Cap 14

Fomos para casa, e eu estava animada com os materiais, queria mostrar aos meninos. Corri pela casa e fui direto ao quarto do Mike, entrando sem bater.

Ao abrir a porta, me deparei com ele beijando uma menina de cabelos pretos com mechas vermelhas.

— Oh... Eu... Me desculpe... Eu não... — comecei a dizer, mas fui interrompida por Mike.

— Cai fora, caralho! — gritou ele, me empurrando para fora do quarto com tanta força que tropecei e bati a cabeça na parede.

— Ai! — exclamei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Meu choro alto chamou atenção.

— Que porra tá acontecendo? Por que tá chorando? — disse Zeck, saindo do seu quarto com um olhar confuso. Quando viu o estado em que eu estava, ele imediatamente olhou para dentro do quarto do Mike e viu a cena.

— Zeck... — murmurou a garota, claramente nervosa.

Zeck gelou por um segundo, mas logo seu rosto endureceu.

— Seu autista filho da puta! — rosnou Zeck, avançando com tudo em direção ao irmão.

Zeck agarrou Mike pela gola da camisa, quase o levantando do chão.

— Tá achando que isso aqui é o quê, seu desgraçado? — vociferou Zeck, com o rosto a centímetros do irmão.

— Me larga, porra! — Mike tentou se soltar, mas Zeck era mais forte.

— Você tava com a Mandy? Minha Mandy? — Zeck rugiu, furioso.

— Ela não é só sua, otário! — provocou Mike, com um sorriso debochado, o que fez Zeck perder o controle.

O primeiro soco veio rápido, atingindo Mike no queixo, mas ele reagiu, empurrando Zeck contra a parede.

— PARA COM ISSO! — gritei, assustada, mas eles estavam completamente focados na briga.

Os sons de móveis sendo arrastados e golpes ecoavam pela casa. Suzana surgiu correndo pelo corredor.

— O que tá acontecendo aqui?! — ela gritou, separando os dois. — Vocês estão malucos?!

Mike estava com o lábio cortado e Zeck tinha a camisa rasgada, ambos respirando pesado e trocando olhares cheios de ódio.

— Ele é um traidor, mãe! — Zeck gritou.

— E você é um idiota que não sabe que ela já tava cansada de você! — rebateu Mike.

— CHEGA! — Suzana gritou, sua voz cortando o caos. — Os dois, pro quarto agora! Vou resolver isso depois!

Ela me ajudou a levantar do chão, conferindo minha cabeça.

— Você está bem, querida? — perguntou Suzana, com preocupação.

— Sim, só machucou um pouquinho — murmurei, ainda assustada.

Ela suspirou, me abraçando forte.

— Que se foda. — Zeck saiu do quarto e foi para o seu batendo a porta.

Ao me acalmar, fui até o quarto do Zeck, sentindo que ele devia estar triste com tudo o que aconteceu.

Abri a porta sem bater, e para minha surpresa, ele estava sentado jogando videogame, como se nada tivesse acontecido.

— Zeck, você está bem? — perguntei em voz baixa, parando perto da porta.

— Claro que sim. Mandy não valia nada mesmo. — Ele respondeu sem tirar os olhos da tela. — E você? Tá tudo bem com sua cabeça?

— Tem um galinho, mas a mamãe disse que vai por gelo depois.

— Hm... — Ele resmungou, ainda focado no jogo.

— Não precisa se preocupar com sua reputação amanhã. Eu prometo me comportar direitinho e não dar trabalho na escola. — Falei, segurando minha mochila, querendo mostrar os materiais novos, mas decidi não insistir.

Sem resposta, saí do quarto e fui para o meu, tentando deixar aquele dia confuso para trás.

Depois de um dia tão cheio, voltei para o meu quarto com um misto de emoções. A mochila nova estava ao lado da cama, e eu não resisti em abri-la mais uma vez para admirar os materiais escolares. Passei os dedos pelos cadernos com capas coloridas, organizando tudo cuidadosamente, como se estivesse me preparando para um grande evento.

Deitei na cama, puxando o cobertor macio que Suzana havia dobrado mais cedo. O cheiro do amaciante era reconfortante. Fechei os olhos por um momento, imaginando como seria o primeiro dia na nova escola. Será que eu faria amigos? Será que os professores seriam gentis?

Mesmo com essas dúvidas, um sorriso tímido apareceu no meu rosto. Havia uma mistura de ansiedade e entusiasmo que era difícil de controlar. Abracei o travesseiro, tentando acalmar meu coração acelerado, e depois de alguns minutos de pensamentos agitados, o cansaço venceu.

Eu finalmente adormeci, sonhando com um mundo onde tudo parecia novo e cheio de possibilidades.

O grande dia finalmente chegou. Eu estava nervosa e ansiosa, sentindo um friozinho na barriga enquanto olhava para o relógio. Zeck e Mike continuavam se tratando com indiferença, o que deixava o café da manhã em um silêncio desconfortável. Suzana e Steven já haviam saído cedo, então caberia aos meninos me levarem à escola.

— Anda logo e termina de comer — apressou Mike, sem sequer me olhar direito.

Engoli as torradas o mais rápido que pude, quase engasgando ao tomar meu iogurte de um gole só.

— Pronta? — perguntou Zeck, se levantando da mesa.

— Sim! — respondi, tentando parecer mais animada do que realmente estava.

Saímos de casa juntos, com o sol ainda tímido no céu. Mike ia à frente, com as mãos nos bolsos e o rosto fechado, parecendo irritado com o mundo. Zeck caminhava ao meu lado, com o celular na mão e os fones nos ouvidos, completamente alheio à conversa — ou falta dela. Eu seguia no meio dos dois, tentando acompanhar o passo rápido deles.

As ruas estavam movimentadas, com crianças acompanhadas de seus pais e outros adolescentes andando em grupos animados. Eu me sentia deslocada, como se carregasse um enorme letreiro que dizia "nova aqui".

— Vocês sempre andam assim tão calados? — perguntei, quebrando o silêncio.

— Não temos nada pra conversar — respondeu Mike de forma seca, sem sequer olhar para trás.

— Ele é sempre assim — disse Zeck, tirando um dos fones e me lançando um olhar de canto. — Ignora.

Continuei caminhando, observando as casas e as pessoas ao redor. Era tudo tão diferente de Scorn, tão vivo e movimentado. Não sabia o que esperar da escola, mas ao mesmo tempo, havia algo emocionante em descobrir.

Chegamos ao portão da escola, que era enorme, com grades pintadas de azul e um letreiro desgastado indicando o nome do colégio. Um fluxo constante de alunos passava por ali, conversando e rindo, enquanto eu me sentia um pouco perdida no meio daquela multidão. O pátio era amplo, com bancos, árvores pequenas e uma quadra ao fundo, onde alguns meninos jogavam bola antes do sinal tocar.

Zeck parou abruptamente no meio do pátio e se virou para mim:

— Anda, vai procurar a sua sala. O papel que a mãe te deu diz "1°A". — Ele parecia ansioso para se livrar da minha companhia.

— Está bem... Onde você vai? — perguntei, segurando firme a alça da minha mochila. Mike já havia desaparecido no meio dos outros alunos.

— Vou para a minha sala, "9°B". É a última sala do corredor. — Ele apontou vagamente para um prédio à direita. — Boa sorte, pirralha.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Zeck virou-se e saiu andando, os fones voltando aos seus ouvidos. Fiquei parada por alguns segundos, olhando para o papel com as instruções que Suzana tinha me dado. "1°A", dizia a anotação, mas eu não tinha ideia de onde aquilo ficava.

Olhei ao redor, tentando decifrar o mapa do colégio em minha mente. Havia uma placa indicando os prédios: "Ensino Fundamental" ficava à esquerda, enquanto "Ensino Médio" era para onde Zeck tinha ido. Respirei fundo e segui para o lado esquerdo, atravessando outro pequeno pátio cheio de alunos que conversavam em grupos.

O corredor principal era amplo, com armários pintados de verde ao longo das paredes e portas com placas indicando as turmas. Os números começavam do "6°" para cima, o que me fez perceber que eu tinha que voltar ao corredor menor, mais próximo à entrada.

Finalmente, vi uma porta com a placa "1°A". Parei por um momento, tentando controlar o nervosismo que borbulhava dentro de mim. Ajustei minha mochila e empurrei a porta, entrando na sala com passos hesitantes.

A sala era iluminada, com janelas amplas que deixavam o sol da manhã entrar, refletindo nos quadros brancos e nos cartazes educativos nas paredes. O cheiro de livros velhos misturado ao de giz estava no ar. As carteiras estavam organizadas em fileiras, algumas rabiscadas com desenhos e frases feitas por alunos anteriores.

Logo ao entrar, um homem de cabelos grisalhos e óculos finos olhou para mim por cima de seus papéis. Ele tinha um sorriso acolhedor.

— Bom dia, querida. — disse ele calmamente. — É a novata?

— Sim... — respondi, tentando não parecer tão nervosa quanto me sentia.

Ele pegou uma folha na mesa e analisou com atenção.

— Vejamos... Olívia. — Ele fez uma pausa, franzindo o cenho. — Somente isso? Não tem um complemento no nome?

Engoli em seco, lembrando que sempre fui apenas "Olívia".

— Só me chamo Olívia... Você tem outro nome além do seu? — rebati, tentando esconder o desconforto.

O professor ergueu as sobrancelhas, surpreso com a pergunta, mas sorriu gentilmente.

— Sim, todos nós temos... Mas está tudo bem, querida. Pode se sentar onde quiser.

Olhei em volta e vi uma carteira vazia próxima à janela, em uma das últimas fileiras. Fui até ela, tentando ignorar os olhares curiosos dos outros alunos. Sentei-me devagar, colocando minha mochila no gancho ao lado da cadeira, enquanto tentava respirar fundo.

Os olhares não cessavam. Eu podia sentir a pressão de dezenas de olhos em mim, analisando minha roupa, meu cabelo, minha presença. Alguns cochichavam entre si, enquanto outros apenas olhavam com curiosidade ou desprezo.

— Vamos continuar o trabalho que passei ontem — anunciou o professor, interrompendo meus pensamentos. — Ele está valendo nota, então é muito importante. Alguém descobriu o valor de X?

Olhei para o quadro, tentando entender o que ele dizia. Lá estava uma equação complicada escrita em giz branco. Diferente do que aprendíamos em Scorn, que eram lições básicas e manuais, aquilo parecia... avançado demais.

"Do que ele está falando?" pensei, frustrada. O nervosismo tomou conta, e minha mente parecia embaralhada.

Enquanto eu tentava me concentrar, ouvi um sussurro vindo de trás:

— Ei, garota. — sibilou alguém.

Antes que eu pudesse me virar, senti uma bolinha de papel atingir minha cabeça.

— Olívia, pegou essa presilha da sua vovó? — zombou um garoto aleatório, arrancando risadas dos colegas próximos.

O sangue subiu ao meu rosto de vergonha. Toquei minha presilha instintivamente, a mesma que Suzana havia colocado com carinho naquela manhã.

Pensei em Boby, o garoto de Scorn que fazia questão de implicar comigo em qualquer oportunidade. E agora, aqui estava outra versão dele, com o mesmo comportamento.

Suspirei fundo, frustrada. O dia mal começara, e eu já sentia saudades de casa.

A sala de aula parecia congelar no momento em que senti o puxão no meu cabelo. Um calafrio percorreu meu corpo, e, antes que eu entendesse o que acontecia, minha presilha havia desaparecido. Era como se tivessem arrancado algo precioso de mim.

— Minha presilha! — gritei, a voz falhando no desespero.

Virei-me para encarar quem havia cometido aquela injustiça. Era uma garota alta, de cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, com um sorriso malicioso no rosto. Ela segurava minha presilha como se fosse um troféu e a colocou em seu próprio cabelo, exibindo-se para os colegas ao redor.

— Olha que coisa... Ridícula. — disse ela, zombando. Suas palavras foram como facas, cortando qualquer segurança que eu pudesse ter.

— Devolva! — implorei, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos enquanto escorriam. Meu coração parecia prestes a explodir. Aquela presilha não era apenas um acessório; era um presente especial, algo que ganhei do senhor mágico, algo do mundo dos sonhos.

O professor, distraído com os papéis na mesa, finalmente notou a confusão.

— O que está acontecendo aí atrás? — ele perguntou, a voz firme.

Antes que alguém pudesse responder, uma rajada de vento atravessou a sala, vindo da janela aberta. Foi tão forte que os papéis sobre as mesas voaram pelo ar, algumas cadeiras até balançaram. O barulho abafou qualquer outra coisa naquele momento.

Aproveitando o caos, avancei para cima da garota com toda a determinação que consegui reunir.

— Me devolve! — gritei, agarrando a presilha que estava presa em seu cabelo.

— Larga, sua louca! — ela gritou de volta, tentando me empurrar. Suas unhas arranharam meus braços, mas eu não cedi. Ela me deu um tapa forte no rosto, fazendo minha bochecha arder instantaneamente. Mas a dor foi ignorada. Eu precisava recuperar minha presilha.

Com um último puxão, consegui tirá-la do cabelo dela. Segurei-a contra o peito, sentindo um alívio quase imediato. O professor se levantou bruscamente, apontando para a garota.

— Agatha! Que coisa feia fazer isso com a coleguinha. Nunca mais faça algo assim! — repreendeu ele com severidade.

As risadas cessaram, mas eu não consegui ficar ali. Os olhares e cochichos eram esmagadores. Com lágrimas escorrendo livremente, corri para fora da sala, segurando minha presilha como se fosse um escudo.

O corredor estava vazio, mas ecoava meus passos apressados e soluços abafados. Coloquei a presilha de volta no cabelo, sentindo-me um pouco mais completa, mas o vazio dentro de mim ainda era grande. Queria conforto, queria alguém que me entendesse.

A única pessoa que veio à mente foi Zeck. Ele era áspero, mas ultimamente parecia ser o único a se importar comigo. Corri pelos corredores, tentando lembrar onde ficava a sala dele. Meu rosto ainda ardia, e os soluços escapavam mesmo quando eu tentava segurá-los.

Ao virar um corredor, trombei com um grupo de garotos. Eles estavam rindo, as vozes preenchendo o espaço. No meio deles, reconheci Zeck imediatamente. Ele caminhava casualmente, um sorriso no rosto enquanto conversava com os amigos.

Sem pensar, corri até ele, ignorando os olhares curiosos dos outros.

— Zeck! — chamei, minha voz tremendo, cheia de emoção e desespero.

Ele parou, confuso. Seus amigos olharam de mim para ele, trocando olhares surpresos. Zeck estreitou os olhos, percebendo que algo estava errado.

— Olívia? O que aconteceu? — perguntou, a voz baixa, mas preocupada.

Me joguei nos braços dele, agarrando sua camisa com força enquanto chorava descontroladamente. Por um momento, ele pareceu hesitar, mas logo colocou uma mão nas minhas costas, tentando me acalmar.

— Calma aí, pirralha. O que foi? — murmurou ele, mais sério agora.

Eu mal conseguia falar, apontando para o meu cabelo e tentando explicar o que tinha acontecido entre os soluços. Seus amigos começaram a cochichar, mas Zeck levantou o olhar, lançando um olhar severo para eles, que rapidamente se afastaram, respeitando o momento.

— Quem fez isso? — ele perguntou, a voz firme.

Eu não consegui responder de imediato, mas sabia que Zeck não deixaria isso passar.

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