O tempo passou, e fui me adaptando ao meu novo lar. Suzana se mostrou a mãe mais amorosa que eu poderia pedir, sempre atenta às minhas necessidades e preocupações. Steven, por sua vez, era o melhor pai do mundo — paciente, carinhoso e sempre disposto a ouvir.
Mike era um irmão peculiar. Diagnosticado com autismo de primeiro grau, ele tinha um hiper foco na cor azul e em um jogo que parecia nunca largar, às vezes ele grudava em mim feito chiclete. Apesar de sua arrogância ocasional, nos dávamos bem. Ele tinha seu jeito reservado, mas quando precisava de companhia, sabia que podia contar comigo.
Zeck, no entanto, era diferente. Ele era o meu favorito, sem sombra de dúvida. Apesar da fachada de bad boy, sempre colocou minha segurança e bem-estar acima de tudo. Na escola, enfrentou provocações e até brigas para garantir que ninguém mexesse comigo. Em casa, ele me oferecia um refúgio. Nos meus aniversários, fazia questão de me deixar dormir em seu quarto; assistíamos a filmes e comíamos pipoca até tarde.
Apesar de seu temperamento duro e mal-humorado, Zeck sempre tinha tempo para mim. Comigo, sua rigidez derretia, mostrando um lado mais gentil que ele escondia de todos os outros.
— Zeck... Posso dormir com você hoje? — perguntei enquanto entrava no quarto sem aviso. Ele estava deitado na cama, com os braços cruzados atrás da cabeça. Não respondeu, apenas abriu espaço ao seu lado, um gesto simples, mas acolhedor.
— Obrigada. Hoje foi cansativo no café... Aquela loja estava um caos. — Reclamei, me deitando ao seu lado.
Zeck permaneceu em silêncio por um momento antes de descansar a mão em meu ombro. Ele deslizava os dedos de forma distraída, descendo até minha cintura.
— Zeck... — murmurei, sem entender sua intenção.
— Hm... Ainda se sente provocada por mim, Olívia? — Ele falou com a voz rouca, carregada de algo que não consegui identificar.
A atmosfera ficou densa, e eu permaneci em silêncio, tentando compreender suas palavras.
O quarto estava silencioso, apenas a luz fraca do abajur iluminava nossos rostos.
— Não podemos... — murmurei, me virando para ele, sentindo meu coração acelerar.
— Eu sei... Mas é divertido provocar. — Zeck respondeu com um sorriso malicioso, como se estivesse testando limites.
— Zeck... — murmurei novamente, a voz embargada de nervosismo.
— Está bem, Olívia, calma... Foi um dia cansativo no café? — Ele desviou o olhar, aparentemente tentando aliviar a tensão.
— Sim... — respondi baixinho, mas logo senti sua mão deslizar, ajustando o tecido do meu decote.
— Sério mesmo? — Ele murmurou, agora mais próximo. Não precisei de mais pistas para entender o que estava por vir. Zeck se inclinou, e antes que pudesse reagir, senti seus lábios tocarem os meus. Não o impedi.
Aquele foi o meu primeiro beijo. Com vinte anos e, no fundo, quis que acontecesse. Talvez pela curiosidade de experimentar algo novo, ou pelo vínculo estranho e complexo que construímos com o tempo. Naquela noite, compartilhei mais do que deveria com Zeck, e depois, adormecemos juntos.
Eu sabia que precisaria acordar cedo para trabalhar no café. O café era famoso na cidade e sempre movimentado. Comecei a trabalhar lá logo depois de terminar a escola, graças a uma amiga de Suzana que me ofereceu a vaga.
Mesmo com a rotina agitada, os pesadelos sobre Scorn nunca desapareceram completamente. Eles me perseguiam nas noites silenciosas, lembrando-me de um passado que eu preferia esquecer.
Descobri, com o tempo, que "Scorn" não era apenas o nome da vila, mas uma palavra carregada de significado: desprezo, nojo, algo imundo e detestável. Tudo que aquela vila parecia realmente ser. A mulher que dizia ser minha mãe havia mentido, assim como todos os outros.
Steven, meu pai, continuava a investigar Scorn. Ele encontrou novas pistas, mas nunca as compartilhou comigo. Talvez quisesse me proteger, ou talvez achasse que era melhor eu esquecer.
Mesmo assim, Scorn nunca saiu da minha mente. Era como uma sombra, sempre presente, me lembrando de onde eu vim e do que tentei tanto deixar para trás.
Zeck dormiu abraçado a mim. Nada além de beijos aconteceu naquela noite. Ele já havia deixado claro que não poderíamos ir além, mesmo se quiséssemos. E, pela parte dele, parecia que ele não queria.
Eu sei o que é sexo. Já ouvi histórias e li sobre isso, mas nunca tentei. É algo que ainda parece distante para mim, mesmo com a curiosidade que às vezes surge.
Acordei com Zeck me chamando suavemente.
— Princesa... Acorda. — Sua voz ainda carregava o peso do sono, enquanto ele permanecia deitado ao meu lado, os olhos semicerrados.
— Hm... Só mais vinte minutinhos... — murmurei, me enterrando mais no travesseiro.
— Seu celular já tocou três vezes... — disse ele, visivelmente cansado, mas com um pequeno sorriso de canto.
— Hm... Mas você está tão quentinho... — resmunguei antes de finalmente me obrigar a me sentar na cama, ainda enrolada no cobertor.
— Precisa trabalhar. — Zeck suspirou, fechando os olhos novamente.
— Que saco. Por que você tem uma profissão tão legal e eu não? — reclamei, esfregando os olhos.
— Porque eu tenho uma voz angelical, e você não. — Ele abriu um olho, dando um sorriso zombeteiro antes de se virar para o outro lado. — Agora, me deixa dormir.
Zeck é vocalista de uma banda de rock, a SlipkBigDick, ou simplesmente SBD. Ele vive rodeado de fãs e, às vezes, de confusões, mas Mike sempre está por perto ajudando com os eventos da banda.
— Você é insuportável. — murmurei, inclinando-me para dar um beijo rápido em sua testa antes de sair do quarto.
No banheiro, tirei minha roupa com um bocejo preguiçoso e entrei no chuveiro, deixando a água quente cair sobre meus ombros. Fiquei ali por alguns minutos, tentando despertar totalmente enquanto minha mente vagava sobre o que o dia me reservava no café. Depois de lavar o cabelo e me sentir mais energizada, saí do banho e me enrolei em uma toalha.
De volta ao meu quarto, escolhi uma roupa confortável: saia, uma camiseta simples e meu avental do café. Penteei o cabelo com cuidado, colocando a presilha que sempre uso. Olhei no espelho para me certificar de que estava apresentável e suspirei.
"Pronta para mais um dia", pensei comigo mesma antes de pegar minha mochila e descer para a cozinha.
[...]
A cada passo, a manhã ainda parecia pesar sobre mim. O ar estava fresco, e a brisa leve balançava os fios soltos do meu cabelo enquanto eu caminhava pelas ruas tranquilas em direção ao trabalho. O som das folhas das árvores sussurrava, e o ocasional canto de pássaros era o único barulho ao meu redor.
Meus pensamentos estavam em Zeck, como sempre. Ele era a constante na minha vida, o equilíbrio entre o caos e o conforto. Ainda que fosse óbvio que ele não queria nada além de uma relação fraternal, não conseguia evitar os sentimentos que vinham à tona às vezes. Ele era gentil comigo de uma forma que confundia. Suas provocações maliciosas, os abraços protetores na rua e os gestos sutis de carinho sempre me deixavam em dúvida. Era como se ele não quisesse que ninguém mais se aproximasse de mim. Já perdi a conta de quantas vezes ele afastou pretendentes em potencial, simplesmente por me tratar de forma tão íntima.
"Talvez eu interprete demais," pensei, suspirando enquanto me ajustava ao ritmo da caminhada.
As ruas gradualmente começaram a ganhar vida. Pequenas lojas abriam suas portas, crianças em uniformes escolares corriam às risadas, e um senhor regava as flores no jardim da frente de sua casa. A familiaridade da rotina diária da cidade aquecia meu coração de um jeito estranho. Por mais que sentisse falta da minha antiga vila, esse lugar começou a se tornar lar.
Logo o letreiro do café apareceu à distância. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto. Apesar do trabalho ser cansativo, eu gostava do movimento, das pessoas e, principalmente, da sensação de fazer parte de algo maior. O café era como uma pequena bolha de calor e energia no centro da cidade.
Ao chegar, empurrei a porta de vidro que já estava aberta, ouvindo o tilintar do sino acima dela. Um aroma reconfortante de café recém-moído e pão saindo do forno envolveu meus sentidos. No balcão, Clarisse, minha colega de trabalho, me cumprimentou com um sorriso.
— Bom dia, dorminhoca. Pensei que não fosse chegar hoje. — disse ela, enquanto organizava alguns biscoitos em uma vitrine.
— Dormi um pouco além do normal, mas estou aqui. — sorri, caminhando direto para a cozinha.
Coloquei minha mochila no armário e vesti meu avental. Uma olhada rápida no relógio me fez perceber que estava quase na hora de o fluxo de clientes aumentar. Ajustei minha presilha no cabelo, conferi meu reflexo no pequeno espelho do armário e me preparei mentalmente para mais um dia.
Assim que entrei na cozinha, a movimentação já começava. Paula, a chef responsável pelo turno da manhã, gritou algo sobre um pedido especial, e eu rapidamente comecei a preparar as bebidas. O som do vapor saindo da máquina de café era quase terapêutico, e meus movimentos fluíam naturalmente enquanto preparava um cappuccino e um latte.
— Olívia, mesa cinco pediu um americano duplo. — Clarisse gritou da porta.
— Já estou terminando! — respondi, ajustando a quantidade de água e café.
Com as xícaras prontas, saí da cozinha com a bandeja em mãos. O café já estava começando a encher, e os rostos familiares dos clientes regulares me cumprimentavam com sorrisos.
— Aqui está o seu cappuccino, Dona Marta. — disse, colocando a bebida com cuidado na mesa de uma senhora simpática que vinha todos os dias ler seu jornal.
— Obrigada, querida. Você é sempre tão atenciosa. — respondeu ela, devolvendo o sorriso.
Enquanto voltava para a cozinha, notei um grupo de jovens que havia acabado de entrar. Eles riam alto e ocupavam a mesa no canto. Um deles me olhou por um instante a mais do que o necessário, e eu me senti desconfortável. Essa era outra razão pela qual Zeck sempre insistia em me buscar depois do expediente. Ele dizia que era para minha segurança, mas sabia que era mais uma forma de marcar território.
O fluxo de clientes aumentou conforme a manhã avançava. Entre preparar bebidas, servir mesas e lidar com pequenas confusões – como uma criança que derramou suco em sua mãe – o tempo parecia voar.
Durante meu intervalo, sentei em um banquinho na cozinha, tomando um gole de água e respirando fundo. A rotina era exaustiva, mas havia algo reconfortante nisso. Era um ciclo previsível, diferente do caos de sentimentos que minha mente costumava criar.
Clarisse entrou na cozinha, secando as mãos com um pano.
— Tem um cara lá fora que parece estar esperando você. — ela disse, com um sorriso malicioso.
— Quem? — perguntei, confusa.
— Não sei, mas está de jaqueta de couro e com uma postura de quem não aceita "não" como resposta.
Imediatamente, minha mente foi para Zeck. Ele sempre aparecia com esse ar confiante e meio arrogante. Levantei-me, ajeitei meu avental e caminhei até o balcão.
Lá estava ele, encostado no batente da porta, com os braços cruzados e um sorriso de canto que ele sabia que desarmava qualquer pessoa.
— Hora do almoço, princesa? — perguntou, olhando para mim como se o mundo ao redor não existisse.
Suspirei, sentindo um misto de irritação e alívio.
— Zeck, você sabe que meu intervalo é só daqui a uma hora.
— Sei, mas achei que você gostaria de companhia para o almoço. — disse ele, piscando para mim antes de se virar para sair.
Mesmo com as provocações, ele era uma presença constante e reconfortante na minha vida. E, embora eu nunca admitisse, sempre esperava ansiosamente por esses momentos em que ele aparecia, mesmo que fosse para implicar comigo.
Com um sorriso no rosto, voltei ao trabalho, pronta para enfrentar o resto do dia sabendo que, ao final dele, Zeck estaria lá para me buscar, como sempre.
Uma hora se passou e eu finalmente sairia com ele.
Zeck estava encostado na parede perto da entrada do café, com sua postura despreocupada e aquele sorriso de canto que fazia meu coração dar um pequeno salto. Ele estava especialmente bonito hoje, vestindo sua jaqueta de couro preta que contrastava perfeitamente com sua camiseta branca e o cabelo bagunçado como se tivesse acabado de sair de um show de rock. Eu mal conseguia desviar o olhar dele, mesmo sabendo que deveria.
Respirei fundo para me recompor e caminhei até ele, tentando parecer natural.
— Vamos? — falei, tentando esconder o rubor que insistia em surgir no meu rosto.
Zeck me observou por um momento, aquele brilho provocador nos olhos, e antes que eu pudesse reagir, ele deu um passo à frente e agarrou minha cintura com uma confiança que me deixava sem palavras.
— Zeck! Pare com isso. — protestei, embora minha voz soasse mais como um pedido fraco do que uma ordem.
Ele riu, aproximando-se ainda mais, o calor do toque dele parecia irradiar por todo o meu corpo.
— Eu não acredito que você ainda fica envergonhada com isso, caçulinha. — disse ele, a voz rouca e carregada de um tom divertido que só ele conseguia usar comigo.
Minha vergonha era evidente, mas, no fundo, eu adorava quando ele fazia isso. Era como se ele estivesse me lembrando que, não importa o que acontecesse, eu sempre teria um lugar especial na vida dele. Ainda assim, minha mente me alertava que isso era errado, que eu deveria me afastar, mas meu corpo simplesmente não obedecia.
Zeck sorriu ao perceber minha reação e finalmente soltou minha cintura, mas não antes de deslizar os dedos suavemente pelo tecido do meu avental.
— Ah, ia me esquecendo... Hoje é aniversário da Heather. Não vou poder te buscar depois do trabalho, está bem?
O sorriso no meu rosto vacilou por um segundo. Heather. Claro. Ele vinha saindo com ela há algumas semanas, e embora ele insistisse que não era nada sério, eu não conseguia evitar o ciúme que brotava toda vez que ele a mencionava.
— Ah, tudo bem. — respondi, tentando soar casual enquanto arrumava uma mecha de cabelo atrás da orelha para disfarçar o incômodo.
— Até que enfim. Pensei que fosse me deixar aqui mofando. — provocou, estendendo a mão para pegar minha bolsa e carregá-la.
— Você sabe que não precisava esperar, não é? — retruquei, embora a verdade fosse que eu adorava quando ele fazia essas pequenas gentilezas.
— Claro que precisava. Sou seu irmão mais velho, lembra? É meu dever cuidar de você. — Ele piscou para mim, e eu revirei os olhos, mas não pude deixar de sorrir.
Fomos caminhando juntos pela calçada, lado a lado. O ar fresco do meio-dia era revigorante, e o sol brilhava entre as folhas das árvores, criando pequenos pontos de luz no chão. Zeck tinha sugerido um restaurante novo que havia aberto há algumas semanas, um lugar com um ar moderno e descontraído.
Ao chegarmos, ele segurou a porta para mim, um gesto que me fez sentir uma leve pontada de calor no peito. Entramos, e o ambiente era acolhedor, com paredes de tijolos aparentes, mesas de madeira escura e luzes penduradas que criavam um clima aconchegante.
— Gostou do lugar? — perguntou Zeck, enquanto escolhíamos uma mesa perto da janela.
— Sim, é bem bonito. — respondi, olhando ao redor.
Sentamos, e logo o garçom trouxe os cardápios. Zeck, como sempre, escolheu algo rápido e simples, enquanto eu passei mais tempo indecisa.
— Se demorar muito, vou pedir pra você. — brincou ele, apoiando o queixo na mão e me olhando com aquele olhar paciente e divertido.
— Já escolhi, já escolhi! — apressei-me a dizer, finalmente decidindo por um prato de massa.
Enquanto esperávamos a comida, conversamos sobre o meu trabalho no café, os eventos da banda dele e, inevitavelmente, Heather.
— Então, o que vocês vão fazer no aniversário dela? — perguntei, tentando soar casual.
— Nada demais. Ela quer jantar com algumas pessoas. Só vou aparecer e dar parabéns. — respondeu ele, distraído, mexendo no copo de água.
Minha vontade era perguntar mais, mas engoli as palavras. Não queria parecer interessada demais.
A comida chegou, interrompendo meus pensamentos. Conversamos enquanto comíamos, Zeck alternando entre piadas e histórias engraçadas sobre os shows da banda. Eu ria, tentando ignorar o incômodo que surgia toda vez que Heather aparecia na conversa.
Quando terminamos, Zeck insistiu em pagar a conta, como sempre.
— Você trabalha duro demais naquele café. Esse é por minha conta. — disse, enquanto puxava a carteira.
Saímos do restaurante, o sol ainda brilhando alto. Ele jogou o braço sobre meus ombros enquanto caminhávamos de volta, como fazia desde que éramos mais novos.
— Obrigada pelo almoço, Zeck. Foi divertido.
— Sempre é, caçulinha. — respondeu, apertando meu ombro de leve antes de me soltar.
Zeck e eu caminhávamos lado a lado, o silêncio entre nós mais pesado do que o habitual. Eu não conseguia mais segurar a pergunta que estava martelando na minha mente. Finalmente, respirei fundo e tomei coragem.
— Zeck... Posso te perguntar uma coisa? — minha voz saiu hesitante, quase um sussurro.
Ele virou o rosto para me olhar, uma sobrancelha arqueada em curiosidade.
— Claro, manda ver, caçulinha.
— É que... Me sinto meio confusa com a gente... — comecei, sentindo meu coração acelerar. — Você age como um namorado. Sempre estamos juntos, você me beija... Mas por que a gente não pode ter algo mais?
Zeck parou de andar por um momento, esfregando a nuca, claramente desconfortável com o rumo da conversa. Ele soltou um suspiro longo antes de responder.
— Porque somos irmãos, Olívia. — disse ele, com um tom direto, mas não ríspido.
Senti meu rosto esquentar, mas continuei:
— Eu sei disso, mas... Eu gosto de você. Gosto mesmo, de verdade.
Ele desviou o olhar por um momento antes de voltar a me encarar.
— Olívia, eu também gosto de você. Muito. Mas não é assim, entende? Não é um amor romântico. Isso que a gente tem... É só um lance, nada além disso.
As palavras dele atingiram como um soco no estômago. Eu forcei um sorriso, tentando esconder o aperto que sentia no peito.
— Entendo... — murmurei, embora não fosse totalmente verdade. — Só estava confusa, só isso.
Ele me olhou por mais alguns segundos, parecendo querer dizer algo mais, mas optou por apenas acenar com a cabeça.
— Vamos voltar logo, não quero me atrasar.
— Claro. — Ele sorriu, voltando a caminhar ao meu lado como se nada tivesse acontecido.
Enquanto seguíamos de volta ao café, meus pensamentos estavam em turbilhão. Eu me sentia constrangida e, acima de tudo, profundamente decepcionada. Eu havia interpretado tudo errado. Zeck não sentia o mesmo por mim, apesar dos beijos, dos abraços e das provocações. Ele apenas me tratava com muito carinho, algo que eu confundi com algo mais.
Mas então, e o Mike? Ele também me beijou... Será que foi só por beijar, sem sentimento algum? A dúvida era quase insuportável. Talvez eu devesse contar à mamãe, talvez ela pudesse me explicar. Droga, por que ninguém nunca me explica nada? Tudo sempre parece um grande enigma.
Chegamos ao café, e eu só percebi isso quando já estávamos na frente da porta. Estava tão perdida em meus pensamentos que nem notei o caminho de volta.
Zeck me abraçou, mas suas mãos, como de costume, não ficaram apenas nas minhas costas. Ele deslizou até a minha cintura e apertou minha bunda com firmeza, arrancando de mim um pequeno arfar involuntário.
— Até depois, Zeck. — murmurei, minha voz quase não saindo.
Ele riu, satisfeito com minha reação, e deu um tapinha de leve na minha cintura.
— Até, caçulinha.
Eu entrei no café ainda sentindo o peso do abraço, tentando ignorar a confusão de sentimentos que ele havia deixado para trás.
O final do expediente chegou mais rápido do que eu imaginava. A noite já havia caído, e o ar fresco carregava um leve aroma de café e flores das ruas próximas. Enquanto colocava as últimas caixas de encomendas para dentro do café, não conseguia evitar a distração. Meus pensamentos giravam em torno dos meus sentimentos confusos. Zeck. Mike. Cada gesto deles me deixava em conflito. Especialmente Zeck.
Eu suspirei, tentando afastar as ideias desconfortáveis da mente enquanto ajustava a última caixa na prateleira. Estava sozinha, responsável por fechar a loja. As luzes da rua iluminavam fracamente o ambiente, e a única companhia era o som distante de carros e risadas de um grupo que passava pelo outro lado da rua.
Fechei a porta de vidro do café e dei a volta para pegar o restante das encomendas que estavam do lado de fora. Enquanto me abaixava para pegar uma das caixas menores, um arrepio percorreu minha espinha, um sentimento estranho de estar sendo observada.
De repente, uma voz cortou o silêncio:
— Olívia.
Meu corpo inteiro congelou, e por um instante, o mundo pareceu parar. Era uma voz grave e envolvente, suave como uma melodia, mas carregada de um peso que fazia meu coração acelerar. O som parecia me chamar, não apenas pelo nome, mas por algo mais profundo, algo além de mim.
Levantei-me lentamente, meus olhos se arregalando enquanto eu me virava. Foi então que o vi.
Ele estava ali, parado sob o poste de luz mais próximo. A iluminação tênue criava sombras em seu rosto, mas seus olhos brilhavam intensamente, um contraste assombroso com a escuridão ao redor. O aroma doce que o acompanhava chegou até mim antes que pudesse entender o que estava acontecendo. Ele não precisava de apresentações. Eu sabia quem era, mesmo antes de a lógica tentar processar.
— Você... — minha voz saiu em um sussurro, quase inaudível, mas cheia de espanto.
Ali estava ele, o homem que eu havia sonhado tantas vezes. O homem que parecia ter a resposta para todas as perguntas que me perseguiam desde que saí de Scorn. O homem que eu sabia, no fundo da minha alma, que era o mágico que eu tanto procurei.
Seu sorriso foi lento e calculado, como se ele esperasse pacientemente por esse momento.
— Olívia... Finalmente. — A forma como ele pronunciou meu nome fez meu coração saltar.
Meus joelhos ameaçaram ceder, mas me forcei a ficar firme, mesmo enquanto sentia minha respiração acelerar. Não sabia o que dizer. Não sabia o que fazer. Ele estava ali, e minha vida nunca mais seria a mesma.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Williane Paiva
é muito uma sena de amor doce
2025-01-30
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