento, destravou o carro com mãos trêmulas e entrou rapidamente. Colocou as mãos no volante por um momento, respirando fundo. Sentia-se esgotada. Tudo o que queria era ir para casa e esquecer esse capítulo de sua vida.

Ligou o carro e começou a manobrar para sair. Mas, distraída por seus pensamentos, não percebeu o veículo estacionado logo atrás. O impacto foi forte o suficiente para fazer seu coração disparar ainda mais.

Olhou pelo retrovisor e viu o estrago. Seu carro havia colidido com um veículo de aparência extremamente cara. O nervosismo tomou conta de seu corpo. O que mais poderia dar errado naquele dia?

Desceu do carro rapidamente para avaliar os danos, sentindo o pânico crescer. A lataria do outro carro tinha um amassado considerável. Antes que pudesse pensar no que fazer, ouviu passos se aproximando.

— Espero que tenha um bom motivo para isso — disse uma voz masculina, séria e levemente irritada.

Helena engoliu em seco antes de se virar. A última coisa que precisava era de mais problemas, mas parecia que o destino ainda não tinha terminado com ela.